Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Última Análise

“O uso político da arte estraga a arte”, diz jurista André Marsiglia sobre Nasi

posicionamento político de Nasi afasta fãs da direita
O jurista André Marsiglia critica a excessiva politização dos artistas (Foto: Reprodução/YouTube Gazeta do Povo)

Ouça este conteúdo

O programa Última Análise desta quarta-feira (16) analisou o caso envolvendo Nasi, vocalista da banda Ira!, que expulsou fãs de show por motivo político. A atitude trouxe à tona a questão de politização dos artistas e se deve haver ou não uma separação entre obra e autor. O jurista André Marsiglia considera o tema como mais importante do que aparenta: "Questão política central no debate público", define.

Responda à enquete: você concorda com o cancelamento dos shows do Ira! no Sul do Brasil?

A politização da arte é algo "menor" e distante do "belo e do sublime", afirma Marsiglia. Assim, para ele, o proselitismo na criação artística é o responsável por estragar a própria obra. O fundo político da declaração de Nasi demonstra o uso indevido da arte, ele completa. "É usar a arte para algo que é político, que é menor, algo que não tem a ver com o belo e o sublime. O que importa da arte é o belo, e aí não tem essa de direita ou de esquerda, porque o belo tem a ver com sensibilidade, não com o universo da política", destacou.

O escritor Francisco Escorsim concorda, lembrando o caso de outro vocalista de uma famosa banda de rock: "Eles se tornam tão proselitistas que você já não consegue mais consumir aquilo. O Roger Waters é um desses casos", disse, lembrando do caso do ex-Pink Floyd, que xingou Bolsonaro de neofascista durante um show em São Paulo, em 2018.

Uma questão de vaidade

Ainda segundo Marsiglia, é justamente quando os artistas começam a dar muita entrevista que passam a estragar sua arte. Isso teria fundo em uma prática que tem se tornado cada vez mais comum, que é dar voz à classe artística para falar de política - e, assim, influenciar seus fãs. Algo de pertinência bastante questionável, para o jornalista Leandro Narloch, também presente no debate. "Por que a gente dá tanta importância para opinião política de artista?", indaga.

O jornalista da Gazeta do Povo Omar Godoy acredita que, no caso de Nasi, a situação é ainda mais peculiar. Além de confrontar o público com pensamento político ideológico divergente, o cantor pertence a uma era em que o artista era muito distante do público. Uma geração que teria dificuldade de entender que a distância entre público e artista está cada vez menor, devido à internet e às redes sociais.

"Diz-se hoje em dia que o artista é até refém do público, e tem um lado negativo disso. Mas por essa vaidade de artista antigo, que está num pedestal, ele (Nasi) não teve jogo de cintura e entrou na pilha do 'sem anistia', cometendo depois o erro ainda maior de dizer para o seu público não vir mais (aos shows)", lembrou.

O caso aconteceu em Minas Gerais, quando o vocalista do Ira! gritou “sem anistia!” durante um show, mas não gostou quando parte da plateia começou a vaiar. Ele pediu então para que os bolsonaristas fossem embora e não aparecessem em suas apresentações. O caso cobrou seu preço: depois do episódio, pelo menos quatro shows foram cancelados em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, porque muita gente começou a devolver os ingressos.

Mas, para Godoy, a conta é simples: "Assim como o artista tem liberdade de expressão para falar, o público também tem o direito de se expressar e reagir". Fica para Nasi, e para a classe artística politizada, a capacidade de lidar com as consequências.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros