O líder da maioria no Senado dos EUA, o republicano Mitch McConnell (E) reage enquanto o presidente Donald Trump fala à imprensa antes de uma reunião com os líderes congressistas republicanos na Casa Branca, em 5 de setembro de 2018| Foto: NICHOLAS KAMM/AFP

Um funcionário de alto escalão da administração do presidente dos EUA, Donald Trump, escreveu um artigo anônimo para o jornal The New York Time, publicado nesta quarta-feira (5), dizendo fazer parte da "resistência" interna ao presidente, segundo ele, composta por republicanos conservadores que estão dispostos a sabotar parte das ações presidenciais porque consideram Trump amoral. 

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O que diz o artigo de opinião?

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Em uma coluna intitulada "Sou Parte da Resistência Dentro da Administração Trump", a pessoa que o Times identifica apenas como "oficial sênior" descreve o estilo de liderança de Trump como "impetuoso" e o acusa de agir imprudentemente "de uma maneira que é prejudicial para a saúde da nossa república". 

O assessor escreveu que os membros do gabinete testemunharam instabilidade de Trump o suficiente para que surgissem"boatos iniciais" para invocar a 25ª Emenda para removê-lo do cargo, mas decidiu-se evitar uma crise constitucional e trabalhar dentro da administração para contê-lo. 

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"Muitos nomeados por Trump prometeram fazer o que puderem para preservar nossas instituições democráticas, enquanto frustram os piores impulsos de Trump até que ele esteja fora do cargo", escreveu o assessor. 

Qual foi a reação de Trump? 

De acordo com o Washington Post, Trump reagiu à coluna com raiva "vulcânica" e estava "absolutamente lívido" sobre o que considerou ser um ato traiçoeiro de deslealdade. O presidente teria dito a confidentes que suspeita que o assessor republicano que publicou a carta anônima trabalhe em questões de segurança nacional ou no Departamento de Justiça, segundo duas pessoas a par das suas discussões privadas. 

No Twitter, Trump questionou se o alto funcionário seria uma "fonte falsa" e escreveu que, se "a pessoa anônima COVARDE de fato existe, o Times deve, para fins de Segurança Nacional, delatá-la ao governo imediatamente!". 

O presidente já estava se sentindo especialmente vulnerável - e com um profundo "sentimento de paranoia", nas palavras de um confidente - depois de seu retrato devastador no livro de Bob Woodward. Ele estava chateado porque tantos em sua órbita pareciam ter falado com o veterano jornalista investigativo do Washington Post, e começaram a fazer perguntas aos funcionários sobre quem eram as fontes de Woodward. 

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Trump já sentia que tinha um círculo cada vez menor de pessoas em quem podia confiar, segundo afirmou uma importante autoridade do governo que não quis se identificar. De acordo com um amigo de Trump, depois da publicação do artigo anônimo, ele disse que só poderia confiar em seus filhos.  

O que aconteceu na Casa Branca depois da publicação? 

A coluna gerou desconfiança na Ala Oeste da Casa Branca e iniciou um frenético jogo de adivinhação. Assessores assustados cancelaram reuniões e se reuniram a portas fechadas para traçar estratégias de resposta. Auxiliares estavam analisando padrões de linguagem para tentar discernir a identidade do autor ou, no mínimo, o setor da administração em que o autor trabalha. 

"O problema para o presidente é que pode haver tantas pessoas", afirmou um funcionário do governo, que falou sob condição de anonimato para ser franco. "Você não pode chegar a uma pessoa. Todo mundo está tentando, mas é impossível”. 

A frase "as células adormecidas acordaram" circulou em mensagens de texto entre auxiliares e aliados externos. 

"É como os filmes de terror quando todos percebem que o perigo está vindo de dentro de casa", disse um ex-funcionário da Casa Branca que tem contato com ex-colegas de trabalho. 

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Poucas horas depois da publicação do artigo, assessores e pessoas próximas a Trump ofereceram cerca de uma dúzia de teorias diferentes e sugeriram traidores. 

