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Em janeiro, uma pesquisa do instituto Nanos apontou que os conservadores tinham 47% das intenções de voto para as eleições gerais do Canadá, que serão realizadas nesta segunda-feira (28), e os liberais apenas 19,6%.
Entretanto, um levantamento divulgado na sexta-feira (25) pelo mesmo instituto mostrou os liberais, azarões há três meses, na liderança por uma diferença de quatro pontos percentuais (42,7% a 38,4%, empate dentro da margem de erro). O que mudou de lá para cá? Dois nomes explicam essa diferença: Donald Trump e Mark Carney.
Desde que voltou à Casa Branca, em 20 de janeiro, o presidente americano vem irritando os canadenses com imposição ou ameaças de tarifas e com o discurso de transformar o Canadá no 51º estado americano – proposta da qual já vinha falando desde que derrotou Kamala Harris na eleição de novembro.
Para alguns analistas, a antipatia que Trump vem despertando no país prejudica Pierre Poilievre, líder do Partido Conservador. Isso porque ele tem semelhanças com o presidente americano, como o slogan “Canada First” (“O Canadá em Primeiro Lugar”), o discurso disruptivo, as críticas à grande imprensa e um plano de “acabar com a ideologia woke”.
“Muitos acham que ele é como Trump, ou que o que ele fala e como ele fala os afasta, da mesma forma que Trump os afasta”, disse David Coletto, CEO do instituto de pesquisas Abacus Data, em entrevista ao The Wall Street Journal.
“A intimidação à la Trump, os slogans, os grandes comícios — [o estilo de Poilievre] é tudo muito parecido com Trump. E as pessoas não estão gostando de Trump nesse momento no Canadá”, disse Kory Teneycke, coordenador de campanhas do Partido Conservador, à agência Associated Press.
Poilievre tem buscado se desvincular de Trump: numa entrevista a um podcast canadense em 13 de abril, ele disse não ter “nada em comum” com o presidente dos Estados Unidos.
“Ele nasceu em uma família milionária, muito rica, e eu nasci em uma família muito humilde. Há muitas políticas públicas que ele adota das quais eu discordo”, afirmou o líder conservador.
Porém, a rejeição a Trump não é a única explicação para o crescimento nas pesquisas dos liberais, liderados pelo primeiro-ministro Mark Carney.
Ele venceu a eleição interna da legenda em março e substituiu o premiê Justin Trudeau (2015-2025), que decidiu não concorrer devido ao esfacelamento da sua coalizão e à sua ampla rejeição em pesquisas de avaliação do seu governo.
Para alguns analistas, Carney tem atraído eleitores ao adotar uma posição mais centrista que Trudeau, imagem reforçada pelo seu currículo como ex-presidente dos bancos centrais do Canadá e da Inglaterra durante governos conservadores.
A The Economist citou como exemplo o fato de Carney ter adotado logo que chegou ao governo uma proposta de Poilievre de cortar o imposto sobre valor agregado de 5% sobre a venda de casas recém-construídas, que havia sido rejeitada por Trudeau.
Segundo a revista inglesa, essa postura expõe “a capacidade [de Carney] de atrair eleitores que não gostam do seu partido”.
Para impedir os liberais de conquistar o quarto mandato consecutivo no governo do Canadá, Poilievre tem enfatizado que Carney foi conselheiro econômico de Trudeau e afirmado que uma gestão dele não será diferente da administração do premiê anterior.
“Os conselhos de Carney aumentaram os impostos, os custos da habitação e os preços dos alimentos, enquanto ele pessoalmente lucrava com a transferência de bilhões de dólares e milhares de empregos do Canadá para os Estados Unidos”, disse o líder conservador num comício em London, na província de Ontário.
“Trabalhando para Trudeau, Carney deixou o Canadá mais fraco e pobre.”