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Mitt Romney
Senador republicano Mitt Romney| Foto: Brendan Smialowski/AFP

O impeachment contra Donald Trump acabou. Como previsto, os senadores republicanos, maioria na Câmara Alta, garantiram a absolvição do presidente após um processo extremamente partidário. Democratas votaram pela condenação de Trump por abuso de poder e obstrução do Congresso, enquanto os republicanos defenderam fielmente o presidente.

Bom, quase todos os republicanos. Houve um senador que contrariou a orientação do partido governista: Mitt Romney. Para ele, Trump é “culpado de um terrível abuso de confiança” e cometeu “um flagrante assalto a nossos direitos eleitorais, nossa segurança nacional e nossos valores fundamentais”.

Seu posicionamento o colocou em destaque nos principais sites de notícias americanos por ter negado a Trump o apoio unânime dos republicanos.

Momentos antes da votação final do impeachment, nesta quarta-feira, ele disse ao site The Atlantic que Trump “de fato pressionou um governo estrangeiro a corromper nosso processo eleitoral”. “E realmente, corromper um processo eleitoral em uma república democrática é um ato tão abusivo e flagrante contra a Constituição - e o juramento de alguém - que posso imaginar. É o que os autocratas fazem”. Em entrevista à Fox News foi assertivo: “Eu acredito que Trump deve ser removido do cargo”.

(Para entender a história, brevemente: o processo de impeachment se baseou nas alegações de que Trump teria usado os privilégios da presidência para pressionar o governo da Ucrânia a investigar Joe Biden, o pré-candidato democrata a presidente dos EUA e um dos maiores obstáculos à reeleição do republicano. Trump não nega que tenha pedido para o presidente Volodimir Zelensky investigar o adversário, mas defende que não houve nada de errado nisso. Os democratas garantem que o presidente segurou o repasse de uma ajuda militar à Ucrânia em troca da investigação ucraniana, que, em meio ao escândalo nos Estados Unidos, não foi aberta. A ajuda militar, no fim das contas, foi enviada à Ucrânia com algum atraso.)

As declarações de Romney renderam uma avalanche de críticas dos seus colegas republicanos. Alguns diziam que havia sido uma aposta errada por parte do senador e outros pediam pela expulsão de Romney do partido. O presidente Donald Trump disse que “se o candidato presidencial fracassado Mitt Romney dedicasse a mesma energia e raiva à derrota de um Barack Obama vacilante, como ele faz comigo, ele poderia ter vencido a eleição. Leia as transcrições!”, em referência à derrota de Romney à presidência dos EUA em 2012. Ele ainda postou um vídeo que afirma que o congressista “nos enganou” e “posando de republicano”, “tentou se infiltrar na administração Trump”.

Romney sabia das consequências políticas que seguiriam o anúncio do seu voto a favor do impeachment. No plenário do Senado, disse: “Estou ciente de que há pessoas no meu partido e no meu estado que desaprovam veementemente minha decisão e, em alguns lugares, serei denunciado com veemência…. Muitos exigem que, em suas palavras, 'eu defenda o time'. Posso assegurar-lhe que esse pensamento está em minha mente. Apoio bastante o que o Presidente fez. Votei com ele 80% do tempo. Mas minha promessa diante de Deus de aplicar justiça imparcial exige que eu coloque meus sentimentos e preconceitos de lado”.

Mas por que ele resolveu assumir os riscos? Analistas americanos apontam que, ao contrário de muitos senadores republicanos, Romney tem o cargo garantido até 2024, ou seja, não enfrentará uma reeleição tão cedo. Se resolver desistir da política depois disso, questões financeiras não o impediriam.

Também parece não se importar com o que Trump pensa sobre ele. Romney já havia contrariado a orientação do Partido Republicano no processo de impeachment quando votou a favor da convocação do ex-assessor de segurança nacional John Bolton para depor no julgamento.

Há, ainda, um terceiro motivo: a decisão colocou o nome de Romney na história americana por torná-lo o primeiro senador de um partido governista a votar contra o presidente em um processo de impeachment.

No fim das contas, tudo indica que, apesar dos clamores dos fiéis apoiadores de Trump, Mitt Romney não será expulso do Partido Republicano. Perguntado por repórteres sobre quanto tempo Romney ficaria na “casinha do cachorro”, o líder da maioria do Senado, o republicano Mitch McConnell, riu e respondeu: “Nós não temos casinhas de cachorro aqui. O voto mais importante é o próximo voto”. E Romney certamente continuará votando a favor dos interesses do presidente Donald Trump no Senado.

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