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A atriz e ativista transgênero Laverne Cox
A ativista transgênero e atriz norte-americana Laverne Cox discursa em frente à Suprema Corte, em Washington, DC, EUA, 08 de outubro de 2019.| Foto: EFE/EPA/MICHAEL REYNOLDS

“Identificar-se” como alguém que não se é virou moda. Hoje, se você pensar que é alguém que você não é, espera-se que o mundo todo balance a cabeça em concordância, isso se não tiver que aplaudir de pé.

É assim especialmente na questão da identidade de gênero, como demonstrou de forma vívida Wiliam “Lia” Thomas nas piscinas olímpicas universitárias. O homem nadador de poucos louros William Thomas tornou-se a mulher nadadora campeã universitária Lia Thomas só — Shazam! — dizendo que é.

Que truque de mágica legal.

Foram-se os tempos em que um sujeito precisava arriscar a própria pele para tirar uma dessas. Ou, mais precisamente, tirar a própria pele e algo mais; isto é, seu pênis. A velha exigência de entrar na faca para a transição de gênero teve o mesmo destino do telefone de discar. Hoje em dia, meras afirmações são suficientes.

“Oi, sou uma garota!”, e assim se faz uma.

Como diria Yogi Berra [jogador americano de beisebol famoso por suas frases folclóricas, como era o ex-presidente do Corinthians Vicente Matheus], se ele estivesse vivo e não chocado: “Só nos Estados Unidos, mesmo”.

Já que simples declarações de identidade podem mudar as pessoas de forma mais dramática que o bisturi, o que vem por aí depois do triunfo do movimento trans?

Que tal o transnacionalismo?

Imagine Lupita Martinez. Ela é pobre e mora em Honduras. As ruas de Tegucigalpa são uma provação diária para ela. Um surto de crimes no transporte público são a última gota na praia caribenha de sua paciência.

Então Lupita se junta a uma caravana e migra para o norte, para a fronteira México-Estados Unidos.

Quando ela fica cara a cara com um guarda de fronteira, Lupita diz as palavras mágicas: “eu me identifico como americana”.

“Seja bem-vinda, Lupita!”, diz o guarda de fronteira com um grande sorriso enquanto convida essa cidadã honduro-americana para entrar na terra dela.

E que tal o transracialismo?

Imagine Ludwig Von Thannhausen, 18 anos. Ele mora no subúrbio de Chicago com seus pais nativos da Alemanha que o trouxeram para os Estados Unidos quando bebê. Ele tem cabelo loiro, olhos azuis e tem a aparência de rapaz nascido em Oberpfaffenhofen, que por acaso é branco.

Mas Ludwig adora as coisas dos negros.

Ele é obcecado pela Renascença do Harlem. Conhece mais a literatura de Langston Hughes do que a de Johann Wolfgang von Goethe, as pinturas de Aaron Douglas mais que as de Max Ernst, e as músicas de Duke Ellington mais profundamente que as de Richard Wagner.

Seus heróis vão de Frederick Douglass a Tuskegee Airmen a Denzel Washington. Ele ouve de tudo da Motown a Parliament Funkadelic a Prince a Kanye West.

Ele sonha em se formar em estudos negros na Universidade Howard em Washington D.C., uma universidade historicamente negra. Na verdade, ele quer se matricular na qualidade de estudante negro e busca uma bolsa dedicada a candidatos negros.

Ludwig parece mais um recruta da Nação Ariana, mas ele disse as palavras secretas: “eu me identifico como negro”.

Quem somos nós para discordar? Se essa é a identidade dele, é a identidade dele.

E se suas boas notas na escola e um impressionante histórico no basquete lhe dão uma vaga na Howard, e uma bolsa de US$ 50 mil para minorias, então quem somos nós para dizer que ele não é negro de verdade?

Mas o que diríamos para a jovem que é realmente negra (pele escura, cabelo escuro etc.), tenta a Howard mas não ganha a vaga, a bolsa, ou nenhuma das duas? Se não fosse por Ludwig, ela teria conseguido essas benesses.

Que tal o transindividualismo?

Imagine que Bob Glenwood tem transtorno de múltipla personalidade. Ele se identifica como Bob Glenwood, mas também como Steve Jones, Myron Shapiro, Jackie Washington e Concepción Gomez.

Então ele preenche cinco títulos de eleitor e vota cinco vezes pelo correio.

Quem somos nós para dizer que Bob só merece votar uma vez? Como ousaríamos marginalizar as outras quatro pessoas que vivem dentro do cérebro dele? Isso seria a terceira edição das leis Jim Crow de segregação.

Como mostram esses exemplos (até agora) fictícios, os Estados Unidos vão cair em um caos ainda mais profundo se deixarmos que as pessoas simplesmente “se identifiquem” como o que não são e tomem dos outros benesses direcionadas a pessoas que têm uma reivindicação legítima dessas identidades.

Eu me identifico como Walter Cronkite [lendário jornalista americano], e ponto final.

***

Deroy Murdock é um correspondente da Fox News, editor adjunto do National Review Online e membro sênior do London Center for Policy Research.

©2022 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.
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