
Além das várias normas da ABNT (são mais de 10 relacionadas à construção com o bloco de concreto) e outras exigências, como as regras de qualidade que a própria CEF impõe sobre os projetos que financia no sistema (nenhum novo jeito de construir tem sucesso sem o aval do banco), os profissionais da construção seguem uma rotina de controle rígida em uma obra de alvenaria estrutural. "Parte desse controle está em recolher os blocos de concreto e testá-los individualmente e em prisma (nome dado a uma simulação de uma pequena parede) para o teste de resistência e desempenho. A fábrica faz o controle dela e nós fazemos mais um", esclarece o diretor técnico da Baú Construtora, Norley Baú.
Há também o controle técnico diário da obra, em que questões como o alinhamento das paredes são verificadas constantemente. "Trabalhamos com uma junta ideal de um centímetro. Se o trabalhador que estiver executando fugir disso a modulação das paredes não fecha". Isso ocorre porque os blocos de concreto têm dimensões fechadas que precisam ser usadas como base já no projeto arquitetônico. "Não dá para quebrar um pedaço do bloco, como fazemos com o tijolo de cerâmica, para fechar o tamanho da parede", ressalta Baú.
Essa condição é uma das limitações da alvenaria estrutural. "É um sistema que não permite improvisos. É preciso ter todos os projetos, do arquitetônico, ao elétrico e hidráulico, para começar a obra. Os canos e conduítes passarão por blocos vazados com local pré-definido. Não dá para mudar a posição deles depois do imóvel construído, só durante a fase de projeto. Os clientes que compram os imóveis, portanto, têm um prazo restrito para pedir mudanças como mais pontos de tomada", explica Mayra Doria Mattana, diretora de engenharia da Doria Construções, empresa que trabalha com alvenaria estrutural em 80% de suas obras de incorporação. "É como se fosse uma linha de montagem de automóvel que segue um processo que não pode ser modificado", exemplifica Munir El Laden, coordenador de obras da Rossi Residencial, empresa que inicia este mês a construção do Vida Bella Praças Residenciais em alvenaria estrutural, no bairro Atuba, em Curitiba, e pretende lançar mais um empreendimento no perfil na cidade.
Por ser formado de paredes estruturais o sistema não permite que qualquer parede seja quebrada para aumentar um quarto ou integrá-lo à sala. Isso coloca em risco a estrutura do prédio como um todo perigo que afligiu, segundo os especialistas, alguns prédios populares do passado.
Essa rigidez na construção com a alvenaria estrutural é amenizada atualmente por soluções como a pré-definição de paredes que podem ser quebradas essas construídas em tijolos cerâmicos normais ou mesmo bloco de concreto não-estruturais ou ainda com alguma flexibilidade na planta oferecida antes da construção. "Costumamos oferecer cinco opções de planta para os nossos clientes", explica Norley Baú.
Algo parecido está ocorrendo na construção de moradias que fazem parte da reurbanização da segunda maior favela da cidade de São Paulo, Paraisópolis, que abriga 18 mil famílias. Nas obras conduzidas pela Camargo Correia S.A e pelo Consórcio Planova/Via, as paredes internas dos apartamentos de 47 metros quadrados podem ser inteiramente derrubadas. "A função estrutural está concentrada nas paredes periféricas. Fizemos assim porque sabemos o quanto a personalização do lar é importante para as pessoas de baixa renda", avalia o arquiteto responsável pelo projeto das 951 unidades habitacionais, Edson Elito.
Essa exatidão nos projetos limita a criação da arquitetura e a personalização dos imóveis, duas razões pelas quais a alvenaria estrutural não é quase usada em empreendimentos de alto padrão.



