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Ricardo Stefano passa 11 horas por dia, cinco dias por semana escovando mocassins sem brilho e sapatos empoeirados de empresários perto da Grand Central Station, algo que faz desde que chegou do Brasil, há 15 anos. Engraxar sapatos representou um rebaixamento em relação ao que fazia antes, quando consertava óculos na loja do pai, particularmente para uma pessoa com um ano de faculdade em seu currículo. No entanto, os compatriotas que vieram antes disseram a ele que poderia fazer muito mais dinheiro engraxando sapatos em Nova York do que consertando óculos no Brasil, e os boatos se provaram verdadeiros.

Aos 43 anos, ele faz US$ 500 (em torno de R$ 1.150) por semana, metade dos quais envia de volta para sua mulher e três filhos no Estado de Minas Gerais. Ele não vê seus filhos desde que partiu. Mas não se arrepende. "Quando você chega a este país, você sabe qual tipo de emprego vai arrumar, porque você não fala a língua, nem tem os papéis", disse ele. "Esse é o preço que se paga."

Os imigrantes brasileiros são um dos grupos étnicos de mais rápido crescimento na região de Nova York atualmente. Diferentemente da maior parte dos latino-americanos, que vêm para cá dispostos a cruzar as fronteiras ilegalmente e têm origem humilde e baixa escolaridade, os brasileiros reqüentemente são de classe média, alta escolaridade e podem pagar para vir de avião legalmente.

Especialistas nesses imigrantes, como Maxine L. Margolis, professora de antropologia da Universidade da Flórida em Gainesville, diz que muitos brasileiros conseguem vistos de turistas, que requerem prova de emprego e economias, depois ultrapassam seu prazo intencionalmente.

Uma vez nos EUA, mesmo os que têm diploma universitário se dispõem a trabalhar como faxineiros, motoristas de limusine e dançarinas de clubes porque o subemprego nos EUA paga muito mais do que empregos de colarinho branco na economia complicada dos EUA.

"No Brasil, você tem qualidade de vida, mas aqui você tem segurança financeira. Quando você experimenta a boa vida, é difícil voltar ao que tinha antes", disse Jamiel Ramalho de Almeida, cabeleireiro que veio de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais no Sudeste do Brasil, que terminou o curso de licenciatura em Filosofia. Almeida, bem apessoado, com barba e dicção perfeitas, é dono do Ipanema Beauty Salon em Astoria, Queens.

Tantos brasileiros para cá vieram que transformaram bairros como o Astoria e o Ironbound, em Newark, Nova Jersey. Juntos, esses bairros abrigam duas dezenas de restaurantes brasileiros, três boates, várias casas de depilação e supermercados que vendem as partes do porco usadas para feijoada - um ensopado de feijão gorduroso, tão pesado que é tipicamente seguido de uma soneca.

Em Ironbound, os brasileiros encontraram imigrantes do país que colonizou o Brasil, Portugal. Em breve, porém, o número de brasileiros vai superar o de portugueses. Há também grandes concentrações de brasileiros em Mineola, Port Chester e Mount Vernon, em Nova York, em Long Branch, Nova Jeresy, e em Danbury, Connecticut.

Pelo menos desde que surgiu Carmen Miranda, com um prato de frutas como chapéu, o Brasil adquiriu um lugar místico na imaginação americana. Samba e bossa nova influenciaram a música de Frank Sinatra e clubes noturnos de Manhattan; filmes como "Orfeu Negro" e "Dona Flor e Seus Dois Maridos" misturaram magia, sedução e o amor brasileiro pela farra para relaxar as amarras americanas.

Pelé incendiou um romance com o futebol que, em sua versão infantil, tornou-se um ritual suburbano de finais de semana no outono.

No entanto, continuou um país distante. Poucos brasileiros de fato se mudavam para cá. Isso vem mudando, como resultado da economia por vezes inflacionária e alto índice de desemprego no Brasil, atualmente em torno de 10%.

Apesar do censo de 2000 contabilizar 13 mil nova-iorquinos de origem brasileira, sendo que 3.372 deles em Astoria, o Consulado Brasileiro acredita que o número é muito maior. Jose Alfredo Graça Lima, cônsul-geral em Nova York, disse que o censo de 2004 estimou que havia 42 mil brasileiros no Estado de Nova York, 51 mil em Nova Jersey e 18 mil em Connecticut.

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