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Sensibilizadas pela tragédia no Haiti, famílias brasileiras têm se oferecido para adotar as crianças do país que ficaram órfãs após o terremoto. A boa vontade, no entanto, esbarra na falta de informações. O Haiti não segue as leis internacionais sobre adoções interpaíses, por isso é preciso entrar em contato direto com as autoridades locais, com a ajuda da embaixada, para adotar um haitiano. Embaixada que, após o terremoto, não tem condições de lidar com o assunto.

No início da semana, a secretária da embaixada informou ao G1 que já tinha recebido mais de 300 pedidos de adoção vindos de brasileiros. Na sexta-feira, a reportagem procurou fazer um novo contato, para receber os números atualizados, mas ninguém atendeu o telefone.

Na terça-feira, a funcionária afirmou que é impossível para os diplomatas do órgão atenderem essas solicitações. "Neste momento, a situação ainda está muito crítica. Não há como cuidarmos disso agora. Talvez daqui a 30 dias", disse ela.

As dificuldades, no entanto, não desanimam quem se comoveu com a tragédia. "Todo o esforço que eu puder fazer, eu vou fazer. Tudo que eu puder dar de bom, eu vou dar para essa criança", disse Romilda Gomes, de São Paulo.

O Haiti não é signatário da Convenção de Haia, que regulamenta a adoção internacional. Por isso, não há como saber que caminho seguir para adotar uma criança haitiana sem a orientação e a mediação da embaixada.

Rosana Rodrigues Matheus, de Barbacena (MG), é uma das brasileiras que enviou e-mails à embaixada haitiana disposta a adotar uma criança. Ela conhece bem o assunto. Como advogada, trabalha em processos de adoção voluntariamente, sem cobrar honorários. "Digo aos meus clientes que meu trabalho nestas ações é um presente para as crianças que estão sendo adotadas", conta Rosana.

Mesmo com tanto conhecimento, ela não consegue descobrir que caminho seguir para adotar uma criança do Haiti. "Mandei e-mail, mas não obtive resposta. Tentei me informar sobre o que é preciso fazer, mas está muito difícil", explica. Com dois filhos biológicos, ela já tinha o desejo de adotar um terceiro há muitos anos.

"Eu e meu esposo temos esse plano. Desde o final do ano passado, estou preparando a documentação para entrar com o pedido de adoção. Mas daí aconteceu esse problema no Haiti e nós pensamos que podemos unir esse nosso desejo com uma forma de ajudar uma criança muito necessitada", conta ela.

A dona de casa Iracilma Costa, de São Bernardo do Campo (SP), não chegou a enviar e-mails para a embaixada. Ela acompanha as notícias sobre a situação no Haiti pela internet, mas disse não ter encontrado como fazer o pedido. "Quero muito adotar uma criança haitiana, mas não sei nem por onde começar", conta.

Iracilma já tem três filhos e pensou em adotar após ver a situação em Porto Príncipe. "Eu adoro criança. Vi a situação daqueles meninos ali e me abalou muito. Eu quero ajudar", afirmou.

As dificuldades com o idioma diferente e o trauma vivido pelo possível novo filho não a assustam. "O amor é universal, você consegue falar com as pessoas só com ele. O que essas crianças mais precisam lá não é falar, é um contato, uma família", afirma.

Romilda concorda. "Com jeitinho, com carinho e com tempo, tudo se resolve", diz ela.

A empresária Suzana Souza, de Parintins (AM), também quer adotar uma criança haitiana independente das dificuldades. "Eles precisam se sentir seguros, porque o que viveram deve ser muito assustador. O resto, com o tempo, vamos adaptando", afirma.

Ela acredita que a adoção é uma forma também de ajudar o Haiti no futuro. "Não quero que a criança perca os laços com seu país. Eu vou contar tudo que aconteceu ali, ensinar a história do povo dela. Para que um dia, se ela quiser, ela possa ajudar o país de onde veio".

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