Vitor em treino do Londrina, clube que defendeu até o último dia 10.| Foto: Gilberto Abelha/Jornal de Londrina

O goleiro Vitor era ídolo do Londrina. Em ascensão até o ano passado, chegou a despertar inclusive o interesse de outras equipes. A decisão de se aprofundar na vida religiosa, não praticando atividades entre o pôr do sol de sexta-feira e o de sábado, afetou drasticamente a carreira do atleta. Ainda em busca de uma camisa para defender em 2016, ele admite a possibilidade de deixar os gramados e virar comerciante na Bahia, onde tem muitos familiares.

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“Vou tocar minha vida. Não é a primeira vez que fico desempregado. Antes de ir para o Londrina, vendíamos carteiras e bolsas. Deus me supriu. Nunca faltou nada e até sobrava”, afirma, sem ressentimentos, o ex-camisa 1 do Tubarão, cujo contrato não foi renovado após o Paranaense justamente pela intenção de guardar os sábados. “Sempre chega a hora de um jogador se aposentar. Se isso acontecer comigo agora, só vou antecipar o fim da carreira”, ressalta o carioca de 30 anos, cujo plano B inclui ainda cursar uma faculdade.

Seguidor da Igreja Adventista do Sétimo Dia há quatro anos, Carlos Vitor da Costa Ressurreição ainda não desistiu de jogar futebol. “Hoje, na Série A, a maioria dos jogos ocorre no meio da semana, no domingo ou na noite de sábado. Geralmente, não tem muita atividade nas tardes de sábado. Ocorre um rachão ou descanso antes da partida”, justifica o goleiro. O caminho, porém, não tem sido fácil desde que ele tomou a decisão de seguir de maneira rigorosa a doutrina.

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No início da temporada, uma negociação com a Chapecoense para disputar a Primeira Divisão esfriou por causa da limitação criada pelo caminho religioso. O mesmo ocorreu em uma sondagem do Atlético-MG e de um clube da França.“É uma decisão minha e sei que isso implicaria em muitas consequências. É lógico que gostaria de seguir jogando, mas entendo o posicionamento deles [ do clube].”

Obstáculos que começaram no fim do ano passado, quando resolveu vivenciar a fé com mais afinco, se batizando e dando ênfase ao estudo da Bíblia. “Decidi obedecer os Dez Mandamentos do Senhor. Entendi a importância e o significado de guardar o sábado, que é um dia para ficar com a família e adorar a Deus. Infelizmente, isso vai contra ao sistema de trabalho do futebol”, explica.

Por ora, a última recordação do goleiro como jogador profissional ocorreu no último dia 10. Reserva de Marcelo Rangel, para quem perdeu a posição depois de anunciar que não atuaria mais aos sábados, ele foi homenageado pelo Londrina e pelo elenco. O time entrou em campo contra o Cruzeiro, pela Copa do Brasil, com os dizeres “Obrigado Vitor” nas camisas. Do gestor do clube ainda ganhou uma placa pelos feitos alcançados com o uniforme alviceleste.

Mesmo agradecido pelo carinho e pela oportunidade no Tubarão, diz ter ficado triste com pessoas que criticaram sua escolha: “Sobre minha vida particular, não devo explicações a ninguém. Como sou jogador, se sentem no direito de omitir opiniões sobre minhas escolhas. Mas quando fiquei quatro meses sem dinheiro para pagar as contas, não foram eles que me ligaram para oferecer algum tipo de ajuda”, declara.

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Trajetória de sucesso

Carioca revelado pelo Vitória, Vítor passou por outros nove clubes antes de chegar ao Londrina: Ponte Preta , Joinville, Portuguesa, Atlético- GO, Bragantino, ABC, Arapongas , São José-RS e Novo Hamburgo. O goleiro chegou ao Tubarão em dezembro de 2013 com a difícil missão de substituir Danilo – atualmente na Chapecoense –, considerado um dos ídolos da torcida. Vitor deu conta do recado e logo no primeiro ano ajudou o Tubarão a conquistar o Paranaense de 2014 – com direito a defesa de pênalti na decisão com o Maringá – e o acesso para a Série C do Brasileiro.

Ano passado, o goleiro voltou a operar “milagres” em campo, garantindo o título do interior e o acesso para a Série B do Brasileirão. Foi eleito o melhor goleiro do Estadual – na votação realizada pela Gazeta do Povo – e da Série C – na eleição feita pela União Nacional das Entidades de Futebol do Brasil (Unefut).

Na temporada de 2015, jogou 42 vezes, ficando de fora de apenas uma partida – contra o Tupi –, por suspensão. Já este ano, só jogou duas vezes pela Copa do Brasil, não sofrendo gols diante do Parauapebas-PA.