Elias foi vítima de injúria racial na última quarta-feira.| Foto: PAULO WHITAKER/REUTERS

O caso de racismo sofrido pelo meia Elias, do Corinthians, na última quarta-feira (1.º), contra o uruguaio Danubio, pela Libertadores, deixou ainda mais evidente um problema muito discutido desde o ano passado. Não foi à toa que no último mês foi publicado o Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol com relatos dos 20 casos registrados no país em 2014 e uma conclusão: enquanto a punição não for maior e as vítimas não desistirem de levar as denúncias até o fim, o futebol não se livrará dessa mazela.

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No estudo, organizado pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol, estão desde casos famosos, como o envolvendo o goleiro Aranha, ex-Santos, na Arena do Grêmio, até do jogador Oliveira, do Estanciano de Sergipe, que reagiu a ofensas com um soco e foi o único punido.

Dos 20 casos, cinco ocorreram no Rio Grande do Sul, campeão de registros. Dois foram no Paraná. No primeiro, 10 de maio, o volante Marino, do São Bernardo, afirmou ter sido chamado de macaco por um torcedor do Paraná. O clube foi multado em R$ 30 mil, mas, após recurso, a pena caiu para R$ 15 mil. No segundo, três dias depois, o radialista Lourival Santos foi acusado de chamar Maicon Silva do Londrina de macaco. O agressor foi preso e afastado do emprego da afiliada do SBT.

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“Pela primeira vez foi feito esse levantamento completo. Há um aumento das denúncias”, diz Marcelo Carvalho, um dos idealizadores do projeto. Segundo ele, só em três meses de 2015 já foram 12 casos , incluindo um no voleibol.

“As vítimas estão criando mais coragem de denunciar ao verem a torcida e a mídia encarando de maneira diferente o ‘deixa para lá’”, argumenta Carvalho. “O problema é muitos desistirem de ir até a delegacia e levar o caso adiante, acreditando que a pena de injuria racial (1 a 3 anos de prisão) é menor do que o racismo e não é “, garante.

Na atual punição está o outro problema. Como a pena prevista é menor de quatro anos, pode ser revertida em pagamentos de cestas básicas, aumentando a sensação de impunidade. “As punições são muito brandas. O que se vê na maioria das vezes são multas para os clubes, que depois caem para menos da metade quando recorrem”, lembra Carvalho.

O relatório apontou também oito casos de racismo contra brasileiros no exterior, incluindo o do volante Tinga no Peru, e nove durante a Copa do Mundo. Em 2015 já são seis casos no exterior, incluindo os xingamentos ao meia-atacante Marcos Guilherme, do Atlético, quando defendia a seleção sub-20 no Sul-Americano no Uruguai. “Tem de punir de forma exemplar e educar”, resume Carvalho, admitindo não existir um movimento em Brasília para aumentar a pena por injúria racial. Detalhe: Elias não registrou queixa, não contribuindo para o fim do problema.