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A complexa busca por um substituto para a forte liderança do presidente venezuelano, Hugo Chávez, deveria ser uma prioridade para o governo, que enfrenta mais uma vez as dúvidas sobre seu estado de saúde e sua capacidade para competir em uma difícil disputa eleitoral, consideram analistas.

Líder indiscutível desde que assumiu o poder há 13 anos, Chávez anunciou nesta terça-feira (21) que viajará para Havana para ser novamente submetido a uma cirurgia para tratar de uma "lesão" de dois centímetros de diâmetro detectada na mesma área onde foi extraído um tumor cancerígeno em junho do ano passado.

O presidente voltou a manter silêncio sobre a localização exata da lesão e também não deu maiores detalhes sobre esta doença, que classificou de "traiçoeira", depois de tê-la considerado superada há quatro meses.

Ele reconheceu, no entanto, que a nova lesão pode ser "maligna".

"Não sou imortal", admitiu o mandatário de 57 anos, carismático e onipresente na vida política da Venezuela, que tenta ser eleito para um novo mandato de seis anos na Presidência nas eleições de 7 de outubro contra o opositor Henrique Capriles Radonski.

Perigo

Embora tenha afirmado que a chamada revolução bolivariana que lidera "nada nem ninguém poderá impedir", analistas consultados pela AFP consideram que este projeto socialista está em perigo se o oficialismo não conseguir escolher uma figura forte e carismática que leve adiante a sua bandeira.

"É imperativo que comecem a analisar os quadros de substituição e de liderança, uma tarefa complicada porque é um movimento personalista que gira em torno de um caudilho", declarou à AFP a analista eleitoral Mariana Bacalao, professora na Universidade Católica Andrés Bello.

A especialista afirmou que Chávez falou em buscar figuras de destaque "porque tudo gira em torno dele e quando alguém destacou, o tirou das linhas principais".

"Um processo socialista não pode depender permanentemente de um homem se realmente queremos falar de um projeto a meio e longo prazo", considerou o analista político Nicmer Evans, professor da Universidade Central da Venezuela.

A possível volta do câncer de Chávez preocupa seus partidários. Mesmo que não expressem em público a possibilidade de uma possível substituição, um tema quase tabu, se preocupam em mostrar total confiança em sua recuperação.

Candidato

Chávez "é e continuará sendo o nosso candidato, ele continuará sendo o líder da revolução bolivariana", afirmou Diosdado Cabello, um dos homens fortes do chavismo que foi vice-presidente, ministro e que agora, como diputado, está à frente do Parlamento.

Cabello, junto com o vice-presidente Elías Jaua, o chanceler Nicolás Maduro, o ministro da Defesa, Henry Rangel Silva, o titular da pasta de Energia e Petróleo, Rafael Ramírez, ou o irmão do mandatário e governador de seu estado natal de Barinas (oeste), Adán Chávez, são "os herdeiros" do presidente, indicou o diretor do instituto de pesquisas Datanálisis, Luis Vicente León.

Eles "devem garantir a unidade e o apoio à revolução", acrescentou.

"Mas a dificuldade é que a grande conexão emocional (com os eleitores) é Chávez. E é difícil pensar em como vão desmontar isso da noite para o dia", alertou Bacalao.

A analista ressalta também que uma deterioração da saúde de Chávez pode desencadear disputas pelo poder no seio do chavismo.

"Clãs, e parece-me que existem, certamente vão entrar em uma disputa pelo poder e por quem vai ficar mais perto do presidente para surgir como herdeiro", frisou.

Antes de revelar sua nova "lesão", apoiado em mais de 50% de popularidade e com um forte base eleitoral em meio às classes populares -- favorecidas com programas sociais e por um poderoso discurso de inclusão --, Chávez se mostrou convencido a vencer as eleições presidenciais e "pulverizar" seu adversário Capriles Radonski, contra quem pronunciou duras palavras.

Com o cabelo crescido depois da quimioterapia do ano passado e exibindo uma aparência melhor, Chávez havia se empenhado em transmitir nos últimos meses uma imagem enérgica e saudável.

Mas a operação à qual será submetido o presidente nos próximos dias e um eventual novo tratamento poderá obrigá-lo a "conter" sua agenda, segundo ele mesmo admitiu, o que poderá beneficiar Capriles Radonski, 18 anos mais jovem e que prometeu percorrer casa por casa no país durante sua campanha.

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