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Apoiadores do Hezbollah seguram cartazes do general Suleimani na capital do Líbano, Beirute, 5 de janeiro de 2020
Apoiadores do Hezbollah seguram cartazes do general Suleimani na capital do Líbano, Beirute, 5 de janeiro de 2020| Foto: ANWAR AMRO / AFP

O assassinato de Qasem Suleimani, general da Força Quds no Irã, e de um líder da milícia iraquiana desafiou a visão de que o Irã é um país todo-poderoso que pode provocar terror por toda a região do Oriente Médio sem repercussões para o país ou os seus líderes. A decisão do presidente americano Donald Trump foi condenada por um coro de apoiadores do "acordo com o Irã" de Barack Obama, que disseram que a ação foi "imprudente". Mas o caso também traz a questão sobre se a capacidade do Irã de construir um império de influência na região se baseou principalmente no medo de represálias, que impediram os EUA e outros países de se oporem ativamente ao lento avanço da influência do país, e não na realidade da situação.

Por décadas, o Irã prosperou com sua capacidade de reunir aos poucos poderosos aliados em todo o Oriente Médio, muitas vezes com Suleimani desempenhando um papel fundamental na união de grupos do Líbano à Síria e Iraque. A morte dele pode prejudicar a sinfonia do poder iraniano que ele projetava como um maestro. Ainda assim, a opinião geral é de que o Irã deve responder. "A pressão sobre Teerã para retaliar a perda de uma figura tão importante será imensa", argumenta um colunista do Times de Londres.

O Irã já havia perdido outros aliados importantes em assassinatos no passado. Imad Mughniyeh, o segundo no comando do Hezbollah e um importante aliado de Suleimani, foi morto na Síria em 2008. Informações de inteligência dos EUA e de Israel teriam levado à morte dele. É particularmente interessante que Suleimani, em uma entrevista recente sobre seu papel na guerra de 2006 que o Hezbollah lançou contra Israel, tenha falado sobre como ele, Mughniyeh e Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, haviam trabalhado juntos. Agora dois dos três estão mortos. Uma enorme retaliação do Hezbollah pela morte de Mughniyeh deveria ter acontecido, mas nunca se concretizou. Da mesma forma, a Operação Faixa Preta de Israel, em novembro, contra a Jihad Islâmica Palestina, apoiada pelo Irã, em Gaza, começou com o assassinato de Baha Abu al-Ata. A Jihad Islâmica retaliou com foguetes, que foram interceptados facilmente por Israel.

O Irã é capaz de espalhar o caos pelo Oriente Médio, mas deve decidir sabiamente o que fazer a seguir. Seus ativos incluem o Hezbollah, milícias sírias que trabalham para o regime de Assad e o Irã, e mais de 100 mil membros de milícias xiitas pró-iranianas no Iraque. O Irã também transferiu mísseis e drones avançados para os rebeldes houthis no Iêmen. Além disso, as milícias xiitas no Iraque, chamadas Unidades de Mobilização Popular, receberam mísseis balísticos do Irã em agosto de 2018 e em 2019. No entanto, mísseis não vencem guerras. O Hezbollah tem um arsenal de cerca de 150 mil foguetes e mísseis, mas falta ao grupo muito das orientações de precisão que os tornariam uma ameaça estratégica para Israel. O Irã possui drones, como os usados ​​para atacar a Arábia Saudita em setembro, e possui mísseis de cruzeiro e vários barcos pequenos usados ​​em ações marítimas.

No entanto, nenhuma das tecnologias do Irã, nem a sua Guarda Revolucionária Islâmica, é a ameaça que eles dizem ser, pelo menos para um adversário que realmente quer confrontar o Irã. A ameaça do Irã está mais na sua disposição em usar a força quando seus adversários não querem ser atacados. É por isso que táticas como o sequestro de acadêmicos ou o ataque a um navio-tanque com bandeira do Reino Unido são seus métodos preferidos. Quando o país usou seus mísseis de precisão, foi contra o Estado Islâmico e um grupo dissidente curdo. Suleimani planejou vários pequenos ataques da Síria a Israel, incluindo um fracassado ataque de drones em agosto, três ataques com foguetes em 2019 e uma salva de foguetes em 2018. Em resposta, Israel atingiu 54 alvos na Síria em 2019, de acordo com as Forças de Defesa de Israel. Israel lançou mais de 1.000 ataques aéreos contra alvos iranianos na Síria.

Se fizermos um balanço dos ataques, o Irã geralmente é o perdedor quando escolhe lutar militarmente. A genialidade de Suleimani estava em aumentar a influência do Irã, principalmente entre os xiitas. Isso significava armar milícias, geralmente com armas pequenas e alguns veículos blindados. Isso significava lançar as bases para o tráfico de armas iranianas, como drones ou mesmo mísseis balísticos. Mas as alegações de que Suleimani era como o comandante de tanques da era nazista Erwin Rommel só seriam verdadeiras se Rommel não tivesse usado tanques e tivesse apenas uma milícia armada tentando ganhar influência no norte da África.

A narrativa por trás do acordo com o Irã era que, se não houvesse acordo, haveria guerra. Isso se baseia na ideia de que a guerra é a única maneira de impedir o programa nuclear do Irã. No entanto, apesar de décadas de trabalho em seu programa nuclear, o Irã não tem uma arma nuclear. Não está claro se a nação já quis ter uma. O Irã queria um acordo que desse cobertura a sua agenda maior para dominar o Iraque, a Síria, o Líbano e o Iêmen. O país prospera com ameaças. Usa criteriosamente ataques para assediar e intimidar. Mas o Irã não quer guerra. O regime do Irã sabe que uma grande guerra resultará em seu colapso. O regime do Irã assassinou 1.500 manifestantes em novembro, precisamente porque teme a crescente indignação das pessoas comuns no Irã. Onde esteve a onda espontânea de raiva pela morte de Suleimani? Não houve protestos no Iraque, na Síria, no Líbano e no Irã, com milhões de pessoas indo às ruas. Eles esperaram que o regime ou os comandantes das suas milícias lhes dissessem como protestar. Isso é evidência de que o papel do Irã pode estar enfraquecendo e que, mesmo que o país responda, deve decidir sabiamente como será a resposta.

©2020 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês

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