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Júnior já pode contar nos dedos o tempo que falta para assistir de perto a uma partida de futebol do seu time do coração. Mas para ele isso não é muito animador. Com 8 anos de idade, ainda terá de esperar dez para conseguir assistir a um jogo do Paraná no estádio. Por enquanto, futebol só pela televisão ou no campo da Rádio Táxi Formosa, quando aos fins de semana o pai, Jucimar Santana, disputa o campeonato interno da empresa.

Ele mesmo, ex-jogador do Colorado no fim da década de 70, não esconde o desejo de levar o filho ao estádio. Mas quando vem o pedido, reluta, e incondicionalmente a resposta é não. Só quando tiver 18 anos, emenda.

Taxista, Jucimar prefere enfrentar diariamente os perigos da noite na capital a ter de voltar a um estádio de futebol.

"A violência me fez parar de ir aos jogos. Ver um sujeito ser espancado na esquina só porque estava com a camisa do time que eu também estava assusta qualquer um", conta.

O ocorrido foi a cerca de dez anos, quando não perdia uma partida do Paraná. A tiracolo, levava a família inteira. Filhas, mulher, todos a caráter, o futebol era o lazer sagrado dos Santana no fim de semana. Jucimar chegou a comprar uma cadeira cativa no Pinheirão que, por ironia, nunca chegou a utilizar.

Foi mais ou menos nessa época que, em duas ocasiões, por pouco a diversão não virou tragédia.

A primeira vez foi depois de um clássico – a data certa o paranista não lembra. "Nos vimos cercados por seis nos ameaçando. Nem sei como escapamos". Depois, em uma nova insistência, veio a desistência, em um jogo da seleção brasileira. "Fui com camisa do Paraná e acabei me incomodando com as organizadas. Daí parei de vez."

De lá pra cá, Jucimar virou estatística. Faz parte dos 79% dos torcedores que apontam a violência no futebol como o principal motivo para abandonarem os estádios – falta de conforto vem logo em seguida, com 14%, em pesquisa realizada pelo Ibope e Lance, em 2004.

Foi por essa época também que o problema foi "notado" pelo governo federal. Com o interesse em ser sede da Copa do Mundo, só há pouco mais de um ano que a violência causada por torcedores virou prioridade do Estado. E logo no primeiro estudo realizado pelo Ministério do Esporte sobre o tema, descobriu-se um dado curioso que aponta para um dos motivos do sucateamento do futebol brasileiro.

"Em 2004, a ocupação dos estádios no Campeonato Brasileiro foi de apenas 19,8%. Se o motivo principal disso é a violência, sem ela os clubes poderiam ter também um lucro bem maior. Para se ter uma idéia, se conseguíssemos fazer crescer essa ocupação para 50%, significaria, naquele ano, um incremento na receita da competição de R$ 80 milhões", afirma Marco Aurélio Klein, coordenador-executivo da Comissão Paz no Esporte, mantido pela pasta federal.

Para se chegar a esse nível, o primeiro passo seria unificar a ação de todos os envolvidos em uma partida de futebol – ou seja, os clubes, a polícia e a federação. Foi partindo desse ponto que a Inglaterra, referência internacional no assunto, resolveu o problema. Como resultado, hoje mantém uma ocupação de 96% em suas arenas.

Para entender a estratégia utilizada no país europeu, Klein passou 15 dias estagiando por lá e voltou com cinco pontos centrais a serem atacados: legislação, responsabilidade, inteligência, sistematização e excelência.

Embora cada tópico seja subdividido em vários outros, resumidamente o que o especialista quer é mais rigor e uma diferenciação aos delitos no futebol ("Uma briga na esquina é uma coisa, dentro de uma estádio, com milhares de pessoas, é outra", afirma), a definição de qual o papel e responsabilidade de cada entidade envolvida, uma centralização de todas as informações geradas nos processos anteriores, uma sistematização dessas informações e, por último, a divulgação das ações que derem certo para que possam ser copiadas rapidamente.

"É necessário uma uniformidade nos procedimentos e uma ação coordenada para que todos façam a mesma coisa", diz Klein.

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