Uigures oram em mesquita na Região Autônoma Uigur de Xinjiang, oeste da China, durante viagem organizada pelo regime para jornalistas internacionais, em Kashgar, 19 de abril| Foto: EFE/EPA/WU HONG
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Documentos agora tornados públicos ligam diretamente o alto escalão do regime da China à repressão aos uigures, minoria étnica muçulmana que vive na região de Xinjiang, no noroeste do país.

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Os documentos, a maioria confidencial, incluem três discursos feitos pelo ditador Xi Jinping em abril de 2014 e tratam de segurança, de controle de população e da necessidade de punir os uigures.

Para analistas, os textos comprovam que o alto escalão do regime chinês defendeu medidas que levaram à detenção em massa e trabalho forçado. A China consistentemente nega essas acusações e as de genocídio contra os uigures.

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Segundo os arquivos, a liderança do Partido Comunista da China defendeu a reeducação e realocação de uigures como forma de "corrigir o desequilíbrio" entre essa população e a etnia Han, dominante no país asiático, na região de Xinjiang.

Parte desses documentos já havia sido divulgada anteriormente, mas o recente vazamento traz informações inéditas. O conjunto de arquivos foi vazado ao acadêmico alemão Adrian Zenz e publicado pelo "Uyghur Tribunal", um tribunal popular independente sediado no Reino Unido.

Zenz, que é pesquisador sênior de estudos da China na Fundação Memorial de Vítimas do Comunismo, de Washington (EUA), afirma que os documentos comprovam o intuito dos líderes comunistas de cometer genocídio cultural com o objetivo de resguardar a autoridade do PCCh.

Para o pesquisador, os documentos são relevantes por mostrar as várias ligações entre as exigências do regime chinês em 2014 e os fatos que ocorreram em seguida em Xinjiang, incluindo assimilação e internações forçadas, esterilização em massa e o trabalho forçado de uigures detidos. Pequim alega que os campos são destinados à "reeducação".

O jornal americano New York Times fez uma reportagem em 2019 sobre o mesmo conjunto de documentos, mas publicou apenas uma parte das páginas, citando e descrevendo vários deles, sem colocar os arquivos em domínio público. O conjunto de dados ficou conhecido como "Xinjiang Papers".

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A íntegra dos documentos foi então entregue em setembro deste ano ao Uyghur Tribunal, que também não publicou todos eles para proteger a fonte dos vazamentos. Porém, o grupo divulgou transcrições, citações, resumos e análises. Alguns dos arquivos tiveram partes suprimidas para não revelar dados que identificam quem os recebeu. Pesquisadores das universidades de Washington (EUA) e de Sheffield (Reino Unido) revisaram o conjunto.

Em um de seus discursos, Xi argumenta que "a proporção e a segurança da população são fundações importantes para a paz e a estabilidade de longo prazo". Essa declaração foi depois repetida por uma autoridade de Xinjiang em 2020, que argumentou que a proporção do grupo étnico Han na região era muito baixa.

Em seu relatório, Zenz diz que a presente análise evidencia as ligações entre as figuras do governo central e as políticas implementadas a partir de 2016 de forma "muito mais extensa, detalhada e significativa do que era previamente compreendido".

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]