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Manifestantes nas ruas de Caracas exigem mudança para a Venezuela. Para a oposição a Maduro, os protestos são essenciais para manter a pressão ao regime |  Michael Robinson Chavez / The Washington Post
Manifestantes nas ruas de Caracas exigem mudança para a Venezuela. Para a oposição a Maduro, os protestos são essenciais para manter a pressão ao regime| Foto:  Michael Robinson Chavez / The Washington Post

Venezuelanos se uniram nesta terça-feira (12) em uma onda de descontentamento com a tentativa de expulsar o ditador Nicolás Maduro do poder e se manifestaram nas ruas em grandes multidões. Mas mesmo enquanto a oposição saudava um novo impulso, seus líderes admitiam que a tentativa de derrubar o governo socialista parecia estar se transformando em uma batalha de longo prazo. 

Por meio de pesadas sanções dos EUA, isolamento internacional e protestos de rua, a oposição e seus aliados estrangeiros, liderados pelo governo Trump, esperavam alcançar rapidamente a derrubada de Maduro. Mas quase três semanas depois de Juan Guaidó, o chefe da Assembleia Nacional controlada pela oposição, se declarar o presidente de direito e ter sido reconhecido por dezenas de nações, o círculo interno de Maduro mostrou poucos sinais de rachaduras. 

“Ninguém pode prever exatamente quanto tempo isso vai levar”, disse Juan Andrés Mejía, um líder da oposição venezuelana e aliado próximo de Guaidó. “Eu gostaria que fossem dias, mas podem ser semanas ou até meses”. 

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Para a oposição, os protestos são fundamentais para manter a pressão interna sobre um governo autocrático que levou a nação a uma crise humanitária, caracterizada por grave escassez de comida e assistência médica. No entanto, sozinhos, parece improvável que consigam forçar a saída de Maduro. Em vez disso, os protestos são uma parte da estratégia que também é centrada em um esforço apoiado pelos EUA para cortar as fontes internacionais de receita de Maduro e fazer com que os militares se voltem contra ele. 

Nas últimas semanas, Maduro sofreu um punhado de deserções – e a oposição está cortejando agressivamente tanto os militares como os funcionários públicos do governo para minar o apoio ao ditador. Mas Maduro também se mostrou mais resiliente do que alguns de seus inimigos haviam previsto no mês passado no início da atual crise. 

Analistas consideram as sanções norte-americanas contra o setor petrolífero da Venezuela umas das mais severas já impostas por Washington. Mas, à medida que elas retiram do regime sua maior fonte de receita – as vendas de petróleo aos EUA –, é provável que também aprofundem o sofrimento do povo venezuelano. 

Elas não permitem, por exemplo, o tipo de trocas de petróleo por alimentos feitas pelo governo do Iraque de Saddam Hussein antes que ele fosse derrubado em 2003. 

“As sanções podem ter um impacto enorme em uma crise humanitária que já está terrível se a situação se arrastar”, disse Michael Shifter, presidente do Inter-American Dialogue, um centro de estudos de Washington. “Obviamente, os EUA estavam totalmente convencidos de que as sanções seriam o golpe final e o colapso aconteceria em questão de dias. O país subestimou a resiliência do regime”. 

Marchas

A oposição manteve na terça-feira a batida dos protestos nas ruas, atraindo centenas de milhares em todo o país, segundo os seus cálculos, pela terceira vez em três semanas. 

Em Caracas, multidões lotaram os quarteirões da cidade enquanto grupos de estudantes planejavam uma vigília noturna para o Dia da Juventude de terça-feira. 

“Para aqueles que apostaram que ficaríamos cansados, acho que hoje é uma prova de que não cansaremos”, disse Guaidó ao se dirigir à multidão. 

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A televisão estatal também mostrou uma multidão de apoiadores do governo no centro de Caracas reunindo-se diante de um palco onde Maduro falaria na terça-feira. Vestindo camisas vermelhas, eles agitavam bandeiras da Venezuela. Alguns usavam bigodes falsos em homenagem a Maduro. 

Falando aos apoiadores, Maduro trouxe o fantasma da intervenção dos EUA na Venezuela – uma opção que o governo Trump disse que permanece sobre a mesa. 

