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Bernie Sanders: entre o 1% mais rico (Foto: Don Emmert / AFP)
Bernie Sanders: entre o 1% mais rico (Foto: Don Emmert / AFP)| Foto: AFP

O senador norte-americano Bernie Sanders divulgou nesta semana, após algum atraso, sua declaração de imposto de renda. Uma reportagem do New York Times diz:

A declaração mostra que os ganhos de Sanders aumentaram depois de sua primeira campanha presidencial, quando conquistou um vasto número de seguidores no país. Ele e sua esposa, Jane O'Meara Sanders, declararam renda superior a US$ 1 milhão em 2016 e 2017, graças aos rendimentos obtidos com a venda de seus livros.

O casal teve uma renda bruta ajustada de US$ 561.293 em 2018, de acordo com a sua declaração de renda mais recente. Sanders obteve cerca de US$ 393 mil em lucro contábil no ano passado, e o casal declarou ter doado US$ 19 mil para caridade.

Sua renda agora o coloca no topo da pirâmide, junto com o 1% mais rico dos contribuintes, de acordo com dados da Receita Federal.

Aparentemente, nada dá tanto lucro quanto criticar o lucro.

A revolta de Sanders

Sander justificou: “Escrevi um best-seller. Se você escrever um, também pode ficar milionário”. Mas sua fantasia de livre pensador não durou muito. Em entrevista para a Fox News, o jornalista Bret Baier lhe perguntou:“O senhor escreveu o livro e ganhou dinheiro com as vendas – essa não seria a definição de capitalismo e do sonho americano?”

Depois de uma pausa desconfortável, o senador respondeu: “Não”. Mas ele está errado. Ter uma ideia, colocá-la em prática e acumular o dinheiro ganho é a própria definição de sucesso empresarial.

Sanders usou um laptop que custa algumas centenas de dólares, e escreveu um texto – Our Revolution [ainda sem versão em português] – pelo qual recebeu US$ 795 mil. Converter um investimento de algumas centenas de dólares num retorno de 795 mil é a essência do capitalismo empresarial.

E ele está certo – de fato merece esse dinheiro. Estima-se que, em janeiro de 2018, 73% dos adultos norte-americanos tinham um computador. Isso representa 187,4 milhões de pessoas. Quantas delas produziram um documento no Word no valor de US$ 795 mil? Poucas. Tal como Sanders, Snooki, a subcelebridade do reality show Jersey Shore, usou um laptop para escrever Gorilla Beach, seu romance de estreia; porém havia mais pessoas dispostas a pagar — e a pagar mais dinheiro — para ler o livro de Sanders. Afinal de contas, valor é algo subjetivo. Ao proporcionar maior satisfação, o parlamentar colheu maiores recompensas.

Ser a mudança? Seja você primeiro

Sanders e sua esposa pagaram uma alíquota de imposto de 26%, bem abaixo dos 70% que ele diz que “o 1% dos mais ricos” – incluindo ele – deveria pagar. Além dos impostos, doou US$ 19 mil à caridade, mais 3,4% de sua renda.

Contudo, se o senador realmente acredita que ainda não estão lhe tirando uma parte suficiente da renda, ele pode resolver essa situação de forma unilateral – e pode fazer isso hoje, sem esperar por uma decisão do Congresso. Ele pode muito bem doar seu dinheiro para o governo federal.

Na quarta-feira (17) à noite, o jornalista Tucker Carlson perguntou a uma eleitora de Sanders, Nomiki Konst, por que o senador simplesmente não fez isso. “Porque o nosso governo não funciona dessa forma”, respondeu ela. “Para onde devo enviar o formulário? Para a Receita Federal? ‘Oi, pessoal da Receita, toma aqui um cheque com 70% da minha renda?’”

Não, você deve enviar o dinheiro para o Tesouro – essa opção até mesmo consta no seu site. “E quem faz isso?”, continuou ela. “Adoraria ver no seu programa alguém que realmente assinou um cheque desses”. Na verdade, até agora, em 2019, o Tesouro recebeu US$ 3,7 milhões em “contribuições voluntárias para reduzir a dívida pública”. Carlson poderia entrevistar um desses doadores em seu programa.

