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A deputada Erika Kokay (PT-DF), durante palestra no Sindicato dos trabalhadores em educação pública do Paraná | Reprodução
A deputada Erika Kokay (PT-DF), durante palestra no Sindicato dos trabalhadores em educação pública do Paraná| Foto: Reprodução

“Deputada do PT defende incesto em uma sociedade socialista”, afirmavam  posts compartilhados nas redes sociais no último final de semana. As publicações traziam um vídeo com o trecho de uma palestra da deputada Erika Kokay (PT-DF), em que ela supostamente aparece defendendo o fim da família tradicional como forma de se combater a propriedade privada, introduzir a anarquia na sociedade e, assim, torná-la “incestuosa”. 

O vídeo, que teve milhares de compartilhamentos nos últimos três dias, é um pedaço de uma palestra que Erika Kokay proferiu no Sindicato dos trabalhadores em educação pública do Paraná, realizado em maio do ano passado (assista ao vídeo na íntegra). Nele, a deputada diz: 

“Defender a sociedade patriarcal é defender a sociedade de classes. Porque se se destrói a família patriarcal, se destrói a propriedade e se destrói a própria sociedade de classes, remontando à análise de Engels, da história da origem da sociedade, do Estado, da propriedade e da família, e daí se constrói uma anarquia. E essa anarquia vai invadir e enfrentar a ordem e os tabus, por isso será uma sociedade incestuosa. Se constrói uma discussão que a partir da família patriarcal, da eliminação da família patriarcal, nós construímos uma sociedade incestuosa. (...) Se eu construo a anarquia, e eu destruo a ordem, eu também vou destruir um dos tabus mais universais da Humanidade, que é o tabu do incesto, e vou construindo a concepção da ideologia de gênero para promover os diálogos entre os fundamentalismos que foram articulados em grande medida por Eduardo Cunha...” 

Por causa dessa fala, diversos grupos conservadores fizeram um abaixo-assinado pedindo a cassação de Erika Kokay por falta de decoro. O vídeo foi compartilhado por grupos da direita, como o Movimento Brasil Livre, a Reaçonaria, Terça Livre, República de Curitiba, entre outros. 

Edição

O vídeo, porém, foi editado e induz a erro. Ao se assistir à apresentação completa da deputada, percebe-se que o contexto da fala foi completamente invertido. Quando Erika Kokay citou a fala acima, ela se referia a uma estratégia de grupos da extrema-direita de construírem um discurso sobre ideologia de gênero para se retirar a laicidade do Estado. “É uma tentativa de sair do discurso essencialmente religioso e fazer a ponte com o discurso ideológico da extrema direita. Porque eles dizem: ‘defender a família patriarcal...’ (e segue a fala do vídeo editado)”.

Leia nossa convicção sobre o temaO valor da família 

Portanto, a fala da deputada refere-se ao suposto discurso dos grupos conservadores, e não se trata de defesa do incesto ou do fim da família patriarcal. No final da manhã de hoje, Erika Kokay publicou um vídeo desmentindo os posts de ataque e, em entrevista à Gazeta do Povo, avisou: irá processar não só quem publicou o vídeo, mas também quem o compartilhou. 

“Já acionamos a Polícia Federal para identificar os autores do vídeo e para solicitar que seja retirado do ar”, disse Kokay. “Em ataques contra mim, usaram foto dos meus filhos, insinuando que eles participam de relações incestuosas em casa. Irão todos responder na Justiça.”

“Nunca defendi o incesto ou o fim da família tradicional”, explicou Erika Kokay. “Pelo contrário, sempre combati a violência contra crianças e adolescentes e acho que a família tradicional deve ser preservada e respeitada, assim como todas as outras expressões familiares. Não sou contra casais héteros e nunca fui contra a heterossexualidade. O que acontece é que eu fui contra o Estatuto da Família que considerava uma única construção familiar, ignorando as novas formações que vieram a partir do desenvolvimento social, cultural e econômico da sociedade. Acho que todas as famílias devem ser respeitadas e valorizadas, e todas devem receber proteção do Estado.” 

Segundo a deputada, o ataque é uma resposta dos grupos conservadores à sua posição contrária à PEC 181, sobre o aborto. A proposta foi aprovada, na semana passada, na Comissão Especial da Câmara por 18 votos a 1. Erika Kokay foi a única que votou contra. “Se os conservadores querem alterar o Código Penal, que o façam diretamente”, aponta a deputada, dizendo que a PEC inicial tratava da licença maternidade e teve a questão do aborto inserida entre os itens, como um “cavalo de Troia”. 

O abaixo-assinado pedindo a cassação da deputada já foi retirado do ar.

Vídeo original com a fala completa da deputada

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