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Manifestantes protestam em frente à sede do Distrito Escolar Unificado e pedem o desfinanciamento da escola policial, 23 de junho de 2020, Los Angeles
Manifestantes protestam em frente à sede do Distrito Escolar Unificado e pedem o desfinanciamento da escola policial, 23 de junho de 2020, Los Angeles| Foto: Mario Tama/ Getty Images/ AFP

Uma das principais demandas dos recentes protestos contra o racismo e a violência policial nos Estados Unidos é o corte no financiamento aos departamentos de polícia do país.

O movimento "defund the police" pede que os dólares investidos nas polícias sejam realocados em programas sociais, de educação, moradia, e outros ligados à juventude, sob a lógica de que esses serviços reduziriam a criminalidade. Alguns ativistas vão além, demandando o desmantelamento das corporações. A pauta ganhou força na onda de protestos desencadeada pela morte de George Floyd no mês passado.

Uma cidade da Califórnia precisou fazer exatamente o que os ativistas têm pedido nos Estados Unidos e cortar pesadamente o orçamento do seu departamento policial, quando se viu incapaz de pagar suas contas durante a crise econômica de 2008.

Segundo uma reportagem do Washington Post, a cidade de Vallejo declarou falência naquele ano e não teve outra opção a não ser cortar pela metade o número de policiais da sua força, ficando com menos de 80 agentes. Antes, eram mais de 150 para a cidade de cerca de 115 mil habitantes na época.

Doze anos atrás, Vallejo enfrentava altos índices de criminalidade e de desconfiança na polícia. E depois dos cortes, a situação piorou. Segundo o Post, o desfinanciamento agravou as tensões entre o departamento policial e a comunidade e foi seguido por um aumento dramático nos casos de uso de força letal pela polícia.

Desde 2009, a polícia da cidade já matou 20 pessoas, um número bastante alto para uma cidade americana desse tamanho. Quase um terço dos homicídios em 2012 em Vallejo foram cometidos pela polícia, que naquele ano matou seis suspeitos durante abordagens.

Como a cidade estava endividada, os recursos economizados com a redução do departamento de polícia não foram transferidos para agências de serviços sociais, como defendem os manifestantes que pedem o desfinanciamento da polícia. Mesmo assim, o caso pode ilustrar as consequências de um plano de redução de policiais em uma comunidade com recursos escassos, que pode levar a agentes sobrecarregados e mal pagos; consequências que incluem menor capacidade de resposta a assaltos, roubos de carro e outros delitos menores.

O Post menciona uma revisão do Departamento de Polícia de Vallejo feita por uma agência independente de consultoria. O relatório, divulgado em maio deste ano, encontrou efeitos "significativos e abrangentes" da redução de policiais sobre os números de violência policial. Especialmente, os consultores chegaram à conclusão de que há poucos policiais para fazer todo o serviço necessário. Com 100 policiais, a cidade tem cerca de metade da média nacional de agentes por habitantes e menos de um sexto desse número na capital americana, Washington.

Vallejo ocupa o segundo lugar no ranking das cidades com mais de 50 mil habitantes com maiores números de crimes por policial, segundo o portal City-Data. A mesma plataforma coloca a cidade em oitavo lugar entre as cidades com menos policiais por cem mil habitantes.

O Departamento de Justiça da Califórnia anunciou que irá trabalhar com a cidade de Vallejo em uma revisão e reforma das políticas e práticas policiais após um caso de morte pela polícia no começo do mês, em meio aos protestos contra brutalidade policial. Nesse caso, em 2 de junho, um policial atirou cinco vezes pelo para-brisa do carro da polícia contra um homem de 22 anos suspeito de roubar uma farmácia. O policial acreditava que o suspeito tinha uma pistola na cintura, mas o objeto era um martelo. O caso intensificou o movimento por reformas no departamento de polícia local.

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