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Os bolos de Philips são famosos pelas obras de arte temáticas feitas a partir da base das massas | YouTube /Reprodução
Os bolos de Philips são famosos pelas obras de arte temáticas feitas a partir da base das massas| Foto: YouTube /Reprodução

A revista Vox pode estar tentando manter sua postura risível de mostrar apenas fatos, mas, pelo contrário, é tendenciosa a ponto de desonestidade: “O confeiteiro do Colorado que se recusou a atender um casal gay agora quer se recusar a atender uma pessoa transexual”, diz.

Isso não é verdade, claro.

(Mas todo mundo sabe disso)

Phillips atende clientes de todos os tipos, incluindo clientes homossexuais. O que ele se recusa, no entanto, é fazer bolos para certos eventos, participação na qual, mesmo como vendedor, violaria seus princípios. Como ele mesmo disse: “Eu atendo a todos. Só não crio bolos para todas as ocasiões.”

Phillips foi processado sob uma lei de direitos civis. Este, no entanto, não é exatamente um caso sobre direitos civis, é um caso sobre compulsão.

Depois de ganhar seu caso na Suprema Corte, Phillips foi novamente alvo de ativistas do Colorado. Um deles pediu-lhe para fazer um bolo para comemorar sua mudança de sexo. Phillips recusou e foi obrigado pelo estado a passar por uma “mediação compulsória”. Ele, então, está contestando na Justiça.

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Tudo começou com a melhor das intenções.

A situação dos afro-americanos nos anos 60 era injusta e insustentável. Por um lado, os ativistas dos direitos civis argumentaram que o projeto de integrar mais profundamente os afro-americanos na vida social, econômica e política do país não poderia ser deixado para os estados (as máquinas políticas controladoras do Sul foram construídas sob segregação) e, mais ainda, que não deveria ficar com os estados por ser um problema especificamente nacional. 

Críticos da legislação de 1964, incluindo republicanos como o senador Barry Goldwater, que apoiou reformas anteriores dos direitos civis, argumentaram que a legislação proposta foi longe demais, que a ampla doutrina de “serviços públicos” inseria a política na vida privada, politizando a condução de negócios e convidando o ‘focinho’ federal a meter-se em lugares que não lhe pertenciam. A tragédia foi, e é, que ambos os lados estavam certos.

As minorias sexuais também enfrentaram sua parcela de discriminação. O presidente Lyndon Johnson, ao mesmo tempo em que se posicionava como defensor dos direitos civis, descrevia a homossexualidade como uma “doença e enfermidade”. O acesso a serviços públicos não era tão difícil para os homossexuais como para os afro-americanos, já que um homem gay poderia comprar uma passagem de trem ou alugar um quarto de hotel sem anunciar sua sexualidade. Mas assim como os americanos negros tinham seu “Livro Verde”, um catálogo de restaurantes e hotéis abertos para eles, os gays americanos também tinham seus guias para lugares seguros e amigáveis, o primeiro dos quais foi publicado em 1964.

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Mas seria tolice comparar a situação dos americanos gays ou transgêneros no Colorado em 2018 com a dos americanos negros no Mississippi em 1930, ou no Arkansas em 1964. Há ampla tolerância e acesso, e as minorias sexuais dos Estados Unidos têm benefícios sociais, econômicos e poder político muito maior do que os afro-americanos tinham na década de 1960. (É, sem dúvida, o caso de que, apesar de seus números menores, os gays americanos têm mais poder social, econômico e político do que os americanos negros têm atualmente). Em 1964, o argumento para intervir em qualquer negócio privado, como um motel ou restaurante, era idêntico ao que propunha a intervenção em todos eles: o problema era sistêmico e, definitivamente, universal.

Coação

O mesmo não pode ser dito sobre Jack Phillips e sua pequena padaria. Nenhum casal gay em busca de um bolo de casamento terá de viajar três estados para encontrar um se Phillips recusar o pedido. Nenhuma pessoa transexual celebrando sua mudança de sexo vai ficar na mão caso Phillips recuse o serviço.

Todo mundo sabe disso. Os ativistas que perseguem Phillips não se importam. A questão não é garantir que gays e transexuais possam viver suas vidas como quiserem - o ponto é que eles querem forçar Jack Phillips a entrar em conformidade com isso.

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Isso é, em parte, uma questão de fanatismo religioso: Jack Phillips é um cristão que, muito provavelmente, irá citar a Bíblia como base para as decisões de seu negócio, e ativistas gays desejam ver esse tipo de pessoa humilhada em público. Eles querem ver a máquina do estado os forçando a se submeter e ter suas crenças pessoais violadas. Há outras intenções envolvidas por trás da perseguição ao “obscuro” confeiteiro.

O mesmo se aplica ao trabalho da esquerda para conseguir financiamento público ao aborto e para usar o poder do governo para obrigar freiras católicas idosas a acrescentar contracepção em seus planos de saúde. Nenhuma dessas controvérsias é sobre qualquer benefício material. (A Planned Parenthood alega que o aborto constitui apenas 3% de seus negócios; certamente eles poderiam cobrir esse custo minúsculo, talvez com uma pequena ajuda de Tom Steyer.) A mensagem é clara: “Você não só vai tolerar o que nós queremos, você vai participar disso”. É mais conveniente defender o aborto se o sangue estiver nas mãos de todos os contribuintes.

O liberalismo sempre lutou para equilibrar a proteção dos direitos das minorias contra as instituições majoritárias e a proteção dos direitos individuais. A esquerda americana se libertou de tais considerações ao abandonar o liberalismo em favor de políticas de identidade e de um justiça eficiente. Por que obrigar Jack Phillips a ceder? Porque você pode e porque você o odeia. O ódio é uma parte intrínseca do tribalismo, e o ódio é agora o mais importante princípio organizador da esquerda americana.

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TH White compreendeu esse princípio, que descreveu como a constituição de uma colônia de formigas: “Tudo o que não é proibido é compulsório.” Para os dissidentes irritados como Jack Phillips e para os inconformistas de nosso tempo, temos uma dívida de gratidão. Se a ética humana sobreviver à ética das formigas, será, em grande parte, por causa deles.

©2018 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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