• Carregando...
Profissional de saúde prepara uma dose da vacina da Pfizer/BioNTech contra Covid-19 em centro de vacinação em Tel Aviv, Israel, 31 de dezembro de 2020
Profissional de saúde prepara uma dose da vacina da Pfizer/BioNTech contra Covid-19 em centro de vacinação em Tel Aviv, Israel, 31 de dezembro de 2020| Foto: JACK GUEZ / AFP

Mais de 20% da população de Israel já recebeu pelo menos uma dose de vacina contra Covid-19 desde que o país de 8,8 milhões de habitantes autorizou o uso do imunizante da Pfizer, em 19 de dezembro. Entre os que têm mais de 60 anos, grupo mais vulnerável à infecção, cerca de 70% já foram imunizados. Os dados são do Our World in Data.

Pessoas com mais de 60 anos, profissionais de saúde e que trabalham em moradias de idosos foram os primeiros a serem vacinados no país, que neste domingo (10) começou a distribuir a segunda dose da vacina. Israel também aprovou o uso do imunizante da empresa americana Moderna, que começará a ser aplicado na segunda-feira.

Enquanto acelera a vacinação, Israel passa pelo seu terceiro lockdown desde o início da pandemia, após registrar um aumento recorde nas transmissões da doença, que as autoridades de Saúde do país dizem ter sido causado pela variante mais contagiosa do Sars-CoV-2 que foi primeiro detectada no Reino Unido.

Mas as notícias sobre a campanha de vacinação bem-sucedida têm sido acompanhadas por acusações de negligência com a população palestina pelo governo de Israel. A organização de direitos humanos Anistia Internacional afirmou que Israel tem a obrigação de fornecer a vacina aos palestinos em territórios ocupados e acusou o governo do país de "discriminação institucionalizada".

"O governo israelense deve parar de ignorar suas obrigações internacionais como uma potência ocupante e garantir imediatamente que as vacinas da Covid-19 sejam oferecidas de forma igualitária e justa aos palestinos que vivem sob sua ocupação na Cisjordânia e na Faixa de Gaza", disse a Anistia Internacional em comunicado divulgado na quarta-feira (6).

No entanto, especialistas dizem que, sob os Acordos de Oslo, a Autoridade Palestina é a responsável pelos serviços de saúde, incluindo vacinação, oferecidos aos cidadãos nesses territórios, e que os palestinos não pediram ajuda a Israel para comprar as vacinas. Os acordos, assinados em 1993 e 1995 como parte do processo de paz entre Israel e Palestina, criaram a Autoridade Palestina, que recebeu a tarefa de administrar partes da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Hoje, a Palestina é reconhecida como autogoverno por pelo menos 137 países.

"Não é verdade que Israel tem obrigação de vacinar [os palestinos dos territórios]. Os palestinos são administrados pela Autoridade Palestina. Se eles vivessem sob ocupação, sim. Até 1995, 1994, antes da Autoridade Palestina existir, Israel era responsável pelo estado social deles. Hoje, não", afirma André Lajst, cientista político e diretor-executivo da ONG StandWithUs Brasil, uma organização internacional de educação sobre Israel.

Segundo o cientista político, Israel enviou ajuda aos palestinos durante a pandemia, em forma de valores, empréstimos e do envio de equipamentos de proteção e outros materiais. A Cruz Vermelha em Israel e o Crescente Vermelho na Palestina também trabalharam em conjunto, seguindo um acordo de cooperação entre as partes.

A imprensa israelense diz que a Autoridade Palestina não procurou oficialmente o governo de Israel para pedir ajuda para comprar as vacinas. O governo palestino inicialmente procurou negociar com a Rússia doses da Sputnik-V, vacina contra Covid-19 fabricada no país. Por fim, os palestinos decidiram se unir ao programa Covax, da Organização das Nações Unidas (ONU), que pretende ajudar na vacinação contra o coronavírus nos países mais pobres e se comprometeu a vacinar 20% da população palestina.

