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Não faz sentido penhorar o presente em troca da esperança de conter os danos em potencial das mudanças climáticas.
Não faz sentido penhorar o presente em troca da esperança de conter os danos em potencial das mudanças climáticas.| Foto: Pixabay

Os jovens costumam ser exaltados por suas boas intenções e seu amor pelas causas sociais. Como todos os humanos, não temos muita experiência em planejamento de múltiplos estágios – o tipo de raciocínio preventivo que envolve não só a ação, mas também as consequências não-intencionais da ação.

Os problemas que mais nos interessam – ou os que mais tememos – são os mais difíceis de se ver com clareza. A deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez, por exemplo, despreza aqueles que falam dos “custos” de se combater as mudanças climáticas.

Em entrevista recente, Ocasio-Cortez disse: “millennials e a Geração Z chegam até nós em busca de ajuda e dizemos ‘o mundo vai acabar daqui a doze anos se não resolvermos a questão climática e para vocês o maior problema é como vamos pagar por isso’?”

A certeza dela de que problemas previstos com anos de antecedência precisam de sacrifícios imediatos ignora o princípio das consequências ocultas. É bom defender uma mudança avassaladora e imediata, mas os custos – o “perde-e-ganha” – de se implementar planos climáticos de longo prazo podem significar uma tragédia de curto prazo para milhões de pessoas ao redor do mundo.

A falácia das boas intenções

A realidade não se curva às boas intenções. Se não conseguimos prever os efeitos ocultos ou secundários de nossas ações bem-intencionadas, nossos planos grandiosos podem piorar ainda mais a situação. O economista francês Frédéric Bastiat ilustrou bem essas consequências de difícil previsão:

[Qualquer] ação, hábito, instituição ou lei dá origem não apenas a um efeito, e sim a uma série de efeitos. Desses efeitos, apenas o primeiro é imediato; ele se manifesta simultaneamente à sua causa – e é visto. Os demais se sucedem – eles não são vistos; eles são bons para nós, desde que permaneçam ocultos. Essa é a diferença entre o mau e o bom economista — um leva em conta o efeito visível; o outro leva em conta os efeitos visíveis e também aqueles que têm de ser previstos.

Uma das principais leis da economia e da lógica é a de que uma coisa nunca é só uma coisa, porque os recursos sempre têm usos alternativos.

Quando as Nações Unidas disseram que a gripe aviária H5N1 mataria milhões, em 2005, os pesquisadores desviaram recursos preciosos de outros problemas de saúde muito mais sérios. Menos de 300 pessoas morrem por conta do H5N1, o que equivale a um quinto das mortes diárias por malária. O pânico diante de uma possível pandemia pode matar muito mais do que a doença em si, porque os recursos usados equivocadamente para combatê-la vêm de algum outro lugar.

Quando aceitamos o hambúrguer sem carne como uma vitória sobre a agricultura industrial, não pensamos em quanta terra tem de ser desmatada para se cultivar soja. Ficamos entusiasmados com os carros elétricos que têm “emissão zero” de carbono, mas não vemos que há uma usina a carvão do outro lado da rede elétrica. Concordamos em não usar canudos plásticos sem pensar que as tampas “sem canudos” acabam por consumir mais plástico.

Reclamamos dos oleodutos sem pensarmos em quantos caminhões-tanques são necessários para transportar combustível para aquecer as casas. Consideramos os combustíveis fósseis sujos e prejudiciais sem refletirmos sobre o papel deles na proteção de florestas que de outra forma seriam cultivadas ou queimadas como combustível.

Em nosso furor em fazer o que parece a coisa mais útil, não previmos as consequências. Quanto maior a mudança proposta, maior o seu dano em potencial.

O claro e o oculto: atenuantes das mudanças climáticas

Todos os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que servem para nos orientar quanto às mudanças climáticas, falam de um grande salto de riqueza previsto para ocorrer entre 2000 e 2100. Até mesmo os mais pobres do mundo serão de quatro a dezoito vezes mais ricos do que hoje, de acordo com o IPCC.

Pessoas mais ricas são mais capazes de lidar com as mudanças climáticas e têm menos chance de morrer de causas naturais do que os miseráveis. Sejam quais forem os problemas causados pelas mudanças climáticas, os fundos necessários para manter as pessoas em segurança serão muito mais abundantes no futuro do que são hoje. No curto prazo, os recursos que Ocasio-Cortez diz que devem ser usados para lutar contra uma mudança climática distante têm uma utilidade maior no presente porque as pessoas são mais pobres agora do que serão no futuro, mesmo com as previsões assustadoras do IPCC.

Exigir sacrifício dos moradores dos países em desenvolvimento – como querer que eles paguem mais por alimentos escassos de modo que eles possam ser queimados como biocombustível — causará muito mais dano do que uma inundação em potencial daqui a 50 anos, quando o risco de uma fome disseminada será menor. Tais exigências não fazem sentido, como Matt Ridley explica à exaustão no livro O Otimista Racional:

[Os gastos para se conter as mudanças climáticas exigem] que a salvação de uma vida de uma inundação costeira em 2020 tenha a mesma prioridade hoje do que uma vida salva da AIDS ou malária (...) isso é o mesmo que dizer que seu tataravô, cujo padrão de vida era praticamente o mesmo de um zambiano contemporâneo, deveria ter reservado a maior parte da sua renda para pagar suas contas de hoje.

Até mesmo no pior dos cenários pintados pelo IPCC, aqueles que enfrentarão as mudanças climáticas daqui a cem anos estarão muito mais preparados para lidarem com esses problemas em comparação à nossa capacidade de nos sacrificarmos na esperança de evitar tais problemas.

Deveríamos celebrar o desejo dos jovens de fazerem o bem e mudarem o mundo. Deveríamos também estar cientes dos impactos desastrosos de se “fazer qualquer coisa”, sendo que ninguém é capaz de prever as consequências de nossos feitos – ou desfeitos.

O acesso do meu bisneto às ilhas Keys não pode ter prioridade sobre o acesso de uma criança de hoje à alimentação adequada, nem que para isso tenha que se usar combustíveis fósseis e pesticidas. Exigir que “façamos alguma coisa” para impedir o crescimento econômico é priorizar a conveniência futura sobre a sobrevivência atual.

A dra. Laura Williams leciona comunicação para estudantes e executivos. Ela é apaixonada pelo pensamento crítico e liberdades individuais. 

© 2019 FEE. Publicado com permissão. Original em inglês

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