A catedral de Notre-Dame, em Paris, envolta pelas chamas nesta segunda-feira, 15 de abril de 2019. Foto: Fabien Barrau / AFP| Foto:

A flecha (uma torre fina que ficava no meio da catedral), o telhado e grande parte do interior da Catedral de Notre-Dame foram destruídos nesta segunda-feira (15), quando um incêndio catastrófico se espalhou em poucos minutos pelo prédio que fica no coração de Paris há mais de 800 anos.

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O porta-voz da catedral, André Finot, disse à imprensa francesa que o edifício sofreu "danos colossais" e que o interior de madeira medieval - uma maravilha artística e de engenharia que inspirou admiração em milhões de pessoas que visitaram ao longo dos séculos - foi destruído. "Tudo está queimando", disse ele. "Nada restará da estrutura interna".

Mas no final da noite de segunda-feira, as autoridades disseram que as icônicas torres gêmeas que emolduram a grande entrada do prédio foram salvas e que a estrutura exterior da catedral foi preservada.

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A catedral está sendo reformada, e autoridades disseram que estavam considerando o incêndio como um acidente relacionado ao trabalho de construção. A promotoria de Paris abriu uma investigação. Nenhuma morte foi relatada, e um bombeiro ficou gravemente ferido.

No final da noite desta segunda, os bombeiros anunciaram que o incêndio estava sob controle mas que os trabalhos continuam. Eles estão monitorando fogos residuais e resfriando as áreas quentes para garantir que as chamas não retornem, o tenente-coronel dos bombeiros, Gabriel Plus, disse às agências de notícias por volta de 3 horas da madrugada de terça em Paris (22h de segunda em Brasília).

Ajuda milionária

Um empresário prometeu doar 100 milhões de euros para a reconstrução da catedral de Notre-Dame, segundo a agência de notícias France-Presse. O bilionário François-Henri Pinault é o diretor do grupo Kering, proprietário de marcas de luxo como Gucci, Yves Saint Laurent, Balenciaga e Alexander McQueen.

Na mesma hora, incêndio em mesquita em Jerusalém

Um incêndio atingiu a mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, no mesmo momento em que a catedral de Notre-Dame estava em chamas, segundo a imprensa internacional. O fogo não causou danos significativos na mesquita, que é o terceiro local sagrado do Islã.

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A agência de notícias da Palestina, veículo oficial de comunicação da Autoridade Nacional Palestina, informou que o fogo começou na sala da guarda do lado de fora de uma sala de orações e foi controlado pela brigada de incêndio.

Cidade parada

O fogo começou no final da tarde, com nuvens amarelas de fumaça subindo para um céu azul e chamas alaranjadas atingindo o campanário. À medida que a noite começava a cair sobre a cidade, um grande buraco podia ser visto onde antes estava o enorme teto abobadado. Chamas continuavam a brilhar contra o céu noturno enquanto um coro improvisado nas ruas da região cantava com tristeza "Ave Maria", alguns membros de joelhos.

O calor do fogo podia ser sentido do outro lado do rio Sena, enquanto os bombeiros bombeavam água freneticamente e procuravam salvar os inestimáveis ​​trabalhos armazenados e exibidos no interior do edifício.

Os relatos iniciais da imprensa francesa sugeriram que muitas dessas peças já haviam sido removidas na semana passada durante as reformas, e Finot disse que a coleção de relíquias e outros itens sagrados da catedral, guardados na sacristia, provavelmente não foram prejudicados. "Normalmente, não há risco de que as coisas sejam queimadas", disse ele.

Uma importante relíquia armazenada no local estaria preservada. A Coroa de Espinhos que acredita-se que teria sido usada por Jesus Cristo antes da crucificação está salva, de acordo com o sacerdote responsável pela catedral.

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Tragédia em Paris

O resto da cidade parecia parado enquanto o fogo consumia a construção, com milhares de transeuntes observando das ruas ao redor. Muitos estavam em lágrimas, olhando em silêncio atordoado. Alguns filmaram as cenas em smartphones e as transmitiram para o mundo.

Em todo o mundo, cenas da destruição desencadearam uma onda de emoção, com pessoas postando fotos de família nas redes sociais mostrando visitas a um edifício que foi construído e aperfeiçoado ao longo de séculos, mas que foi queimado em questão de horas.

O edifício, cuja pedra fundamental foi lançada em 1163, é o monumento mais visitado de Paris, com mais de 12 milhões de pessoas por ano - quase o dobro das pessoas que visitam a Torre Eiffel. Seus intrincados pilares, gárgulas de pedra, pináculos e vitrais fazem dela uma das grandes obras-primas da arquitetura.

O presidente francês Emmanuel Macron twittou: "Notre-Dame de Paris vítima das chamas. A tristeza de uma nação inteira. Nossos pensamentos estão com todos os católicos e franceses. Como todos os nossos compatriotas, estou triste esta noite por ver esta parte de nós queimando".

Mais tarde, Macron visitou o local, observando com os outros enquanto a estrutura era envolta pelas chamas.

