Warren Buffett, o bilionário que abriu mão de grande parte de sua fortuna| Foto: HBO/Divulgação

Por que não reservar uns 90 minutos do seu tempo para ter um lembrete agradável de que nem todos os bilionários são só membros desalmados do gabinete de Trump?

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Em qualquer outro contexto, o documentário da HBO, “Becoming Warren Buffett”, de Peter Kunhardt, que estreou na tevê americana (e ainda não tem previsão de ser exibido no Brasil), pareceria “chapa branca” demais – um retrato caloroso, que beira o louvor, homenageando o sucesso, as características peculiares de personalidade e a eventual magnanimidade do famoso “Oráculo de Omaha”, que reuniu bilhões o suficiente em suas sete décadas como investidor para poder comprar a todos nós, se quisesse – várias vezes, inclusive.

Becoming Warren Buffett” também pode ser visto como um estudo de caso em reconhecimento de virtude e valor. Os que amam o dinheiro e detêm uma fé certeira no conceito da fortuna acumulada por mérito próprio terão suas esperanças no capitalismo reafirmadas aqui. Ao mesmo tempo, porém, os que acreditam que os corações dos mais velhos podem amolecer também, e não só endurecer, como era de se esperar, se sentirão encorajados com a história de como Buffett decidiu, em 2006, abrir mão de quase o total, exceto por uma fração minúscula, do seu valor líquido (estimado em US$ 75 bilhões).

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Ver uma pessoa tomando a decisão de doar tudo isso de dinheiro é uma coisa rara, sobretudo para alguém que, como revela o documentário, com ternura, ainda conta as moedinhas todas as manhãs no drive-thru do McDonald’s e escolhe o seu café da manhã minguado com base no seu desempenho na Bolsa no dia anterior. A câmera de Kunhardt acompanha Buffett ao longo de suas rotinas diárias na sede confortavelmente não chamativa de Berkshire Hathaway em Omaha, onde o bilionário passa a maior parte dos seus dias sentado, absorvendo informações – a maioria delas no jornal do dia.

“Eu estou bem depreciado”, observa Buffett, agora aos 86 anos. “Mais um pouco e dá para vender para o ferro velho”.

Contando moedinhas

Becoming Warren Buffett” é precisamente aquilo que o título oferece: com a ajuda dos seus três filhos, incrivelmente bem ajustados, e seus irmãos ainda vivos, é possível termos uma imagem desse filho inteligente e instintivamente empreendedor de um político do Nebraska, que se criou durante a Grande Depressão. Desde pequeno, tudo que Warren mais gostava era contar moedinhas e calcular juros compostos. No papel de principal tema do documentário e como também um dos principais influenciadores do mercado, Buffett tem um dom quase supernatural de fazer o seu sucesso parecer fácil e simples. É claro, no entanto, que isso não é verdade.

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Os filhos de Buffett, honesta e educadamente, avaliam a incapacidade (e, às vezes, indisposição) que seu pai teve de demonstrar amor e atenção quando eles eram mais novos, o que acabou levando sua esposa, Susie, uma mulher generosa e cheia de energia, a se separar dele na década de 1970, após os filhos crescerem.

“Bem, não tem muito o que dizer disso, na verdade”, afirma Buffett. Bem, na verdade tem sim: Susie e Warren nunca se divorciaram. Ela pediu para uma amiga da vizinhança, Astrid Menks, que visitasse Warren de vez em quando. Então, Astrid e Warren acabaram se envolvendo, e todo mundo ficou satisfeito com o arranjo, que durou até a morte de Susie, de câncer, em 2004. Nesse ponto, Warren e Astrid se casaram.

Nossas convicções:

O valor da família

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A importância do casamento

Livre iniciativa

Às vezes não há nenhuma boa resposta para os problemas humanos”, diz Buffett em certo ponto do documentário. “Com o dinheiro, quase sempre se tem uma resposta

Warren Buffett bilionário americano

Após a morte de Susie, Buffett começou a se dar conta de que havia adiado demais já os gestos filantrópicos que sempre quis fazer. Com ajuda dos seus amigos, Bill e Melinda Gates, ele prometeu publicamente que doaria quase tudo que tinha (uma longa lista de organizações e causas que se beneficiaram do gesto de Buffett aparece no final do filme).

“Às vezes não há nenhuma boa resposta para os problemas humanos”, diz Buffett em certo ponto do documentário. “Com o dinheiro, quase sempre se tem uma resposta”. O legado de Buffett provavelmente deverá se encaixar em algum lugar entre as duas coisas – respondendo e ajudando a um número considerável de problemas humanos com a fortuna que ele deixou para trás.

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Hank Stuever é o crítico de TV do The Washington Post desde 2009. Ele entrou para o jornal como escritor para a seção de estilo em 1999, onde faz cobertura de uma variedade de temas de cultura popular (e impopular) em toda a nação.