Tian Wei, diretor da fábrica Hemp Soul em Shanchong, província de Yunnan, China, 27 de março de 2019. A legalização tem poucas chances de chegar à China, mas as empresas começaram a cultivar a planta para atender à demanda externa por canabidiol, ou CBD| Foto: Steven Lee Myers / The New York Times

A China fez seu iPhone, seus Nikes e, provavelmente, as luzes de sua árvore de Natal. Agora, ela quer cultivar sua cannabis.

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Duas das 34 regiões da China estão silenciosamente liderando um boom de cultivo de cannabis para produzir o canabidiol, ou CBD, composto não intoxicante que se tornou uma mania de saúde e beleza do consumidor nos Estados Unidos e em vários outros lugares.

E fazem isso apesar de o consumo de canabidiol não ter sido liberado na China, um país com uma das mais rigorosas políticas de controle de drogas no mundo.

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"Tem um potencial enorme", disse Tan Xin, executivo-chefe do Hanma Investment Group, que em 2017 se tornou a primeira companhia a receber permissão de extrair o canabidiol aqui no sul da China. O produto químico é comercializado no exterior – em óleos, sprays e bálsamos para o tratamento da insônia, da acne e até mesmo de doenças como diabetes e esclerose múltipla. (A ciência, até agora, não é conclusiva.)

Estigma minimizado

O movimento para legalizar o tipo de cannabis que altera a mente não tem virtualmente nenhuma possibilidade de emergir na China. Mas a atenuação do estigma da planta na América do Norte gerou uma demanda global por medicamentos – especialmente do canabidiol –, que as empresas chinesas se apressam para atender.

A filial da Hanma em Shanchong, uma vila em um vale remoto a oeste de Kunming, a capital da província de Yunnan, cultiva mais de 648 hectares de cânhamo, a variedade de cannabis que também é usada em cordas, papéis e tecidos. O canabidiol é extraído das plantas, nas formas de óleo e de cristal, em uma fábrica aberta há dois anos, em uma zona restrita, ao lado de um fabricante de armas.

"É muito bom para a saúde das pessoas", disse Tian Wei, gerente geral da subsidiária, a Hempsoul, durante uma entrevista na fábrica, que foi pontuada por tiros de testes do fabricante ao lado.

"A China pode ter percebido esse aspecto um pouco mais tarde, mas definitivamente haverá oportunidades no futuro", disse Tian.

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A China, de fato, cultiva cannabis há milhares de anos – para têxteis, pelas sementes de cânhamo e o óleo e até mesmo, de acordo com alguns, para a medicina tradicional.

O "Materia Medica", um texto do primeiro ou segundo século, atribuiu poderes curativos à cannabis, à sua semente e à sua folha para uma variedade de doenças.

"O consumo prolongado libera a luz do espírito e ilumina o corpo", diz o texto, de acordo com uma tradução citada em um artigo no periódico "Frontiers of Pharmacology".

Linha dura contra as drogas

A República Popular da China, após sua fundação em 1949, assumiu uma linha dura contra as drogas ilegais, e o cultivo e o uso da maconha são estritamente proibidos até hoje, com os traficantes enfrentando a pena de morte em casos extremos.

Depois de assinar a Convenção das Nações Unidas sobre Substâncias Psicotrópicas em 1985, a China foi ainda mais longe. Proibiu todo o cultivo do cânhamo – que, havia muito tempo, era plantado em Yunnan, uma província montanhosa na fronteira com Mianmar, Laos e Vietnam e uma das mais pobres da China. Os fazendeiros produziam o cânhamo para fazer cordas e tecidos e o país o baniu mesmo que tivesse somente leves quantidades de tetraidrocanabinol, ou THC, o composto da maconha que dá barato.

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Em uma conferência de imprensa em Pequim no mês passado, Liu Yuejin, vice-diretor da Comissão Nacional de Controle de Narcóticos, disse que a legalização em outros países significava que as autoridades chinesas "fortaleceriam ainda mais a supervisão da cannabis industrial".

A fábrica Hempsoul tem dezenas de câmeras de circuito fechado que transmitem vídeos diretamente para o departamento de segurança pública provincial.

A China só aceitou o cânhamo industrial em 2010, permitindo que Yunnan retomasse a produção. O cânhamo era então usado principalmente para têxteis, incluindo os uniformes do Exército de Libertação Popular, mas logo os produtos se diversificaram.

Clima bom para o cultivo

A indústria crescente trouxe o investimento de que Yunnan necessitava. O clima ameno é ótimo para o cultivo de cannabis, e um agricultor pode ganhar o equivalente a US$ 600 por hectare, mais do que com o linho ou a colza, disse Tian, da Hempsoul.

A Hempsoul é uma das quatro empresas em Yunnan que receberam licenças para processar o canabidiol do cânhamo, dedicando mais de 14.570 hectares a seu cultivo. Agora, outros estão se juntando à prática.

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Em fevereiro, a província concedeu uma licença para três subsidiárias do grupo Conba, empresa farmacêutica sediada na província de Zhejiang. Uma companhia na cidade de Qingdao, a Huaren Pharmaceutical, disse recentemente que havia solicitado permissão para cultivar cânhamo em estufas, que já pontilham a paisagem em torno de Kunming.

Outras regiões também perceberam a atividade. Em 2017, Heilongjiang, província ao longo da fronteira nordeste da China com a Rússia, juntou-se a Yunnan ao permitir o cultivo de cannabis. Jilin, a região vizinha, disse este ano que também passaria a fazê-lo. A série de anúncios causou o aumento do valor das ações das companhias nas bolsas chinesas, fazendo os reguladores intervir para restringir as negociações.

Benefícios incertos

Os benefícios do canabidiol para a saúde permanecem incertos, mas a Administração de Alimentos e Drogas dos EUA, no ano passado, aprovou seu primeiro uso, para tratar duas formas raras e graves de epilepsia. Outras possíveis finalidades estão sendo estudadas.

Yang Ming, um dos principais defensores na China do uso de cânhamo para têxteis, alimentos e fins medicinais, é professor e coordena o Departamento de Cânhamo na Academia Yunnan de Ciências Agrícolas em Kunming, China, em 27 de março de 2019. A legalização tem pouca chance de acontecer na China, mas as empresas começaram a cultivar a planta para atender a demanda externa por canabidiol, ou CBD| Foto: Steven Lee Myers / The New York Times

A China permite a venda de sementes e óleo de cânhamo e o uso de CBD em cosméticos, mas ainda não aprovou o canabidiol para uso em alimentos e medicamentos, de modo que, por enquanto, a maior parte do produto da Hempsoul – aproximadamente duas toneladas métricas por ano – destina-se aos mercados internacionais. Tian disse acreditar que era apenas uma questão de tempo para que a China aprovasse o composto para ingestão.

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As ambições da Hanma são globais. Ela adquiriu uma fábrica de extração em Las Vegas, que pode começar a produção logo, e planeja uma no Canadá. Tan, o executivo-chefe, disse esperar que a China, com o maior mercado do mundo, siga o exemplo dos Estados Unidos, que ele chamou de "o mercado mais bem educado" para os benefícios da cannabis.

"É uma nova aplicação, mas que dá continuidade à nossa tradição", disse ele, citando os textos antigos que descrevem seus usos medicinais.

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