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A igreja é ao mesmo tempo um centro literal e figurativo da cidade: ela ancora a Île de la Cité, a ilha no rio Sena onde surgiram os primeiros assentamentos que acabaram se tornando a cidade de Paris. A comum distinção entre "margem esquerda" e "margem direita" é em referência a esta ilha.

Até a noite de segunda-feira, a Notre Dame havia conseguido resistir tanto aos elementos quanto às vicissitudes da história que deixaram sua marca em outras partes da capital francesa: a Revolução Francesa, a Comuna de Paris, duas guerras mundiais e os planos de demolição de Adolf Hitler em 1944.

O Papa Francisco divulgou um comunicado na segunda-feira expressando o "choque e tristeza" do Vaticano com "a notícia do terrível incêndio que devastou a Catedral de Notre Dame, símbolo do cristianismo na França e no mundo".

"Nós expressamos proximidade aos católicos franceses e ao povo de Paris e asseguramos nossas orações pelos bombeiros e aqueles que estão fazendo todo o possível para enfrentar esta situação dramática", dizia o comunicado.

"Eu não tenho uma palavra suficientemente forte para expressar a dor que sinto", twittou a prefeita de Paris, Anne Hidalgo.

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Muitos dos que se reuniram na base da catedral na segunda-feira eram turistas e peregrinos em visita para o feriado da Páscoa. Outros eram locais, ali para prestar suas homenagens.

"Eu vim porque moramos em Paris e porque, bem, na semana passada estávamos todos lá, tomando um drinque nos degraus da catedral, apreciando as lindas flores do jardim", disse Fatima Marie, uma parisiense de 35 anos. "Nós pensamos que seria melhor estar aqui entre amigos."

Donia Hammami, 35 anos, especialista em comércio em Paris, estava em sua academia nas proximidades quando viu os relatos do incêndio e correu para o local. Ela estava chorando no meio da multidão, vendo a catedral queimar.

"Para mim, esta tem sido uma inspiração para muitas outras igrejas na Europa desde o século 14 em diante, na maneira como fez para que a luz se refletisse mais", disse Hammami. "Ela tem estado aqui por todas essas eras."

"Este é um momento histórico para todos nós, no pior sentido possível do termo", acrescentou.

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A Europa está repleta de estruturas históricas que foram reconstruídas após danos durante períodos tanto de guerra quanto de paz. Mas especialistas se desesperaram com as chances de que a perda para a Notre-Dame fosse incalculável e irrecuperável.

"Não são apenas as características medievais", twittou Kate Wiles, acadêmica do Kings 'College London. "É um palimpsesto de trabalho e retrabalho, e construção e reconstrução, e nós perdemos todas essas camadas. Não é apenas a obra-prima 'original' que estamos perdendo, mas a culminação de cerca de 900 anos de história, que simplesmente não pode ser reconstruído".

A flecha que desabou na segunda-feira, por exemplo, não é um componente original da catedral. Foi adicionada no século 19, quando os gostos se voltaram para um renascimento gótico, pelo arquiteto Eugène Viollet-le-Duc. As gárgulas - imortalizadas no romance clássico de Victor Hugo "O Corcunda de Notre Dame" - também foram adicionadas no século 19.

Ao longo da história cultural francesa, a Notre Dame serviu como um poderoso símbolo de Paris e da herança cultural da França. O escritor Anatole France uma vez descreveu-a como "pesado como um hipopótamo", mas "leve como uma borboleta". O pintor Marc Chagall a retratou em suas telas, distorcida como em um sonho.

Tanque de água aéreo

O presidente dos EUA Donald Trump twittou seu conselho a Paris na segunda-feira: "Tão horrível ver o enorme incêndio na Catedral de Notre-Dame em Paris. Talvez tanques de água aéreos possam ser usados ​​para apagá-lo. A ação deve ser rápida!"

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O corpo de bombeiros francês tuitou, aparentemente em resposta a Trume, que "despejar água por avião neste tipo de construção poderia resultar no colapso de toda a estrutura".

Trump disse na segunda-feira à tarde que "eles não sabem o que causou [o incêndio]. Eles dizem [que foi a] reforma, e eu espero que essa seja a razão. Reforma? O que é isso?"

Embora não exista evidência de uma conexão até o momento, a França tem visto vários ataques contra igrejas católicas neste ano, incluindo incêndios e vandalismo.

Segundo o site de notícias britânico Express, dez igrejas católicas francesas sofreram ataques em uma semana em março deste ano, a maioria dos casos foi de vandalismo e objetos danificados nas igrejas.

No caso mais grave, a Igreja de St. Sulpice, em Paris, foi incendiada após a missa do meio-dia no mês passado. Ninguém ficou ferido. A polícia está investigando, mas os bombeiros dizem que o incêndio foi criminoso.

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A possibilidade de que a causa do incêndio de Notre-Dame fosse criminosa estava nas mentes de alguns dos que assistiram a catedral queimar na noite de segunda-feira.

"Eu estava em Nova York no dia 11 de setembro e isso me lembra daquilo", disse Donna Calhoun, 57 anos, professora de matemática de Boise, que está em um período sabático na Sorbonne. "Eu só espero que não tenha sido um incêndio criminoso".