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Embaixada dos Estados Unidos em Havana, Cuba. Casos da “síndrome de Havana” começaram a aparecer na capital cubana e já foram registrados em 17 países
Embaixada dos Estados Unidos em Havana, Cuba. Casos da “síndrome de Havana” começaram a aparecer na capital cubana e já foram registrados em 17 países| Foto: Embaixada dos EUA em Cuba

A potencial invasão da Ucrânia pela Rússia é claramente um desafio urgente de relações exteriores. Mas não devemos ignorar outro esquema sinistro que pode ser obra de Moscou: o enigma chocante e não resolvido conhecido como "síndrome de Havana".

A questão: cerca de 200 oficiais de inteligência e diplomatas dos Estados Unidos sofreram misteriosas lesões cerebrais nos últimos cinco anos - e a Rússia é o principal suspeito.

Os episódios começaram em Cuba, um estado policial com vigilância em praticamente todos os cantos, que aparentemente serviu como cúmplice da Rússia na busca por autoridades americanas e canadenses posicionadas na ilha. Mais de 40 deles sofreram os sintomas neurais debilitantes que caracterizam a síndrome - fortes dores de cabeça, perda de visão e audição, vertigem contínua e danos cerebrais - e tiveram que deixar Havana para tratamento.

Como Washington ainda não estabeleceu as causas, as autoridades americanas chamam a doença de "incidentes de saúde anômalos" - um termo inócuo que mascara a realidade brutal desses ataques deliberados e contínuos.

O Washington Post relatou em novembro que o diretor da CIA, William J. Burns, alertou os líderes do Serviço de Segurança Federal e do Serviço de Inteligência Estrangeira da Rússia sobre "consequências" se Moscou estiver por trás das lesões. Embora o aviso tenha sido hesitante, escreveu o jornal, ele reflete "a profunda suspeita que a CIA tem da culpabilidade do Kremlin".

Quase simultaneamente ao alerta da CIA, o FBI reconheceu publicamente pela primeira vez que vários de seus próprios agentes, a maioria destacados para Viena, Áustria, haviam passado por sintomas associados à síndrome.

O envolvimento mais recente das agências nesta situação ocorreu após pressão de membros do Congresso americano, que se disseram alarmados pelo fato de a síndrome ter se espalhado durante as gestões de três presidentes dos EUA sem resultados conclusivos. Pedindo urgência à investigação, muitas das vítimas reclamaram que suas aflições não foram levadas a sério.

Foi só em outubro de 2021 que a Lei Havana (Ajuda às Vítimas Americanas Afligidas por Ataques Neurológicos - Havana, na sigla em inglês) foi aprovada para compensar, a critério do Departamento de Estado e das agências de inteligência, os funcionários americanos e familiares afetados. Em muitos casos, as vítimas precisaram de amplo tratamento médico nos EUA. Algumas tiveram que se aposentar mais cedo.

A causa exata dos danos parece estar ficando mais clara. De acordo com um relatório de dezembro de 2020 das Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina dos EUA, as lesões cerebrais observadas foram consistentes com os efeitos da energia de radiofrequência, um tipo de radiação de micro-ondas. Os ataques, acrescentou o relatório, foram o resultado de energia "direcionada" e "pulsada", o que significa que as vítimas foram especificamente alvejadas.

Apesar dessa conclusão bem pesquisada e inequívoca de especialistas, alguns continuam a promover teorias infundadas, incluindo a de que uma possível causa da síndrome de Havana seria a "histeria em massa". Enquanto isso, o problema agora se tornou global. Já há relatos de autoridades americanas com sintomas em 17 países: Cuba, China, Rússia, Polônia, Geórgia, Alemanha, Reino Unido, Bulgária, Austrália, Taiwan, Índia, Vietnã, Síria, Uzbequistão, Sérvia, Áustria e Colômbia. Também estão sob investigação dois ataques em território americano, incluindo um contra um funcionário do Conselho de Segurança Nacional perto da Casa Branca.

Este ano, os ataques se tornaram mais descarados - provavelmente encorajados pela impunidade. Em Viena, um centro de diplomatas e espiões de longa data, cerca de duas dúzias de oficiais de inteligência e diplomatas dos EUA tiveram os sintomas em julho, o que tornou a cidade o maior foco da síndrome de Havana depois da capital cubana.

Em agosto, a viagem da vice-presidente Kamala Harris de Singapura ao Vietnã teve um atraso de várias horas depois que a Embaixada dos Estados Unidos em Hanói sinalizou "um possível incidente anômalo de saúde recente". E em setembro, a CNN noticiou que um americano que viajava pela Índia com o diretor da CIA William Burns foi afetado e precisou de tratamento médico - uma mensagem clara de que mesmo aqueles no círculo mais restrito da agência poderiam ser atingidos.

Como exatamente os ataques são realizados? Os especialistas suspeitam do uso de um dispositivo semelhante a uma antena parabólica, que pode ser portátil ou montado em uma van, carro, barco ou helicóptero. Eles normalmente têm efeitos que podem atravessar algumas salas ou até mesmo um quarteirão. Mas dispositivos de alta potência podem ser capazes de disparar feixes por vários quilômetros.

Enquanto a Rússia nega envolvimento nos ataques, a CIA sabe que, durante a Guerra Fria, os soviéticos estavam secretamente desenvolvendo uma arma que poderia direcionar micro-ondas para produzir danos nos nervos. Além disso, em março de 2018, Putin declarou em seu discurso anual ao parlamento que "a Rússia tem todos os motivos para acreditar que estamos um passo à frente" de outros países na criação de "potenciais armas baseadas em novos princípios físicos". Autoridades russas posteriormente indicaram que ele estava se referindo à radiação de micro-ondas como arma.

Apesar de relatos conflitantes sobre a situação da investigação da síndrome de Havana, fontes informadas acreditam que as agências de inteligência dos EUA recentemente tiveram um progresso significativo, graças às interceptações de comunicações e outras descobertas. As agências estariam consolidando o caso contra a Rússia como principal culpada e contra Cuba como cúmplice.

Esperemos que o debate arrastado sobre a quantidade suficiente de evidências não atrase o momento da verdade e da responsabilização. Há muito em jogo: a segurança nacional dos EUA, a posição do país como líder do mundo livre e a saúde e segurança dos oficiais de inteligência e diplomatas.

© 2021 The National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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