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Vista aérea da Vila Capanema, a nova casa do Atletiba | Walter Alves/ Gazeta do Povo
Vista aérea da Vila Capanema, a nova casa do Atletiba| Foto: Walter Alves/ Gazeta do Povo
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Memória

Atletiba na preliminar da Vila

"Os poucos torcedores do Coritiba que foram ontem à tarde à Vila Capanema saíram felizes...". Assim começava a reportagem da Gazeta do Povo de 23/1/77 depois do último Atletiba na casa paranista, vencido pelo Coxa por 3 a 1. Após 35 anos a dupla volta a jogar hoje no estádio, às 19h30. Como o clássico estará restrito apenas à torcida atleticana, desta vez nem "os poucos" alviverdes estarão na arquibancada.

As mudanças não param por aí. Na ocasião o Atletiba era a prévia de uma rodada dupla que tinha Pinheiros e Colorado, embriões do Paraná, como confronto principal. Hoje, com o Tricolor na Segunda Divisão, o encontro não só é o maior como o único clássico entre times da capital neste Estadual.

O embate no começo de 1977 valia pela IV Taça Cidade de Curitiba, ou Taça Clemente Comandulli. Jornalista com passagens pelos jornais Paraná Esportivo e Gazeta do Povo, o homenageado tinha falecido um pouco mais de um ano antes. No torneio as quatro equipes enfrentavam-se entre si, com todos os jogos no Durival Britto e Silva, o que acabou com o Pinheiros campeão. No Atletiba da Vila, Rotta abriu o placar para os rubro-negros, mas Washinton e Luizinho (duas vezes) garantiram a vitória do Coritiba.

O ex-zagueiro atleticano Alfredo Gottardi estava presente e lembra muito pouco deste clássico. "Era início de temporada. Este era um torneio que chamavam de caça-níquel, mas na verdade não caçava nada", brinca. Cerca de quatro mil pessoas pagaram ingresso naquela oportunidade.

Porém, um lance em especial Gottardi recorda-se bem. O lateral Ladinho, do Furacão, chutou a bola pelo lado de fora da rede e o árbitro assinalou o gol. A comemoração durou pouco, já que o auxiliar viu a irregularidade. "Nem reclamamos porque sabíamos que tinha ido por fora", assume.

Do lado coxa- branca, o ex-ponta esquerda Aladim também não lembrava do último clássico na Vila Capanema. "Nós começávamos o ano mal fisicamente. Era complicado para os treinadores, como será também para o Marcelo Oliveira e o [Juan Ramón] Carrasco. Mas a gente jogava", conta. Segundo o hoje vereador do Partido Verde (PV), Luizinho, o herói daquele confronto, hoje é treinador na Guatemala.

O ex-jogador citou mais uma coisa que mudou nestes 35 anos. "O campo do Ferroviário [originário do Colorado] era um dos melhores da época."

No total, entre 1947 e 1977, foram realizados 16 Atletibas na Vila Capanema, com oito vitórias do Coritiba, três empates e cinco triunfos do Atlético. A maior goleada do confronto (6 a 0 para o Coxa, em 1959) e o famoso jogo, em 1968, que Paulo Vecchio garantiu o título estadual para o Alviverde ao empatar nos acréscimos fazem parte desta história que hoje terá mais um capítulo.

Robson Martins

Atlético e Coritiba se enfrentam, às 19h30, na Vila Capanema, em jogo decisivo, mas ao mesmo tempo marcado pela presença de torcida única – fato inédito na história do clássico.

A partida reúne os dois primeiros colocados do torneio com a possibilidade de definir antecipadamente o título do primeiro turno do Paranaense e a vaga para a final da competição.

Uma derrota do Cianorte para o Londrina – duelo das 22 horas – e uma vitória no clássico é o suficiente para o Furacão. Se a combinação for com um triunfo do Coxa, este só precisaria de um empate na última rodada.

Mas a importância técnica do confronto ficou em segundo plano diante da tática antiviolência: impedir a presença de alviverdes na arquibancada do Durival Britto – apenas atleticanos no estádio.

Após a diretoria do Atlético propor a ação, através do presidente Mario Celso Petraglia, veio o ok do Coritiba e, para fechar, argumentos favoráveis da Polícia Militar. O fato de o duelo ser em uma Quarta-Feira de Cinzas, logo depois do carnaval, dificultaria o trabalho dos agentes de segurança. O parecer positivo do Ministério Público (MP) fechou a questão – e também elevou a polêmica. Ontem o órgão emitiu um parecer revoltado com a decisão.

"Rasga-se o Estatuto do Tor­ce­­dor, diante da impossibilidade de o estado dar segurança aos torcedores", diz o texto assinado pela promotora Stella Maria Burda. "É lamentável que situações como esta ocorram em um país, e o que é pior, em uma capital, que pretende, em breve, sediar (sic) jogos de futebol da Copa do Mundo", também traz a mensagem do MP.

Especialistas em segurança pú­­blica ouvidos pela Gazeta do Povo consideram a atitude prejudicial.

"A medida acaba com o futebol. A participação da torcida compõe o jogo e é a parte mais legal da partida", diz o coordenador do Grupo de Estudos de Futebol e Sociedade da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Luiz Carlos Ribeiro.

O coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da UFPR, Pedro Bodê, considera a ideia lamentável. "Daqui a pouco vai ter jogos sem torcida no estádio e com pessoas sem sair de casa, em toque de recolher", comenta.

"Não acho uma saída interessante. É uma medida simplória para um problema grave, que é a violência nos estádios, e contribui para que as torcidas combinem encontros para brigas pela internet", afirma o antropólogo da Uni­­ver­­sidade do Estado do Rio de Ja­­neiro (Uerj) e especialista em estudos sobre futebol e violência, Rodrigo Monteiro.

Os treinadores dos dois times também não passaram alheios ao problema. Eles encaram de formas diferentes a novidade de ter torcida única.

"É importante que a torcida seja toda do Atlético porque para o jogador é um extra", diz o técnico rubro-negro, Juan Ramon Car­­rasco. "A tradição do clássico permitiria duas torcidas, todo mundo ali vibrando com seu time, empurrando e apoiando, o que seria o ideal para um jogo como esse", analisa o comandante do Coritiba, Marcelo Oliveira.

O Alviverde entra em campo para defender vários tabus. Ontem o Coritiba completou dois anos sem perder no Para­­naense, um total de 42 partidas de invencibilidade. A última derrota para o Atlético no Estadual foi em 2008.

Mesmo com todo esse currículo, o sentimento no Alto da Glória é de revanche pelo último encontro entre os dois, pelo Brasileirão do ano passado. A vitória do Furacão por 1 a 0 não livrou o time do rebaixamento, mas tirou as chances do rival de se classificar à Libertadores

"Precisamos fazer diferente. Este ano é uma nova história, uma situação diferente. Fica bem claro que naquele momento o Atlético tinha uma situação inferior a nossa, um rebaixamento, e mesmo assim ganhou o jogo. Então toda prudência, toda determinação e toda atenção no jogo nunca será demais", fecha Oliveira.

Colaboraram Marcio Reinecken, Gustavo Ribeiro e Robson Martins.

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