Manifestantes iranianos se reúnem ao redor de uma motocicleta em chamas em protestos contra aumento do preço da gasolina na cidade de Isfaham, 16 de novembro de 2019| Foto: AFP

A força de segurança mais poderosa do Irã ameaçou os manifestantes antigoverno nesta segunda-feira (18) com "ação decisiva" depois de dias de protestos por aumentos nos preços dos combustíveis, sinalizando uma repressão potencialmente brutal enquanto as autoridades se esforçavam para reprimir a agitação.

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A Guarda Revolucionária Iraniana, uma força militar de elite, disse que tomaria "ação decisiva e revolucionária contra qualquer movimento contínuo para perturbar a paz e a segurança do povo", segundo comunicado divulgado pela mídia estatal.

O alerta veio quando o governo continuou a restringir o acesso à Internet, dizendo que não estava claro quando o controle seria suspenso.

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"A Internet será reconectada em algumas províncias onde não há problemas de segurança", disse o porta-voz do governo Ali Rabiei na segunda-feira, informou a mídia local. Ele disse que achava que os protestos - que irromperam por todo o Irã - haviam diminuído na maioria do país.

A mídia estatal publicou imagens na segunda-feira de fachadas destruídas, veículos carbonizados e prédios saqueados, supostamente por manifestantes nas principais cidades, incluindo a capital, Teerã.

O tamanho e a escala dos protestos continuaram incertos na segunda-feira por causa do desligamento da Internet. Na cidade central de Isfahan, disseram os moradores, uma sensação de silêncio prevaleceu após uma noite de intensos confrontos com a polícia. Em Mashhad, no nordeste, as ruas estavam igualmente desertas. Em algumas cidades, o governo ordenou o fechamento de escolas e a suspensão do transporte público.

O Centro de Direitos Humanos no Irã, com sede em Nova York, disse na segunda-feira que pelo menos 12 pessoas foram mortas, citando relatos da mídia local. As autoridades confirmaram no domingo que duas pessoas - incluindo um manifestante e um policial - foram mortas.

Os protestos começaram na sexta-feira apenas algumas horas depois que o governo anunciou que estava aumentando o preço do combustível para os consumidores. O Irã, que possui a quarta maior reserva de petróleo do mundo, também mantém um dos maiores subsídios ao preço da gasolina no mundo.

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Um conselho econômico comandado pelo presidente Hassan Rouhani aumentou o custo da gasolina em 50%, de 10.000 para 15.000 rials, ou US$ 0,13 por litro.

Com o novo preço, os consumidores podem comprar até 60 litros de gasolina, uma quantidade maior do que essa custará o dobro por litro. Antes do aumento, os consumidores podiam comprar até 250 litros pelo preço subsidiado. Mas os iranianos comuns, fartos com a inflação descontrolada e uma moeda fraca, rejeitaram a decisão.

A medida surpresa foi projetada para arrecadar fundos para distribuição de dinheiro para cerca de 60 milhões de iranianos de baixa renda. E no domingo, o líder supremo aiatolá Ali Khamenei declarou seu apoio à mudança. Khamenei também alertou os cidadãos que não se misturem com aqueles que ele descreveu como "marginais" que buscam explorar o caos. "Esse é o meu conselho", ele disse. "Eles devem perceber quem é responsável pelos incêndios, destruição, sabotagem, brigas e insegurança".

Sanções americanas

Nos últimos anos, a economia do Irã enfraqueceu sob as sanções dos EUA, e medidas semelhantes para cortar subsídios provocaram uma onda de protestos há dois anos.

Em cidades pelo Irã, motoristas abandonaram seus carros em estradas e manifestantes bloquearam rodovias e incendiaram pneus e até prédios.

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Os Estados Unidos iniciaram uma campanha de "pressão máxima" contra o Irã. Com essa estratégia, o país espera obrigar Teerã a abandonar seus programas de energia nuclear e de mísseis balísticos. Um pilar fundamental da campanha inclui um embargo quase total à economia iraniana, incluindo a interrupção das exportações de petróleo, o bloqueio de transações financeiras e a proibição de empresas de investir nas indústrias de aviação, automotiva e marítima do país.

Na segunda-feira, o chefe do judiciário Ebrahim Raisi - um membro importante do conselho econômico que anunciou o decreto - reconheceu as preocupações dos manifestantes e admitiu que o governo falhou em comunicar adequadamente o raciocínio por trás da decisão. "Era necessário informar o público de antemão", disse ele.

O governo começará a distribuição de dinheiro, financiada pelo aumento de preços, para cerca de 20 milhões de iranianos a partir de terça-feira, informou a mídia estatal.