Considerar algumas atividades não-essenciais é um erro que terá consequências graves.| Foto: Pixabay
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Há alguns meses, talvez fosse difícil imaginar um mundo onde trabalhar, atender as mesas de um restaurante ou fazer negócios eram atividades passíveis de punição. Onde frequentar a academia ou cortar o cabelo não eram coisas indignas e até consideradas hipócritas.

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Era até impensável que uma autoridade eleita dissesse a seus eleitores, sem deixar margem para dúvidas, que as empresas deles não eram consideradas “essenciais” o bastante para terem permissão de continuar operando.

Uma crise realmente pode virar o mundo de cabeça para baixo.

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Neste caso, a crise é a da pandemia de Covid-19. E embora as soluções do governo para “achatar a curva” variem, muitas delas envolvem decretos com consequências negativas para empresários e trabalhadores, sem falar no efeito prejudicial sobre a economia nacional e mundial.

Atividades essenciais e não-essenciais

Em todo os Estados Unidos, governos municipais e estaduais estão reagindo à ameaça do coronavírus instituindo quarentenas e fechando o que eles chamam de “atividades não-essenciais”.

Atividades essenciais têm o benefício de continuar em funcionamento apesar da pandemia. Ainda que a definição exata varie de estado para estado e cidade para cidade, entre as atividades consideradas essenciais geralmente estão mercados, serviços de emergência e de saúde.

Muitos comércios como lojas de vestuário, bares, academias, salões de beleza e restaurantes são considerados atividades “não-essenciais” e foram obrigados a fechar as portas por tempo indeterminado.

Em Los Angeles, o prefeito Eric Garcetti chegou a repreender empresários egoístas” que continuam com as portas abertas (apesar dos decretos) e ameaçou não apenas processá-los criminalmente como também cortar a água e a energia das empresas.

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“Se vocês não fecharem, nós os fecharemos”, prometeu ele a seus eleitores empresários.

Implicações econômicas

Os Estados Unidos já estão vendo os efeitos das medidas dos estados e municípios que repreendem milhões de transações econômicas voluntárias, praticamente do dia para a noite, e sem garantia de quando a economia terá permissão para reabrir.

Os pedidos recordes de seguro-desemprego dispararam, já que milhões ficaram sem trabalho, e os economistas preveem que muitos mais ficarão desempregados.

Esse número aumentará enquanto atividades econômicas antes legais continuarem proibidas. O Federal Reserve de St. Louis estima que se o desemprego pode chegar a alcançar 32% da força de trabalho — impressionantes 47 milhões de pessoas.

Além disso, analistas do JP Morgan estimam que o PIB norte-americano cairá 30% neste trimestre, enquanto o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, fala em até 50% — estimativas de quedas bruscas que são consequência direta ou indireta da intervenção do governo na economia.

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Quem decide?

Quando uma autoridade do governo é capaz de determinar quão essencial é o ganha-pão de alguém, todos se tornam vulneráveis aos caprichos e vontades dos políticos e da falta de conhecimento econômico deles.

Em circunstâncias normais, as empresas podem fechar por causa de uma administração falha ou falir porque seus produtos são ruins. A beleza da livre iniciativa é que centenas, milhares e até milhões de consumidores podem decidir se vale ou não a pena comprar um produto ou se vale a pena ou não manter uma empresa.

A paralisação da economia não é reflexo da livre concorrência ou de um cenário de competição justa, e decisões tomadas por uns poucos governantes quanto à importância de algumas empresas ou atividades em relação a outras é, na melhor das hipóteses, arbitrária.

Os mercados estão mais cheios do que nunca e talvez ainda mais cheios porque estão funcionando em horários reduzidos.

Por que é aceitável que os consumidores se aglomerem no Walmart e não na HomeGoods [rede de lojas de móveis]? O sustento de todo vendedor é igualmente importante. Será que os mercados são mais capazes de adotar padrões sanitários elevados do que os salões de beleza ou restaurantes?

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É concebível que uma empresa prefira se adaptar às circunstâncias da pandemia a fechar completamente as portas.

Infelizmente, os governantes de todo o país acham que só eles têm as respostas.

Mas, como já explicou o famoso economista F.A. Hayek:

A função mais curiosa da economia é explicar aos homens quão pouco eles realmente sabem sobre o que se imaginam capazes de planejar.

As reações ao coronavírus têm provado isso. O tempo todo, as autoridades ignoram a realidade financeira de milhões de pessoas que vivem mês a mês e ignoram também a complexidade inerente da economia. Todas as atividades estão inter-relacionadas — não podemos romper cadeias de produção e esperar que as atividades “essenciais” não sofram com isso.

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O sustendo de todos é essencial

Se você trabalha com comércio, serviços de saúde, tem uma pequena empresa ou um cargo numa grande corporação é irrelevante. Negar às pessoas a capacidade de trabalhar, de ganhar a vida e de cuidar de si mesmas é tirar delas direitos humanos básicos. Se isso é verdade, é verdade sempre – até mesmo durante uma pandemia.

Eis o que os políticos não compreendem. A economia não é um interruptor que pode ser desligado e ligado rapidamente, sem consequências. A liberdade econômica não é apenas parte fundamental do sonho norte-americano; é um pré-requisito para a prosperidade.

O que é mais importante no momento? O sustento de todos é essencial.

A atividade econômica é, em essência, uma atividade humana. Considerar algumas atividades não-essenciais é um erro que terá consequências graves.

Amanda Snell é analista na FEE.

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© 2020 FEE. Publicado com permissão. Original em inglês.
Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]