Paulo Pimenta: ministro-chefe da Secom tem o desafio de impulsionar as campanhas municipais do PT em 2024.| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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Na mais recente edição de seu programa no YouTube, ‘Conversa com o Presidente’, Lula fez um pedido às famílias brasileiras: “Esqueçam as divergências políticas e vamos outra vez ser felizes”.

“Eu queria dizer para as pessoas que brigaram nas eleições, para aquela pessoa ignorante que brigou com o filho, para aquele filho que brigou com o pai, para aquela nora que brigou com a sogra, para a sogra que brigou com o sogro.... Parem de brigar”, afirmou o mandatário, diretamente da Alemanha, onde se encontrou, na semana passada, com o primeiro-ministro do país, Olaf Scholz, assinou acordos de cooperação e discutiu questões nas áreas do clima, comércio e combate à desinformação.

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Acompanhado de vários ministros, Lula ainda fez uma brincadeira com Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social (Secom). “Há um gesto que quero fazer para provar que isso é possível. O Pimenta é torcedor do Internacional, eu sou torcedor do Corinthians. Pois o Inter teve a coragem de ir no [estádio] Itaquerão e derrotar o meu Corinthians. E nem por isso eu estou com raiva do Pimenta. Vou terminar o programa dando um abraço nele”, disse, fazendo um afago no político gaúcho.

Paulo Pimenta, por sua vez, reiterou a mensagem do chefe: “Está chegando o Natal e o Ano Novo e é a hora de as famílias brasileiras se reencontrarem. É o momento da união do povo brasileiro”.

Um dia antes, no entanto, o responsável pela Secom adotou um tom bem diferente durante uma reunião realizada na embaixada do Brasil em Berlim. Sem a presença de Lula, e sendo gravado apenas por assessores e o público participante, Pimenta “mandou a real” sobre os objetivos do PT para os próximos anos – e unir o país, definitivamente, não está entre eles.

Em um vídeo postado por um brasileiro que esteve no encontro, o ministro aparece respondendo à pergunta de uma militante petista sobre a formação de alianças com outros partidos em nome da “arte de governar”. Ele admitiu que o resultado das últimas eleições não foi “linear”, pois Lula só venceu no Pará, nos estados do Nordeste e entre a população de menor escolaridade. Também citou a vitória dos conservadores no Congresso Nacional e a necessidade de se formar um governo de composição.

E encerrou antecipando a estratégia do PT para o pleito municipal do próximo ano. “Precisamos eleger candidatos que sejam contra o Bolsonaro. Não estamos mais na época de construir nomes, temos de ganhar a eleição. Precisamos formar alianças nas cidades para derrotar o bolsonarismo. Porque já está em jogo o desenho que a gente vai ter lá na frente, em 2026”, disse, transformando um evento de Estado, organizado com dinheiro público, em um encontro partidário.

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Para dar conta da sua parte nessa missão, Paulo Pimenta contará com um orçamento de R$ 647 milhões destinados à propaganda oficial do governo em 2024 – um senhor aumento se comparado aos R$ 359 milhões disponíveis neste ano (e que não inclui a publicidade mantida pelos bancos públicos e grandes estatais). Mas, a julgar pela pressão que vem recebendo somente nestes primeiros 11 meses de gestão, a vida do ministro não será nada fácil daqui para frente.

Ministro é um dos mais criticados pelos aliados do governo

Alvo de todo tipo de fogo amigo, Pimenta é acusado de promover uma comunicação “careta”, fria, institucional demais. O primeiro aliado a criticá-lo publicamente foi o deputado federal André Janones (Avante-MG), que já em maio respondeu um tuíte do ministro escrito na terceira pessoa.