“Queremos que as ameaças de intervenção militar acabem e que a Venezuela diga em uníssono: queremos a paz”, disse ele. 

Em uma praça no leste da capital, um número muito maior de manifestantes segurava sinais anti-Maduro, incluindo um com a mensagem: “Recuso-me a viver com fome e estar cercado de miséria”. 

“Precisamos acabar com isso”, disse Sol Morales, professora de 58 anos. “A maioria dos meus sobrinhos já deixou o país. Nós, os antigos, somos os que sobraram e hoje eu marcho pela juventude”. 

Doris Armas, 47 anos, também professora, pegou um ônibus de sua cidade a 45 minutos de Caracas para participar dos protestos. “Não temos serviços básicos. Temos quedas de energia o tempo todo e não temos água corrente há meses”, disse ela. “Estamos protestando. É nosso direito. A maioria dos venezuelanos quer mudança”. 

Sobrevida

Especialistas observam, no entanto, que regimes autoritários frequentemente conseguiram sobreviver – alguns por meses, outros indefinidamente – apesar da intensa pressão doméstica e internacional. Os analistas temem que se Maduro permanecer, o povo venezuelano poderá enfrentar uma escalada dramática da escassez de alimentos e medicamentos que já paralisam a nação. 

A oposição e o governo Trump calculam que um aprofundamento da crise acabará por fazer com que os principais aliados de Maduro, militares e civis, se virem contra ele. Mas seu governo ainda controla a importação e a distribuição de alimentos. 

“Quando um país se torna ainda mais pobre, às vezes o governo se torna mais poderoso porque é o único capaz de fornecer os meios de sobrevivência”, disse Francisco Rodriguez, economista-chefe da firma de investimentos Torino Capital, de Nova York. 

No entanto, a oposição também está tentando desafiar Maduro através de ajuda humanitária em larga escala de nações ocidentais, incluindo US$ 20 milhões em suprimentos dos Estados Unidos. Maduro prometeu bloquear as remessas, mas na terça-feira Guaidó pediu que os militares desobedecessem suas ordens e permitissem a entrada das caravanas em 23 de fevereiro

“As forças armadas terão estes dias para se colocar ao lado da constituição e encontrar sua humanidade”, disse Guaidó. 

Gasolina no fim

As sanções dos EUA já estão complicando de outras formas a economia da Venezuela, que é baseada em energia. 

Embora a nação sul-americana abrigue as maiores reservas de petróleo do mundo, os especialistas dizem que restam cinco a dez dias de gasolina. Isso porque a Venezuela importava a maior parte da gasolina das refinarias que processavam o seu petróleo bruto nos Estados Unidos. 

Maduro também dependia dos Estados Unidos para os diluentes que o setor de petróleo precisa para processar o seu petróleo para exportação. 

As sanções dos EUA efetivamente bloquearam ambos. 

Isso fez com que Maduro apelasse a seus aliados – principalmente a Rússia, mas também a Turquia e nações árabes – para ajudar a Venezuela a resolver os dois problemas. 

“A produção inevitavelmente cairá em prazo muito curto”, disse Guillermo Morillo, ex-gerente da estatal petrolífera PDVSA. 

O governo desencadeou uma intensa onda de repressão para conter manifestações menores em favelas que costumavam ser pró-Maduro. Mas, até agora, demonstrou relativa contenção em confrontar os comícios de grande escala de Guaidó. Isso contrasta com a reação de Maduro às manifestações de 2017, quando mais de 100 pessoas foram mortas, e reflete temores de uma reação internacional ainda mais dura se o governo reprimir os protestos com força. 

Nos últimos dias, Maduro alternadamente contra-atacou Guaidó e seus seguidores e tentou mostrar que ele está com espírito positivo. Na véspera dos protestos de terça-feira, ele não os mencionou em pronunciamento transmitido pela TV nacionalmente. Em vez disso, ele se concentrou na necessidade de impulsionar o turismo. 

“A guerra da mídia tem um objetivo – que ninguém venha para a Venezuela, que ninguém venha investir aqui”, disse Maduro. “Não há outro país no mundo com maiores oportunidades de investimento do que a nossa amada Venezuela”.

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