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Bolsa de Nova York| Foto: Johannes EISELE / AFP

Depois que a crise financeira de 2008 cortou pela metade a valor do mercado de ações e destruiu 9 milhões de empregos nos EUA, os economistas identificaram um culpado: a interconexão. Não que qualquer banco individual fosse "grande demais para falir", como diz a expressão popular; mas cada banco falido poderia derrubar outros, de uma só vez.

O mundo real rapidamente refletiu o pânico no mundo financeiro, pois as empresas financeiras cortaram o crédito que dá suporte a empregos em construção, manufatura e serviços ao consumidor, como viagens e restaurantes.

Doze anos depois, à medida que o coronavírus se espalha pelo mundo, vemos o inverso dessa crise anterior de interconexão. O coronavírus está abruptamente destruindo os intrincados emaranhados físicos que existem não entre bancos, mas entre pessoas e bens. Essa interconexão humana é a economia global do mundo real. Desta vez, os mercados financeiros não estão criando uma perturbação aguda. Eles estão simplesmente refletindo isso. Essa crise é mais fácil de entender - mas pode ser mais difícil de resolver.

No final de janeiro, os Estados Unidos, juntamente com outros governos ocidentais, essencialmente colocaram chineses em quarentena, proibindo que entrassem nos países como turistas ou para trabalhar. Agora, com a Itália bloqueada, pessoas de outros países europeus e asiáticos sob decretos de quarentena ou simplesmente com muito medo de viajar, e a suspensão do governo Trump de todas as viagens da Europa por 30 dias, é impossível não notar que as ruas estão mais vazias. As companhias aéreas internacionais e americanas estão diminuindo os horários de voo em porcentagens de dois dígitos. As demissões neste setor, que emprega cerca de 700.000 pessoas nos Estados Unidos, já estão acontecendo. A indústria hoteleira, que emprega 2 milhões, também se vê imediatamente vulnerável.

Restrições à mobilidade entre países rapidamente se transformaram em restrições ao movimento local. Empresas estão orientando funcionários a trabalhar em casa quando possível. As pessoas que trabalham de casa não estão gastando para ir e vir do trabalho; nem gastam dinheiro almoçando ou bebendo com os amigos após um dia de trabalho. Na semana passada, a Broadway viu uma queda de quase US$ 4 milhões na receita, ou 18%, quando 20.000 espectadores ficaram em casa. Agora a Broadway ficará fechada por um mês. Também nos EUA, o setor de lazer e hospitalidade, que emprega 15 milhões, está sob risco imediato de fechar postos de trabalho.

Quedas no mercado de ações nas últimas seis semanas refletem esses temores e muito mais. Quanto mais tempo as pessoas ficarem em casa, mais ansiosas estarão quanto a gastar dinheiro. Assim como em 2008, mesmo as pessoas com sorte o suficiente para não perder o emprego, ou ver uma queda significativa na renda, absorverão as ansiedades de outras pessoas e reduzirão seus gastos, pessoalmente ou online, prejudicando empregos em setores não diretamente afetados. Desta vez, a ansiedade não é apenas econômica, mas interpessoal: por que arriscar sair e cortar o cabelo quando não vai custar esperar algumas semanas? Milhões de pessoas tomando essas decisões ao mesmo tempo é um desastre econômico.

O que o governo americano pode fazer desta vez? O presidente Donald Trump e o Congresso estão preparando estímulos. Obviamente, Washington deve acelerar o seguro-desemprego e outros benefícios para as pessoas que se vêem demitidas. Os governos estaduais e locais terão reduções na receita tributária, assim como terão custos maiores com saúde pública e horas extras dos trabalhadores de emergência. A ajuda federal direcionada é importante neste momento.

Mas as pessoas não vão sair e gastar dinheiro se tiverem medo de sair de casa. A estratégia pós-11 de setembro também não funcionará: exortando as pessoas a mostrar que não deixarão os terroristas vencerem, indo a um jogo de basquete, se aventurando em um avião, usando um novo par de sapatos. A realidade é que não é responsável circular na multidão e, portanto, expor entes queridos mais velhos ou doentes a um vírus potencialmente mortal. Todo o estímulo econômico do mundo não vai mudar isso.

Essa fase do coronavírus também passará - embora quando, como e depois de quantos mortos, ninguém ainda saiba. Mas o vírus nos lembra algo positivo: apesar de todas as preocupações com automação e trabalho remoto, a economia global depende de pessoas interagindo umas com as outras, sejam chineses de classe média que estão se aventurando em sua primeira viagem ao exterior ou trabalhadores do setor de tecnologia que abriram um escritório no subúrbio da Califórnia para que possam trocar ideias. No fim das contas, a economia não é composta de instrumentos financeiros ou robôs. É composta de seres humanos, individual e coletivamente.

*Nicole Gelinas é pesquisadora sênior do Manhattan Institute, editora colaboradora do City Journal e colunista do New York Post.

©2020 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês.
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