Um assessor, por exemplo, sugeriu que o oficial anônimo esperasse ser pego em flagrante em busca de glória, enquanto outro refletiu que o funcionário provavelmente era um membro de baixo escalão de uma agência periférica. Outros se perguntavam em voz alta o que constituía uma "autoridade sênior na administração Trump".  

O NYT pode publicar um artigo de autor anônimo? 

O Times não publica textos anônimos. A prática é incomum e não recomendada no jornalismo. A exceção foi aberta, segundo o diário, a pedido do autor do texto, que se identifica como um membro de alto escalão do governo Trump. O jornal afirma saber quem escreveu o artigo, mas alega ter se comprometido a não revelar seu nome porque isso colocaria o cargo da pessoa em risco. 

O editor da página editorial do Times, James Bennet, se recusou a fornecer mais informações sobre a posição ou identidade do escritor, mas disse que o jornal recebeu o artigo antes das publicações sobre o livro de Woodward, na terça-feira. Ele disse que o jornal "não teria sido capaz de publicar" o artigo se não tivesse concedido anonimato ao autor. 

"Nós pensamos que era uma perspectiva importante para ser publicada", disse Bennet. "Nossa preferência é não publicar anonimamente e raramente o fazemos. A questão é, achamos que a peça era importante o suficiente para fazer uma exceção? Nós sentimos fortemente que sim". 

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De acordo com Jonah Goldberg, editor do National Review, a decisão do jornal em publicar o artigo foi acertada. Se não fosse o Times, seria o Washington Post ou o Wall Street Journal, disse ele. “É eminentemente interessante (estou assumindo que o autor realmente é um alto funcionário com cargo que justifique a publicação). Também é mais atraente do que seu típico editorial, para dizer o mínimo”, escreveu.  

Quem poderia ter escrito o artigo? 

Logo após a publicação do artigo, esta questão suscitou apostas de todos os lados. A secretária de Imprensa, Sarah Huckabee Sanders, a conselheira Kellyanne Conway, o chefe de gabinete John Kelly e até mesmo o vice Mike Pence foram alguns dos nomes levantados como possíveis autores. Pence negou publicamente ter escrito o artigo “amador”.

Algumas pessoas levantaram a hipótese de que o texto teria sido escrito por John McCain antes de sua morte em um ato final de desafio, enquanto outros previram que Trump e seus aliados haviam planejado e escrito o artigo para alimentar a controvérsia interna e distrair as audiências de confirmação do indicado de Trump à Suprema Corte, Brett Kavanaugh. Mas tudo isso, até agora, é apenas especulação.  

O que pode ter motivado o autor? 

Um fator possível, nas palavras de Goldberg, é a divulgação do livro de Woodward, em uma tentativa de mostrar que os membros da administração estão fazendo justamente o que o escritor conta em “Fear”. 

“Parece-me plausível que o autor [do artigo de opinião] esteja apostando que quando ‘acabar’ [a presidência de Trump] haverá muitas recriminações. Ele - ou ela - saiu na frente com isso. O autor está agora registrando uma explicação que pode parecer menos egoísta do que se fosse dada quando a presidência do Trump acabasse”, escreveu o editor do National Review.  

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Qual a relevância disso? 

A advertência gritante e anônima foi um evento de tirar o fôlego sem precedentes na história presidencial moderna. 

"Para alguém dentro das entranhas da Casa Branca estar dizendo que há um grupo interno de resistência, certificando-se de que o presidente dos Estados Unidos não faça coisas irracionais e perigosas, é um momento espantoso", disse o historiador Douglas Brinkley, professor da Universidade Rice, no Texas. 

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Brinkley acrescentou que o exemplo mais semelhante de deslealdade ocorreu no último ano de Richard Nixon como presidente. Ele explicou que Nixon dava “ordens malucas” aos seus funcionários, as quais eles intencionalmente desconsideravam.