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Jean Todt, diretor-esportivo da Ferrari, liberou um comunicado intitulado "Uma reação na fria luz do dia". O documento traz duras críticas a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) e a McLaren, que foi considerada culpada de possuir 780 páginas de segredos e dados do projeto do carro da Ferrari, porém escapou de uma punição.

Irritado, Todt revelou mais detalhes sobre o episódio da espionagem e diz que a escuderia de Maranello não descansará enquanto não julgar que a justiça foi feita no episódio.

Confira a íntegra do longo comunicado de Todt:

"Estou aborrecido. O que aconteceu foi sério. Por um lado, o veredicto de culpado foi dado e, por outro, nenhuma sanção foi aplicada. Não posso compreender isto. Durante a reunião de ontem, os diretores da McLaren, sem exceções, admitiram que receberam de seu desenhista-chefe (Mike Coughlan), já em março, antes do GP da Austrália, documentos de Nigel Stepney (ex-chefe dos mecânicos da Ferrari).

Alguns destes dados foram utilizados para preparar um protesto junto à FIA, claramente contra nós, no GP da Austrália, quando o chefe da McLaren lançou declarações dizendo ter "dúvidas sobre alguns carros".

Logo, esta informação de fato foi utilizada para conseguir alguma vantagem sobre nós. Se não melhorando a performance deles, pelo menos limitando a nossa.

É importante ressaltar que a informação utilizada para nos prejudicar junto à FIA pode ser apenas uma parte da informação que a McLaren se apropriou.

Em uma tentativa de justificar suas ações, a McLaren apelou para a imunidade de sua fonte, como é comum em alguns sistemas legais. Mas deve ser ressaltado que normalmente a fonte faz sua denúncia ao órgão competente, enquanto desta vez ela foi diretamente ao nosso principal rival que - e quem diz isso não somos nós, mas a FIA - tomou todo o cuidado para não mencionar como a informação fora obtida.

Vamos prosseguir. A McLaren confirmou que teve de criar um firewall para prevenir que mais emails com informações de Stepney chegassem ao time, na forma de documentos. Depois, Coughlan foi instruído a também pedir a Stepney que parasse de lhe enviar informações.

É uma vergonha que, antes disso, Coughlan tenha solicitado a Stepney informações sobre nosso sistema de balanço de freios, e depois foi almoçar com ele na Espanha, antes de retornar calmamente para casa com 780 páginas de desenhos, diagramas, dados e muito mais - como descrito na declaração da FIA - sobre como construir e desenvolver um carro de F-1 da Ferrari modelo 2007.

Como foi confirmado na decisão de quinta-feira, a violação já estava configurada pela simples posse da informação, que por si só constitui uma enorme vantagem em um esporte como a Fórmula 1.

Na opinião da Ferrari, é como jogar pôquer com um rival que já sabe que cartas você tem nas mãos.

Permanece incompreensível que, apesar da posse dos documentos, ainda temos que provar a efetiva e visível utilização destas informações no carro da McLaren.

Na verdade, este mesmo fato, que foi a base da FIA para julgar a McLaren culpada, mostra que a violação reside na posse dos dados, sem ter de ser provado mais nada. A prova está lá e ela levou à decisão da FIA. Logo, acho difícil compreender como este veredicto possa fazer sentido.

Além do mais, tenho de dizer que a prova de que a McLaren efetivamente usou nossos dados, solicitada pela FIA, é impossível de ser obtida por nós, porque, claro, a Ferrari não tem acesso ao carro da McLaren.

Algumas semanas após a corrida em Melbourne, o chefe da McLaren propôs que chegássemos a algum tipo de acordo para estabelecer uma melhor relação de trabalho entre as equipes, inclusive para evitar novos tipos de denúncia junto à FIA.

Eu respondi que julgava impossível acreditar nele, pois em diversas ocasiões vimos tratados serem rasgados pela McLaren. Houve uma mudança de pontos de vista, e acreditando em sua boa fé, concordei em assinar este acordo no último dia 9 de junho.

Desde aquela época ou mesmo antes, a McLaren já estava perfeitamente ciente, não apenas dos emails enviados para eles pelo seu informante dentro de nossa companhia, mas também do fato de que seu desenhista-chefe manteve contato com ele e recebera e continuava de posse de um montante significativo de informações técnicas que pertenciam a nós.

Então, de um lado, eles vieram e disseram "vamos confiar um no outro", e pelo outro lado eles escondiam sérios fatos como os ditos acima, sem mencionar qualquer intenção de nos informar sobre o episódio, como seria o espírito do acordo que acabáramos de assinar.

Por último, queria relembrar que a reunião de ontem não teve nada a ver com um tribunal, mas apenas um encontro do Conselho Mundial da FIA, em que apenas a McLaren foi solicitada a responder a acusações em que estivemos presentes apenas como observadores.

Portanto, não tivemos a chance de desempenhar um papel efetivo como gostaríamos. Só pude fazer umas poucas perguntas e responder a algumas poucas também, mas não pudemos apresentar nosso caso ou mostrar os documentos que o sustentam.

Esta decisão permanece desapontadora e surpreendente. Não é aceitável que se crie um precedente em um assunto tão importante - o veredicto da culpa em uma violação do princípio fundamental deste esporte, que é a honestidade, não incorra automaticamente em uma punição.

De nossa parte, vamos continuar com nossas ações legais na Itália e na Inglaterra, e não descartamos tomar novas medidas legais na seqüência."

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