Alguém teria dito que “governo é simplesmente o nome que damos às coisas que decidimos fazer juntos”. O argumento de Konst mostra o quanto essa frase é vazia de significado.

Sanders tem uma escolha, assim como os membros do grupo Milionários Patrióticos. Se realmente acreditam que os políticos não estão recebendo dinheiro suficiente para gastar, eles podem lhes dar um pouco mais. Eles poderiam optar por “ser a mudança”. Mas não querem. Só vão colocar em prática aquilo que professam se outras pessoas forem forçadas a fazer o mesmo. Apesar de toda a conversinha sobre o desejo de dar ao governo mais dinheiro, eles condicionam seu pagamento à ação de outras pessoas que podem não querer fazê-lo, a não ser coagidas por lei.

Trata-se de uma excêntrica versão da generosidade, e uma ainda mais curiosa escolha. Qual seria a opção das pessoas que acham que já pagam o suficiente em impostos? Governo não é simplesmente o nome que damos às coisas que “escolhemos fazer juntos”, mas o nome dado às coisas escolhidas por 51% das pessoas, e que são compulsórias para as 49% restantes. Como escreveu o economista Milton Friedman: “Você poderia votar até mesmo uma vez por ano – mas em quê? Em uma longa lista de propostas, com muito pouca relação entre o seu voto e o que finalmente acontece”.

Socialismo não é compartilhamento

Sanders afirma ser socialista, e o socialismo, por sua vez, é frequentemente descrito como “compartilhamento”. Entretanto, não há nada inerentemente socialista nisso. Você pode facilmente compartilhar em um regime capitalista. Na verdade, o relatório mais recente do WGI, índice global que mede a generosidade dos povos, produzido pela Charities Aid Foundation, listou os Estados Unidos, a Nova Zelândia, o Canadá, a Austrália, Irlanda, o Reino Unido e a Holanda – sete países capitalistas – entre os dez países do mundo em que mais se doou para caridade nos últimos cinco anos. Em contraste, a Venezuela, ex-garota-propaganda de Sanders, em virtude de seu “socialismo democrático”, estacionou em uma avarenta 115ª posição, no ano de 2017.

Em 2011, ano em que Sanders tecia louvores ao socialismo venezuelano, o país ficou na 118ª posição em comparação com o primeiro lugar dos malvados Estados Unidos. Em 2011, de acordo com o Banco Mundial, o PIB per capita norte-americano foi de US$ 49 mil, em comparação com apenas US$ 14 mil na Venezuela. Sob o capitalismo, você realmente tem algo a compartilhar. Como disse Margaret Thatcher, “ninguém se lembraria do Bom Samaritano se ele só tivesse boas intenções; ele também tinha dinheiro”.

Doar seu dinheiro voluntariamente — o que a maioria das pessoas chamaria de “compartilhar” — não é exatamente o que os socialistas querem dizer com isso. É por isso que Sanders e os Milionários Patrióticos se recusam a dar seu dinheiro ao governo federal, embora exista um mecanismo para fazer isso e outros cidadãos optem por usar esse meio. A ideia de compartilhamento que eles defendem é aquela em que o governo toma dinheiro de alguém para distribuí-lo como achar melhor. Isso já acontece em algum grau nas sociedades capitalistas. Os socialistas de hoje querem aumentar a quantidade de riqueza da população que passa pelas mãos do governo.

A noção socialista de “compartilhamento” é radicalmente diferente. Compartilhamento é voluntário, pagamento de impostos é coação. A essência do socialismo não é compartilhar, mas coagir. Como bem colocou o autor britânico Kingsley Amis – socialista quando jovem, depois entusiasta de Thatcher –, “se socialismo não for imposição, então não será coisa nenhuma”.

*John Phelan é economista do Center of the American Experiment e pesquisador do Cobden Centre.

Tradução de Ana Peregrino.

©2019 FEE. Publicado com permissão. Original em inglês.

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