Árvore desponta na arquibancada central do Pinheirão. Estádio que já foi palco de Eliminatórias da Copa hoje é marcado pelo acúmulo de sujeira e mau cheiro| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo
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Área nobre da arquibancada não resistiu à falta de manutenção e os cinco anos de abandono
Tribuna de honra da praça esportiva corre risco de desabamento
Documentação espalhada pelo antigo salão nobre, onde Onaireves vencia todas as eleições
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Trancado desde 30 de maio de 2007 (2.397 dias), o Pinhei­rão entra em 2014 sem projeto. Novo dono do terreno há um ano e meio, o empresário João Destro já escutou todo o tipo de proposta, mas não sabe o que fazer com o estádio que chegou a ser cogitado como sede paranaense na Copa do Mundo.

"Não tem nada no momento. Tenho feito alguns estudos, mas ainda não defini qual o futuro do Pinheirão – praça que comportaria um público de 35 mil espectadores. Certamente, não quero fazer algo que agrida a região. E não será shopping. Vai ser alguma coisa que orgulhe a cidade", diz Destro.

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Um condomínio residencial ou uma arena para show­s são os prováveis empreendimentos para ocupar o lugar no bairro Tarumã. E até mesmo uma nova praça esportiva não pode ser des­cartada.

Gigante no setor atacadista, o gaúcho radicado em Cascavel arrematou o terreno por R$ 57,5 milhões em leilão judicial realizado em junho de 2012. Na ocasião, aos risos, declarou ter comprado "por impulso".

Hoje, afirma "não ter sido bem assim" e não tem dúvidas que de que fez um bom negócio, apesar da incerteza sobre a sequência. "Foi uma ótima compra. Não temos pressa para resolver o que faremos", comenta Destro.

Apenas em outubro deste ano o empresário livrou-se de todas as pendências do Pinheirão: dívidas da Federação Paranaense de Futebol (FPF) com a Receita Federal, INSS e o Atlético, entre outros credores. Hoje, com toda a documentação regularizada, não há nada que impeça a venda do maior símbolo da era Onaireves Moura [presidente da FPF entre 1985 e 2007] no comando do futebol no Paraná.

Também em 2013 a área de 124 mil metros quadrados – o mais famoso cemitério esportivo do país – foi toda cercada com placas de "propriedade particular". Ao mesmo tempo, ganhou vigilância profissional durante as 24 horas por dia, sempre perseguida por três vira-latas.

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A segurança decretou o fim do palacete marginal que o Pinheirão havia se transformado, ao ser praticamente abandonado pela administração Hélio Cury na FPF assim que foi lacrado pela Justiça, em maio de 2007. A entidade alegava não ter dinheiro para a manutenção. Assim, dependentes químicos, mendigos, vândalos e ladrões frequentaram e se hospedaram lá por anos.

O impacto do descaso permanece. A Gazeta do Povo teve acesso ao imóvel durante uma tarde. Pelos corredores e salões o cenário é de destruição total. Há lixo despejado por toda a parte e montanhas de fezes de pombo, cachorro e até humanas. "Não há motivo para mantermos limpo o local por enquanto, diante da indefinição. E sujeira é fácil de tirar", afirma Destro.

No antigo salão nobre, há pilhas de documentos (súmulas, registros de jogadores etc) deixados para trás. Recentemente, a entidade se mudou do endereço vizinho ao estádio, na Avenida Victor Ferreira do Amaral. O Museu do Futebol, inaugurado em 2006 com o nome do ex-presidente do Coritiba, Evangelino Neves, está trancado, com alguns objetos mofando no interior. O gramado tem sido aparado constantemente, mas não há a menor condição de receber sequer uma pelada. Sobraram as traves, a coruja e os Quero-Queros. Nas arquibancadas cresce mato e até árvores e em alguns setores o concreto cedeu. "Nossos engenheiros analisaram e disseram que a concretagem é boa. Dá para recuperar", declara o empresário.

Enquanto isso, parte do espaço vai sendo utilizado como sempre foi. Há um parque de diversões em atividade. Na sexta-feira, é o dia de um encontro de motoqueiros. E, no sábado, é a vez de uma já tradicional feira de automóveis.