Bryan Cranston e Steve Carell em cena de “A Melhor Escolha”: amizade e honra| Foto: WILSON WEBB/Divulgação
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Em 1973, a versão cinematográfica de “A Última Missão” fez sucesso ao contar a história de três soldados americanos que, enviados para a Guerra do Vietnã, têm um comportamento abaixo do desejável e acabam sendo punidos. Mais de quatro décadas depois, os personagens voltam a serem retratados em um belo filme repleto de diálogos de natureza filosófica: “A Melhor Escolha”, disponível na Amazon Prime Video.

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Tanto um filme quanto o outro são adaptações de livros do escritor Darryl Ponicsan. Desta vez, a versão cinematográfica (com ligeiras mudanças em relação à primeira película) ficou a cargo do diretor Richard Linklater, famoso por filmes como “Antes do Amanhecer” e “Boyhood”.

Assim como em outras de duas obras, o Linklater faz um bom trabalho mostrando os efeitos da passagem do tempo sobre a personalidade humana.

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“A Melhor Escolha” trata do reencontro do trio de ex-militares. Muita coisa mudou: Um deles virou alcoólatra dono de bar, outro um homem circunspeto e solitário; o terceiro, pastor batista. Como define um dos personagens já no início do filme: “Todos já fomos alguma coisa. Agora nós todos somos algo diferente” (em inglês, soa muito melhor: “We were all something once. Now we are all something else”.)

Lançado em 2017, o filme se passa em 2003, quando a Guerra do Iraque estava em sua fase inicial. A história começa com a notícia de que o único filho de Larry Shepherd foi morto em uma emboscada no Iraque. Solitário, Shepherd vai atrás dos ex-companheiros para, juntos, buscarem o corpo do rapaz. Os três homens, com temperamentos diferentes (e depois de quatro décadas sem se falarem) precisam revisitar o próprio passado ao mesmo tempo em que lidam com as consequências da perda trágica do garoto.

Steve Carrell, Bryan Cranston e Lawrence Fishburne se completam em uma grande atuação. Sem exagero no melodrama, e com doses certeiras de humor, o filme explora a noção de companheirismo e a busca por redenção, ao mesmo tempo apresenta um retrato sensível do drama por trás de todas as guerras: muitas vezes, os soldados não têm certeza da causa pela qual estão guerreando, e lutam, mais do que por uma nação, pela própria honra e por seus colegas de farda.

Em muitos momentos, o filme ecoa a saga de Antígona, de Sófocles. No clássico da literatura grega, a personagem que dá nome à obra enfrenta Creonte, uma autoridade política, pelo direito de enterrar o irmão dela, Polinices, com os ritos que a tradição considera apropriado e não com o que determina a lei da cidade. É uma das primeiras referências ao que se pode chamar de lei natural - a lei que precede e ultrapassa em importância lei oficial em vigor.

Boa parte do filme, aliás, também funciona em uma espécie de diálogo platônico: enquanto viajam pelo nordeste dos Estados Unidos, o trio de protagonistas tem conversas profundas sobre temas como honra, pátria e Deus.

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“A Melhor Escolha” é um filme apolítico: não é um manifesto contra a guerra, tampouco uma defesa ufanista do patriotismo dos militares. É uma obra que, como os diálogos platônicos, pode ter diferentes mensagens para diferentes leitores. E nisso reside sua grandeza.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]