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Placa com os dizeres 'O ACT está em lockdown' em Canberra, Território da Capital Australiana (ACT), Austrália, 24 de agosto de 2021
Placa com os dizeres ‘O ACT está em lockdown’ em Canberra, Território da Capital Australiana (ACT), Austrália, 24 de agosto de 2021| Foto: EFE/EPA/LUKAS COCH

O evento decisivo dos lockdowns ocidentais para conter a COVID-19 ocorreu em 16 de março de 2020, com a publicação do agora infame relatório da covid do Imperial College em Londres, que previu que na “ausência de medidas de controle ou mudanças espontâneas no comportamento individual” haveria 510 mil mortes por covid na Grã-Bretanha e 2,2 milhões nos Estados Unidos. Essa previsão foi o epicentro de um abalo que se espalhou pelo mundo. No dia seguinte, a imprensa britânica anunciou que o país começaria um lockdown.

O impacto do relatório foi amplificado pela máquina de soft power do Reino Unido, a BBC. Seu alcance é sem igual: faz transmissão em 42 línguas, alcançando 468 milhões de pessoas semanalmente no mundo e disseminando de forma eficiente a sua mensagem. Com a BBC abrindo o berreiro e o público alarmado, não havia espaço para a discordância.

Uma cascata de imitação então se estabeleceu, com os EUA e outros países adotando a mensagem e as políticas de Londres. O resultado foi uma política baseada em um modelo defeituoso que se originou no Imperial College sob a liderança de Neil Ferguson.

O maior defeito do modelo é sua presunção de que as pessoas seriam indiferentes aos perigos que acompanham uma pandemia. Esse pressuposto comportamental não é realista. Se as pessoas ouvem que estão em risco de pegar uma doença potencialmente letal, a maioria vai agir para reduzir sua exposição. A equipe do Imperial virou o mundo de ponta cabeça com números fantasiosos sobre um panorama que jamais viria a se materializar.

Antes de se apressarem a tomar decisões políticas em pânico, as autoridades britânicas deveriam ter se informado que a equipe do Neil Ferguson no Imperial College tinha um histórico de modelagem defeituosa. Com mínimo esforço, teriam descoberto rapidamente que a equipe tinha um histórico que faz a astrologia parecer respeitável.

O histórico lamentável começou com a epidemia de febre aftosa [no gado] em 2001, durante a qual os modeladores do Imperial College convenceram o governo a adotar uma política de abate em massa de animais. O modelo deles previa que a incidência diária de casos atingiria o pico em cerca de 420. Na época, o número de incidências já tinha atingido o máximo em pouco mais de 50 e estava caindo. A previsão errou o alvo, e até 10 milhões de animais, a maioria dos quais poderiam ter sido vacinados, foram mortos sem necessidade.

Pouco depois, em janeiro de 2002, a equipe do Imperial sugeriu que até 150 mil pessoas no Reino Unido poderiam morrer de mal da vaca louca. Na realidade, o número total de mortes no país foi 178 — outro erro da equipe do Imperial.

Então, em 2005, Neil Ferguson sugeriu que “até cerca de 200 milhões” poderiam morrer de gripe do frango no mundo. Ele justificou essa alegação pela comparação da letalidade da gripe do frango com a do surto de gripe espanhola de 1918, que matou 40 milhões. Até 2021, a gripe do frango tinha matado 456 pessoas ao redor do mundo, o que faz desse o maior erro do Imperial até agora.

Neil Ferguson e sua equipe voltaram à ativa em 2009, quando alegaram que 65 mil pessoas poderiam morrer de gripe suína no Reino Unido. Até o fim de março de 2010, o surto tinha matado menos de 500 pessoas antes de se dissipar. O “pior cenário razoável” de Neil Ferguson era 130 vezes grande demais — outro erro de monta.

Em cada caso houve o mesmo padrão: modelagem falha, previsões de desastres de arrepiar os cabelos que erraram o alvo, e nenhuma lição aprendida. Os mesmos erros foram repetidos de novo e de novo e nunca foram enfrentados por pessoas em posição de autoridade. Por quê? Talvez os modelos do Imperial College são máquinas ideias de gerar medo para políticos e governos com ânsia de mais poder. [O jornalista dos anos 1920] H. L. Mencken detectou esse fenômeno quando escreveu que “a meta da política prática é manter o populacho alarmado (e assim ansioso por ser guiado à segurança) com uma série infindável de monstros, a maior parte deles imaginários”.

A equipe de modelagem do Imperial College deveria ter sido submetida a uma auditoria dos seus modelos e práticas depois do fiasco com a febre aftosa mais de 20 anos atrás. Se isso tivesse sido feito, os fiascos que vieram depois poderiam ter sido evitados. Seja como for, o Imperial certamente dever ser submetido a auditoria agora, e ela deve enfatizar as inadequações dos modelos da equipe e por que motivo recomendações políticas foram feitas com base neles.

Os governos ao redor do mundo devem iniciar também os seus próprios inquéritos para aprender lições e tratar das medidas necessárias para proteger os seus cidadãos de modelos irresponsáveis em saúde pública. Nunca mais “cientistas” armados com modelos defeituosos deveriam escapar à responsabilidade por gritarem “pandemia!” em um teatro lotado de políticos e burocratas loucos para ganhar ainda mais poder.

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Steve H. Hanke é professor de economia aplicada na Universidade Johns Hopkins em Baltimore. É membro sênior e diretor do Projeto de Moedas Conturbadas no Instituto Cato em Washington, D.C. Kevin Dowd é professor de finanças e economia na Faculdade de Negócios da Universidade Durham, na Inglaterra.

©2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
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