“Escreva em primeira pessoa. Rede social é local de intimismo. Para se aumentar o engajamento, se faz necessário criar uma sensação de pertencimento no usuário, ainda que não seja Vossa Excelência quem está digitando. Isso é o ‘beabá’ das redes sociais”, afirmou

Para muita gente, tudo não passou de despeito, pois Janones havia sido cotado para a Secom antes de o presidente Lula optar pelo nome de Pimenta. Porém, as críticas ao trabalho do ministro continuaram – e são feitas até pelos maiores bajuladores do governo. Como o ex-banqueiro e atual comentarista político Eduardo Moreira, dono do canal de notícias ICL, popular na bolha esquerdista do YouTube e das redes sociais.

Quando a avaliação negativa do presidente começou a dar sinais de crescimento, Moreira se revoltou em seu programa diário: “Estão tentando enaltecer, transformar em ídolos, os personagens do governo. Eu passo o dia inteiro vendo posts que idolatram o Lula, a Janja, o Dino. Isso está errado! Ninguém no mundo fez isso! Isso é vaidade! Para ganhar as próximas eleições, é preciso investir em temas, não em pessoas. Estão cometendo os mesmos erros”.

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O apresentador Chico Pinheiro, outro conhecido “passador de pano” do presidente, acredita que a comunicação do Planalto “poderia ser bem melhor”. Em um debate no canal do UOL, ele citou a falta de compreensão dos brasileiros sobre o arcabouço fiscal. “É como se isso fosse um assunto de gente 'de gravata' e que você, paspalho trabalhador, não pudesse entender. Falta traduzir, trocar em miúdos os problemas do país para o cidadão comum.”

Já o colunista “progressista” Leonardo Sakamoto, também do UOL, reconhece que Jair Bolsonaro entendeu o advento das redes sociais e as transformações ocorridas no relacionamento entre o governo e a população. “Não adianta usar estruturas antigas para comunicar de uma forma nova. É preciso se colocar de uma forma mais humana e menos dura. O governo Lula, por ter mais uma carga mais popular, poderia surfar melhor nisso.”

E mesmo os militantes da base costumam detonar o ministro da Secom na internet. “Paulo Pimenta parou no século passado e a comunicação é ruim, tocada de qualquer jeito”, “Ele está preocupado só com seu projeto pessoal. E até nisso vai dar errado. Um show de incompetência, orgulho e falta de empenho”, “Não é nem amadorismo, já virou deboche mesmo. Parece que estão fazendo só para constar” são algumas das opiniões emitidas por petistas anônimos no Twitter/X.

Pimenta, que também lidera a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), defende-se alegando que o papel da Secom está sendo interpretado de forma distorcida por essa ala dos apoiadores do governo. “Somos comunicação institucional, não podemos fazer a briga de rua nas redes sociais”, disse, em uma entrevista à revista (pró-Lula) CartaCapital.

Na última quinta-feira (7), depois da divulgação de pesquisas do Datafolha e do Ipec que mostram uma estagnação da aprovação do presidente, ele afirmou à emissora CNN que “a colheita começa em 2024”. Segundo ele, os número vão começar a melhorar “após essa fase de reorganização”.

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Pimenta compartilhou teoria conspiratória sobre o atentado contra Bolsonaro

Escolhido para a Secom por ser jornalista e também o cacique do PT mais atuante nas redes sociais, Paulo Pimenta, de 58 anos, assumiu o cargo prometendo combater as fake news – e até instituiu uma Coordenação-Geral de Liberdade de Expressão e Enfrentamento à Desinformação.

Mas, bastou o anúncio da criação dessa nova estrutura, e a imprensa rapidamente tratou de lembrar que o ministro compartilhou em seus perfis uma das teorias da conspiração mais absurdas da política nacional: a de que o ex-presidente Jair Bolsonaro forjou o ataque com faca sofrido em 2018, um mês antes das eleições.

Pimenta chegou a postar em sua conta do Facebook a íntegra do documentário ‘Bolsonaro e Adélio, uma Facada no Coração do Brasil’, produzido em 2021 pelo site esquerdista Brasil 247. Dirigido pelo jornalista Joaquim de Carvalho, o filme insinua que o atentado foi armado para evitar a participação do então candidato nos debates da televisão.

