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"Não tenho palavras para dizer como é importante chegar aos 30 anos e receber este prêmio." O aniversário de Giba foi ontem. A declaração, na cerimônia de entrega do Prêmio Brasil Olímpico, há duas semanas, quando foi considerado o melhor atleta brasileiro. O ano de 2006 é apenas mais um em que Giba termina no ápice, mas talvez seja o mais glorioso deles. Além do reconhecimento do Cômite Olímpico Brasileiro, o atleta paranaense foi bicampeão mundial de vôlei com a seleção e considerado o melhor jogador da competição no Japão. Na Liga Mundial, também ficou com o troféu coletivo pelo Brasil e com o individual de melhor atleta.

Títulos pessoais que completaram um ciclo ao se unir aos prêmios conquistados na Olimpíada de Atenas, em 2004, e nos mundiais infanto-juvenil, em 93, e juvenil, em 95.

Mas após tantos prêmios, o primeiro sinal de que a ficha está caindo foi dado pelo jogador em um de seus últimos retornos ao Brasil, no começo do mês, depois de todos os títulos: "Nunca havia imaginado tudo isso". O leitor que começasse a matéria a partir deste ponto, tampouco teria tanta imaginação.

Antes de ser o camisa 7 da seleção de Bernardinho, Giba tem história para agradar a todo o tipo de público. Se nenhuma delas parecia indicar para esse final, no entanto, cada passagem trouxe sempre a marca registrada do atleta, exemplificada pelo gesto de garra – o grito e o punho fechado na comemoração de um título, uma vitória, ou apenas mais um ponto que muitas vezes, se sabe, não alterará o rumo da partida.

Mas Giba nunca pensou assim: "Dentro de quadra eu lembro dos momentos difíceis para ter motivação em qualquer situação", disse em Curitiba, logo após receber o título de cidadão honorário da cidade (outro em 2006). "O tesão que tenho para jogar vem justamente da minha história, de tudo pelo que passei", já havia dito na final da Liga Mundial.

Lembranças de momentos difíceis não faltam para embalar Giba dentro de quadra. Logo aos quatro meses de idade teve leucemia. Por um ano, freqüentou hospitais até ficar curado – mesmo assim faz periodicamente exames preventivos.

Aos 10 anos, quando começava a treinar vôlei, caiu de uma árvore em cima de um ferro de portão e quase teve de abandonar o esporte. O acidente lhe rendeu 150 pontos no braço. Aos 19, saiu ileso de um acidente de carro. E mais recentemente, quando os problemas pareciam ter cessado, o craque foi do céu ao inferno quando foi pego no exame antidoping no final de 2002, por consumo de maconha. Pegou a pena mínima, e voltou às quadras no final de março de 2003.

Na época o jogador acabara se transferir do Brasil para a Itália, estava no Ferrara, e explicou o motivo que o levou a aceitar a oferta de um colega para fumar um baseado em uma festa: solidão.

"Foram vários problemas de uma vez só e fiquei abalado. Mas isso serviu para colocar a cabeça no lugar e saber o que é certo. Sou um símbolo, um exemplo para as crianças e vou continuar sendo."

Giba se colocou à disposição para participar de campanhas anti-drogas e o episódio só serviu para comprovar que quem é humano também erra. E o paranaense, embora dentro de quadra pareça um super-herói, fora dela é uma pessoa simples, que prefere a humildade às armadilhas do ego – natural em pessoas que olham para cima e nada vêem além de si mesmo.

O melhor exemplo disso foi o prêmio do COB. Teve de dar o troféu à mãe segurar para poder tirar fotos e dar autógrafos aos fãs. Nessa função, com satisfação, ficou quase uma hora a mais do que o previsto. Já passava da meia-noite no Rio de Janeiro, e o atleta, mesmo após ter encarado 13 horas de viagem da Itália ao Brasil, só parou porque foi retirado por um segurança.

A simpatia talvez seja um dos motivos de o erro não ter maiores desdobramentos em sua carreira. Outro motivo, sem dúvida, é porque, dentro das quadras, Giba dificilmente erra. Seja em uma bola levantada longe da rede, ou perto demais, ele sempre dá um jeito. Explora o bloqueio, utiliza uma largadinha ou, a sua preferida, porrada.

Mesmo com 1,92 metros, altura considerada abaixo do padrão dos atacantes de vôlei, Giba já começa a ser comparado com a maior lenda do voleibol de todos os tempos: Karch Kiraly.

Bicampeão olímpico (84 e 88), campeão da Copa do Mundo (85), do Mundial (86) e dos Jogos Pan-Americanos (87), nos títulos o americano está quase ficando para trás. Giba só não tem o Pan. De resto, lá vai: Liga Mundial (2001, 2003, 2004, 2005 e 2006), Mundial (2002 e 2006), Copa do Mundo (2003) e Olimpíada (2004).

Sobre o assunto, a opinião mais contundente veio do gaúcho Renan, medalha de prata na Olimpíada de Los Angeles (1984). O criador do saque Viagem ao Fundo do Mar, hoje o mais utilizado nas quadras, colocou o paranaense entre os três maiores da modalidade. "Se tivesse que votar no melhor jogador de todos os tempos, dividiria meu voto por Giba, Kiraly e Giani (italiano tricampeão mundial). O Giba é um jogador que qualquer seleção do mundo gostaria de ter. Ele saca, ataca e bloqueia. É, no mínimo, igual ao outros dois", disse Renan.

O começo de Giba na seleção veio pelas mãos do técnico Radamés Lattari, em 1997. De lá para cá, só não atuou pela equipe canarinho em duas ocasiões: ao cair no antidoping e, depois, no começo de 2004, por causa de uma tendinite no joelho.

"O Giba é um ícone. O Giba é um ídolo. O Giba é o bom exemplo. Superou todos os seus problemas e hoje é a pessoa mais agradável do mundo. É o homem do coletivo, que leva toda a equipe para frente. Ama seus companheiros e também divide seus prêmios com eles. E isso é extraordinário", opina o presidente da CBV, Ari Graça Filho.

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