• Carregando...
 | Daniel Castellano, enviado especial / Gazeta do Povo
| Foto: Daniel Castellano, enviado especial / Gazeta do Povo

Com o bronze, Adriana ataca: ‘Fui humilhada’

A boxeadora Adriana Araújo considera que a conquista do bronze é uma resposta a supostas críticas do presidente da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe), Mauro José da Silva. Após o combate, ela reclamou da desvalorização do esporte no país. E revelou que chegou a ser humilhada por Silva antes da Olimpíada.

"Ele disse que eu não tinha capacidade de me classificar [para os Jogos] e muito menos de conquistar uma medalha. Mas nunca dei ouvido. Para calar a boca dele, me classifiquei e conquistei o bronze", acusou a atleta.

O desentendimento de Adria­­na e dos outros quatro atletas baianos da seleção de boxe – Everton Lopes, Robson Conceição, Érica Matos e Robenílson Conceição –, que representam metade do grupo em Londres, vem do fa­­­­to de preferirem treinar em Salvador, em vez de São Paulo, base da CBBoxe.

Na capital baiana, eles eram treinados por Luís Do­­rea, dono da Aca­­demia Cham­­pions, que teve no seu quadro de lutadores o pugilista campeão mundial Popó e que atualmente treina o campeão dos pesados do UFC, Júnior Cigano, e os lutadores de MMA Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro. "Esse ra­­paz caiu de paraquedas, en­­trou por indicação e está achando que é o dono do boxe. Os atletas sofreram muito nesses anos, não podiam se manifestar", reforçou Dorea.

O treinador disse que a postura do dirigente resultou na exclusão de Pedro Lima (ouro no Pan do Rio) da equipe. De acordo com Dorea, o presidente da confederação tem um problema pessoal com o pugilista. "Ele não tem nenhum respeito. Humilha e destrata os atletas", complementou.

Mauro José negou as acusações. "A Adriana está falando isso porque o Dorea não faz parte da seleção. Ela quer manter vivo o nome dele. Ela ganhou a medalha porque veio treinar em São Paulo", ressaltou. "O Dorea foi chamado para trabalhar em São Paulo, mas disse que não podia. A atleta está sendo usada por ele", afirmou.

A baiana Adriana Araújo, 30 anos, já havia entrado para a história olímpica do Brasil por ter sido a primeira brasileira a vencer um combate do boxe nos Jogos Olímpicos (a modalidade só estreou nesta edição). Mas não parou por aí.

Ontem, ela rompeu com o período de 44 anos de espe­­ra por uma nova medalha do país nos ringues. A última – e até então única –tinha sido com Servílio de Oliveira (peso mosca, até 51 kg), em 1968, no México.

Mesmo não se classificando à final da categoria leve (até 60 kg), por ter perdido para a russa Sofya Ochigava por 17 a 11 na semifinal, calhou de Adriana ter mais uma vez seu nome marcado na competição. O bronze que a lutadora havia garantido segunda-feira na luta das quartas de final – no boxe não há decisão de terceiro lugar – foi a centésima medalha do Brasil em Jogos Olímpicos.

"É uma medalha histórica para o Brasil e para toda a América Latina. Ela abrirá caminho de muitas meninas para que pratiquem o esporte", confia Adriana, que em 2005 largou o futebol para se dedicar aos combates nos ringues.

A marca de cem medalhas representa um salto de conquistas do esporte brasileiro nos últimos 20 anos. Em Barcelona-1992, o país somava 39 medalhas ao longo de todas as participações até então. De lá para cá, o Brasil conquistou 62 pódios em cinco disputas, contando Londres-2012, que ainda não terminou.

A expectativa do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) é de que a delegação nacional feche a participação na capital britânica com o mesmo número de premia­ções de Pequim-2008, quando o Brasil conquistou 15 medalhas.

Até ontem, os atletas brasileiros haviam conquistado dez medalhas: duas de ouro, uma de prata e sete de bronze.

Sobre a derrota na semifinal, Adriana reconheceu a superioridade da russa no combate. Mas não deixou de questionar algumas marcações dos juízes.

"Técnica e taticamente es­­tava tudo dentro do que treinamos. Mas a Sofya não é uma atleta que está chegando agora. É atleta experiente, uma campeã mundial. Para mim foi bem, mas a gente não depende apenas da gente no ringue, depende também dos juízes", criticou, ao fim da luta.

Além das marcas que alcançou, Adriana está feliz pela expectativa de que, com a sua conquista, rompa-se o preconceito contra o boxe fe­­minino no Brasil. E espera que, junto com os bronzes dos irmãos Yamaguchi e Esquiva Falcão, que ainda lutarão as semifinais das categorias meio-pesado (até 81 kg) e médio (até 75 kg) e poderão transformá-las em prata ou ouro, a modalidade ganhe mais incentivo (leia mais nesta página).

"Com certeza, a partir de agora haverá ainda mais apoio e investimento nas no­­vas atletas. O brasileiro tem aptidão para o boxe e va­­mos brigar por mais medalhas nos Jogos do Rio em 2016 em várias outras categorias", confia.

Após o confronto, a baiana aproveitou para anunciar que a Olimpíada de Londres foi sua despedida do boxe amador. Quando retornar ao Brasil, Adriana pretende se profissionalizar.

"Sinto dizer que esta foi a minha última luta amado­­ra. Estou feliz com o que consegui, mas não vou estar no Rio em 2016 porque vou para o profissionalismo", declarou.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]