Questionado, no início deste ano, sobre as várias mensagens que postou acusando o ex-presidente de fabricar o atentado, o ministro afirmou não ter divulgado fake news, e sim emitido uma opinião. E em maio, quando participou de uma audiência pública no Câmara dos Deputados para explicar as ações do governo quanto à regulamentação das redes sociais, ele praticamente se fez de desentendido.

"Sempre me opus à narrativa criada em torno do episódio da facada em Bolsonaro. Criou-se uma narrativa no sentido de buscar uma conotação política de responsabilização, inclusive do nosso partido, sobre um fato sem indícios de realidade. É um bom exemplo de como se constrói uma narrativa falsa", disse.

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Nessa mesma sabatina, Pimenta acabou sendo provocado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). “Fala se é fake news ou verdade que o seu nome estava na lista de propina da Odebrecht com o apelido de Montanha”, perguntou o “filho 02”.

“Sempre que ouço essa expressão, Montanha, lembro da montanha de votos que faço em cada eleição”, disse o petista, eleito deputado pelo PT do Rio Grande do Sul por quatro vezes consecutivas (e atualmente licenciado para comandar a Secom). “Jamais estive em qualquer lista ou investigação sobre a Odebrecht ou qualquer coisa dessa natureza. Isso é mentira.”

Não é bem assim. Em 2016, Benedicto Júnior, ex-executivo da empreiteira que firmou delação premiada com o Ministério Público, apresentou uma relação com centenas de nomes de políticos e autoridades e seus respectivos apelidos – usados para ocultar o recebimento de propina paga pela empresa.

A Justiça barrou as investigações, porém Pimenta/Montanha realmente constava da lista, ao lado de figuras como Gleisi Hoffmann (Amante), Aloizio Mercadante (Aracaju), Geraldo Alckmin (Belém), Rodrigo Maia (Botafogo) e o próprio Lula (Amigo).

Para setores do governo, chefe da Secom comete gafes e cria “ruídos desnecessários”

Os tropeços de Paulo Pimenta, no entanto, não se limitam ao ambiente virtual. Parlamentares e membros do próprio PT costumam criticá-lo por cometer gafes e criar “ruídos desnecessários” em anúncios do governo.

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Como na ocasião em que ele garantiu que o economista Marcio Pochmann seria o novo presidente do IBGE – enquanto a ministra do Planejamento, Simone Tebet, futura chefe de Pochmann, afirmou ainda não ter sido consultada sobre essa possibilidade.

Outro episódio que pegou mal foi sua tentativa de desqualificar a apresentadora da CNN Brasil Raquel Landim. Historicamente um crítico do que chama de “imprensa corporativa”, o ministro se irritou com uma pergunta feita por Raquel e rebateu, ao vivo: “Você é jornalista?”.

O assunto da conversa era o plano do PCC, investigado pela Polícia Federal, para sequestrar e matar o senador Sergio Moro (União-PR). Na época, Lula chegou a dizer que o caso, na verdade, poderia ser “mais uma armação do Moro”.

Surpresa com a grosseria de Pimenta, a âncora respondeu apenas que “sim, formada pela Universidade de São Paulo”. Mais tarde, em suas redes, ela completou – “Sou jornalista, sim. Meu papel é fazer perguntas; o da autoridade pública deveria ser trazer os esclarecimentos”.

Em um post, ele se justificou dizendo que se manifestou daquela forma “para mostrar como a bancada do programa da CNN agia, com acusações e agressões ao presidente Lula”. “Em nenhum momento lembrava um debate, e sim uma inquisição”, disse o político, cuja atitude com Raquel foi considerada machista por mulheres nas redes sociais.

