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Há duas semanas, partidários de Chávez e Capriles se enfrentaram na cidade de Puerto Cabello | Reuters
Há duas semanas, partidários de Chávez e Capriles se enfrentaram na cidade de Puerto Cabello| Foto: Reuters

Entrevista

"O país precisa de um pacto de tolerância"

Rodolfo Magallanes, diretor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Central da Venezuela.

O que levou à divisão na sociedade venezuelana?

Entre 1980 e 1990 o país sofreu uma grave deterioração política. A corrupção, a concentração de renda e o populismo levaram à perda de legitimidade das instituições. Esses e outros fatores deram a vitória a Chávez, que reuniu importantes setores da sociedade, mas em seguida abandonou aliados de centro e aglutinou apoio de vários agrupamentos de esquerda. A nova maioria mudou a Constituição. Grupos anteriores que se beneficiavam das riquezas do petróleo, principalmente os setores corporativos, perderam terreno. Houve uma mudança na destinação dos recursos, favorecendo as classes populares.

Há risco de guerra civil com uma vitória da oposição?

Há tensões. A missão central de quem ganhar é reforçar o Estado de Direito, a justiça social. Se isso não for garantido há risco de violência política. O governo tem consciência do acirramento e tenta tirar vantagem. Por outro lado, a mídia que acentua a tensão social. É fundamental reinstitucionalizar a vida política. O país precisa de um pacto de tolerância e convivência.

O que justifica o apoio popular a Chávez?

A transferência dos investimentos dos recursos do petróleo para setores populares propiciou ganhos na educação, redução da pobreza, queda da mortalidade infantil. Os mercados populares permitem às pessoas de menor renda o acesso a alimentos e produtos a preços mais baixos.

Mas o país tem muitos problemas...

A insegurança vem em primeiro lugar. A inflação em torno de 20% ao ano está muito elevada e os salários ainda não foram recompostos. O governo deixa transparecer que precisa de maior eficiência na gestão dos recursos públicos. Somam-se a isso a ganância de determinados setores empresariais, a corrupção enraizada, a violação das leis e a impunidade.

O que esperar de Capriles ou de mais um mandato de Chávez?

Capriles representa o retrocesso. Ele e seu partido têm origem na extrema direita que levou o país à derrocada. Com Chávez há o problema da ineficiência, da corrupção, do burocratismo. A opção é escolher o menos ruim.

Os últimos dias da campanha eleitoral na Venezuela estão sendo marcados por um excessivo nível de tensão. A polarização entre as forças que apoiam o governo e a unidade das oposições em torno do candidato Henrique Capriles aumentou a divisão na sociedade. E o combustível para a "guerra" de nervos vem de todas as partes, das acusações entre os líderes, da mídia e de confrontos entre partidários.

Um exemplo claro do clima da disputa eleitoral ocorreu em Puerto Cabello, principal cidade portuária do país, há menos de duas semanas. Grupos rivais se enfrentaram com pedras e 14 pessoas ficaram feridas. No sábado, três militantes da campanha de Capriles foram mortos em Barinas, estado natal do presidente Hugo Chávez.

As declarações dos candidatos contribuem para acirrar os ânimos. Chávez fala na possibilidade de guerra civil caso a oposição vença e diz que seu opositor quer desestabilizar o país. Já Capriles diz que o governo quer semear o medo para se perpetuar no poder. "É você que quer semear o medo, que os venezuelanos continuem enfrentando uns aos outros", disparou o opositor.

Críticos de Chávez acusam o governo de usar a teoria da conspiração. O ministro da Defesa, general Henry Rangel, declarou ao canal estatal VTV que há um plano violento de pequenos grupos contra a eleição de domingo, sem mencionar se são grupos da oposição.

O professor e pesquisador da Universidade Central da Venezuela (UCV) Rodolfo Ma­­gagallanes não usa o termo guerra civil, mas admite que a possibilidade de violência não está descartada. "Desde os anos 40 a Venezuela carece de um projeto nacional, de um pacto de tolerância e convivência", observa.

Chávez, que incialmente tinha o apoio de variados setores da sociedade, pendeu para a esquerda radical, reunindo partidos e movimentos sociais e populares. A oposição se uniu a Capriles formando um bloco de partidos de direita – há exceções como o Movimento ao Socialismo – com apoio de setores empresariais, da sufocada mídia privada e da classe média.

Apesar da "guerra" declarada, para a analista e professora de Comunicação Social da UCV Mariana Bacalao a possibilidade de a situação caminhar para o rompimento da ordem constitucional é pequena. "Não haverá guerra civil caso Capriles vença. Existem grupos armados que apoiam o governo, mas são minoria. Capriles tem apoio popular. Há um grande número de eleitores dele que são das classes populares", afirma Mariana.

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