O diretor-geral do Ministério da Saúde palestino, Ali Abed Rabbo, estimou que as primeiras doses distribuídas pela Covax chegariam aos territórios palestinos em fevereiro. O restante das vacinas deve ser conseguido por acordos com empresas farmacêuticas, embora nenhum já esteja fechado, noticiou o The Guardian.

André Lajst ressalta que a população árabe que vive no Estado de Israel está sendo vacinada como todos os outros cidadãos do país. Existem cerca de 2 milhões de cidadãos árabes em Israel e 300 mil palestinos que residem em Jerusalém Oriental. A maioria da população árabe de Jerusalém Oriental tem visto de residência em Israel, mas não cidadania israelense. Essa população também está sendo vacinada contra a Covid-19, diz Lajst.

Na análise do cientista político, o governo de Israel teria dificuldade para justificar o gasto de milhões de dólares para a compra de vacinas para os palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, porque os palestinos teriam os recursos necessários para esse investimento.

Desde a criação da Autoridade Palestina, uma lei estipula que 7% do orçamento anual nacional devem ser destinados para o pagamento de salários de palestinos presos em Israel e de familiares de pessoas que morreram em atentados.

Lajst vê esse salário como um "incentivo ao terrorismo" contra Israel. "Esse valor está entre US$ 350 milhões e US$ 400 milhões por ano. Com isso, os palestinos poderiam ter comprado 8 milhões de doses de vacina e vacinado toda a sua população", opina.

"O governo palestino precisa escolher suas prioridades. A prioridade é ajudar a população palestina ou continuar eternamente em conflito com Israel?", questiona o diretor da ONG. "Israel não teria problema nenhum em ajudá-los novamente caso fosse solicitado. Não adianta eles, de certa forma, pedirem ajuda para Israel e ao mesmo tempo incitarem o ódio contra o país ao qual estão pedindo ajuda".

Brasileiros são vacinados em Israel

O brasileiro Marcos Susskind, 71 anos, residente em Israel, tomando a vacina contra a Covid-19 | Foto: Arquivo pessoal
O brasileiro Marcos Susskind, 71 anos, residente em Israel, tomando a vacina contra a Covid-19 | Foto: Arquivo pessoal

O brasileiro Marcos Susskind, que mora em Israel há pouco mais de cinco anos, relata que o processo para agendar e receber a vacina foi rápido e organizado.

Ele conta que, assim que a primeira vacina contra o coronavírus foi autorizada no país, telefonou para a sua operadora de saúde - uma das quatro do sistema de saúde pública do país - para agendar um horário para ele e sua esposa. "Eu tive a sorte de já ser vacinado no segundo dia", comemora.

No dia 23 de dezembro, o casal chegou um pouco antes do horário marcado no posto de saúde em Holon, no distrito de Tel Aviv. Após responder um questionário com perguntas sobre saúde, os dois foram vacinados, aguardaram 15 minutos no local para ver se não teriam alguma reação e depois foram liberados.

Os dois receberam um telefonema, 48 horas depois, de profissional do posto de saúde que fez uma série de perguntas para saber se eles tiveram alguma reação à vacina e para marcar a data da inoculação da segunda dose. "Eu tive dor no local na picada por umas 24 horas, minha esposa não teve nem isso", conta o brasileiro.

Susskind conta que o casal mantém os cuidados ao sair de casa e que sentiu-se confortável para almoçar com a sua irmã, que também foi vacinada, passados dez dias - o período para que a vacina da Pfizer comece a oferecer alguma proteção.

Ele diz ter ficado impressionado com a forma como Israel se preparou para vacinar os habitantes. "Eu não esperava que as aldeias distantes e isoladas conseguissem acompanhar o ritmo de imunização das cidades maiores. O Estado providenciou vans com sistema de refrigeração para chegar a lugares onde moram 15 ou 20 famílias", diz. A vacina que está sendo usada no país precisa ser armazenada em temperaturas baixíssimas.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]