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Em outra entrevista, dessa vez no programa ‘Roda Viva’, da TV Cultura, o ministro relativizou a atuação do Hamas após os ataques de 7 outubro contra Israel. “O Hamas tem que ser responsabilizado pelo que fez, mas nós já vivemos situações no mundo em que o IRA era considerado terrorista e hoje faz parte do governo do Reino Unido. Já vivemos situações em que o Nelson Mandela ficou 27 anos na cadeia, acusado de terrorismo, e se tornou uma das maiores lideranças, um dos maiores estadistas do século XX.”

Mas como bem destacou o jornalista Guilherme Waltenberg, do site Poder360, que participava da arguição: “O Mandela não matou bebês e nem crianças”.

Não custa lembrar que, em 2021, dez parlamentares do PT divulgaram uma nota conjunta na qual se posicionaram de forma contrária à classificação do Hamas como “organização terrorista”. Curiosamente, esse mesmo grupo definiu como “atos terroristas” as cenas de vandalismo protagonizadas por apoiadores de Bolsonaro em Brasília, em janeiro deste ano.

Paulo Pimenta, que costuma tuitar homenagens a líderes latinos que cometeram crimes contra a humanidade, como Che Guevara, Fidel Castro e Hugo Chávez, também assinou o documento, intitulado “Resistência não é terrorismo!”.

Mas nenhuma das controvérsias citadas acima se compara a uma situação ocorrida em 2005, quando Pimenta, então deputado federal, teve de renunciar ao cargo de vice-presidente da CPI do Mensalão após ter se encontrado, em segredo, com o publicitário Marcos Valério – operador do esquema.

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Com a intenção de obter informações para a comissão, ele entrou no carro de Valério, de madrugada, na garagem do Congresso, e voltou de lá com uma relação de políticos do PSDB e do PFL supostamente envolvidos no escândalo. As câmeras do sistema de segurança acabaram entregando a falta de ética do parlamentar gaúcho, que pediu desculpas pelo erro constrangedor e abandonou seu posto na CPI.

Fiel ao presidente, Paulo Pimenta foi um dos aliados que mais o visitou na cadeia

Apesar de aparecer em várias listas de ministros que podem ser substituídos nas próximas reformas do Planalto, Pimenta aparentemente está longe de perder a chefia da Secom. O motivo é a sua fidelidade extrema ao presidente, a quem visitou várias vezes durante a prisão em Curitiba.

Mais do que isso: o político gaúcho foi um dos autores, em 2018, do pedido de liberdade de Lula, acatado pelo desembargador Rogério Favreto e logo em seguida derrubado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

Amigo pessoal de Pimenta (e doador de duas de suas campanhas eleitorais), Favreto chegou a ser cogitado para concorrer à vaga de Ricardo Lewandowski no STF. Mas, segundo o site Consultor Jurídico, “sua discrição impediu que isso chegasse aos jornais”.

Naquele mesmo ano, a imprensa noticiou que a mulher de Paulo Pimenta, a historiadora Cláudia Pereira Dutra, havia sido empregada em um cargo comissionado no Senado, como assessora do Bloco Resistência Democrática, formado pelo PT e o PDT e liderado pelo então senador Lindbergh Farias.

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No final de 2022, Cláudia, que também trabalhou no Ministério da Educação nos governos de Lula e Dilma, foi incluída na equipe de transição do novo governo.

Homem de confiança do presidente, Pimenta entrará em 2024 com a dura tarefa de impulsionar as campanhas municipais do PT, após os fiascos dos pleitos de 2016 e 2018 – quando o partido elegeu, respectivamente, 256 e 189 prefeitos (um número baixíssimo perto dos 630 vencedores em 2012).

A corrida, no entanto, já começa no próximo dia 12, quando o partido lança oficialmente a candidatura do deputado federal Rogério Correia à prefeitura de Belo Horizonte. Fortalecido em Minas Gerais após as eleições de 2022, o PL – e, consequentemente, o bolsonarismo – é o alvo a ser destruído pela máquina petista.

A reportagem da Gazeta do Povo solicitou à Secom uma entrevista com o ministro Paulo Pimenta, mas não foi atendida.

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