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Foto de arquivo de 1º de dezembro de 2015: navio baleeiro japonês deixa o porto de Shimonoseki, oeste do Japão, para retomar a caça às baleias na Antártida | JIJI PRESSAFP
Foto de arquivo de 1º de dezembro de 2015: navio baleeiro japonês deixa o porto de Shimonoseki, oeste do Japão, para retomar a caça às baleias na Antártida| Foto: JIJI PRESSAFP

O Japão anunciou nesta quarta-feira (26) que vai deixar a Comissão Baleeira Internacional (CBI) e retomará a caça comercial de baleias em julho de 2019, provocando críticas de outros governos e grupos conservacionistas.

Tóquio argumenta que a CBI não cumpriu seu propósito de encontrar um equilíbrio entre preservar os estoques de baleias e permitir o "desenvolvimento ordenado" da indústria baleeira. Depois de não conseguir um acordo em uma conferência global no Brasil em setembro para retomar a caça comercial, o Japão agora está ameaçando se retirar completamente do órgão global. 

"Lamentavelmente, chegamos a uma decisão de que é impossível na CBI buscar a coexistência de estados com visões diferentes", disse o secretário-chefe do gabinete, Yoshihide Suga, em um comunicado. 

A retirada entrará em vigor no final de junho e a caça comercial será retomada em julho, “de acordo com a política básica do Japão de promover o uso sustentável de recursos aquáticos com base em evidências científicas”, disse Suga, acrescentando que a caça respeitará os limites de captura nos cálculos da CBI “para evitar impacto negativo sobre os recursos dos cetáceos”. 

O governo da Austrália disse que ficou “extremamente desapontado” com a decisão, enquanto a Nova Zelândia lamentou a retomada de uma prática desatualizada e desnecessária”. 

Grupos de conservação também condenaram a decisão. 

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"Durante décadas, o Japão fez campanhas agressivas e bem financiada para derrubar a proibição mundial da caça comercial de baleias", disse Kitty Block, presidente da Humane Society International, em um comunicado. "O país tem falhado consistentemente, mas ao invés de aceitar que a maioria das nações não quer mais caçar baleias, ele agora simplesmente saiu [da CBI]". 

A Humane Society International disse que também está preocupada que o Japão possa recrutar outras nações pró-caça para deixar a CBI, "levando a um novo capítulo de matança de baleias por lucro". 

O Greenpeace Japão disse que a decisão estava "fora de sintonia com a comunidade internacional", e argumentou que os estoques de baleias e os oceanos geralmente merecem melhor proteção. 

Japão, Noruega e Islândia mataram 38.539 baleias

Confrontada com o colapso das reservas de baleias, a CBI concordou com uma moratória à caça comercial de baleias a partir de 1986, um movimento creditado com a salvação de várias espécies da iminente extinção. 

Mas o Japão, a Islândia e a Noruega continuaram a caçar baleias. Até agora, o Japão justificou sua caça anual às baleias na Antártida, em nome de pesquisas científicas, que, segundo o país, são necessárias para avaliar populações globais de espécies de baleias. Esse argumento foi rejeitado pela Corte Internacional de Justiça em 2014, quando decidiu que a caça de ableias na Antártida não tinha base científica. O Japão parou por um ano e depois retomou com um novo "programa de pesquisa" que afirmava que atendia às preocupações do tribunal. 

Em outubro, a Convenção sobre o Comércio de Espécies Ameaçadas também deu um golpe na indústria baleeira do Japão, quando decidiu que o Japão havia quebrado suas regras pegando carne de baleia de águas internacionais sob o pretexto de pesquisa e vendendo-a comercialmente dentro do Japão. 

Em um relatório recente, a Agência de Investigação Ambiental (EIA) e o Instituto de Bem-estar Animal (AWI, na sigla em inglês) disseram que Japão, Noruega e Islândia mataram 38.539 baleias desde que a moratória entrou em vigor, com mais de 22.000 mortas apenas por barcos japoneses. 

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Grupos de animais silvestres dizem que as “pesquisas” sobre baleias no Japão foram uma tentativa velada de manter a indústria viva, garantindo a manutenção de barcos, habilidades e mercado para a carne de baleia. 

Agora, porém, o véu foi removido. Suga disse que o Japão deixará de usar baleias do Oceano Antártico e do Hemisfério Sul, e conduzirá caça comercial "dentro do mar territorial do Japão e em sua zona econômica exclusiva". 

O secretário do gabinete disse que as opiniões de países que querem continuar a caça de baleias de maneira sustentável "não foram levadas em consideração" durante as deliberações em Florianópolis, Brasil, em setembro. 

"Consequentemente, o Japão foi levado a tomar essa decisão", disse ele. 

Questão cultural

Já os conservacionistas argumentam que os estoques de baleias não se recuperaram suficientemente da caça excessiva passada e são de qualquer maneira difíceis de julgar, fáceis de esgotar e lentos para serem reconstruídos. Os mamíferos marinhos também enfrentam ameaças existenciais decorrentes da mudança climática e poluição marinha, incluindo plásticos, produtos químicos e ruído.

Há também uma repulsa generalizada no Ocidente à ideia de caçar e matar baleias, embora alguns defensores da caça às baleias apontem para a crueldade envolvida na criação industrial ocidental para nivelar as acusações de hipocrisia.

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A carne de baleia era uma fonte vital de proteína no Japão quando o país se recuperava dos estragos da Segunda Guerra Mundial, mas é muito menos popular nos dias de hoje. Apesar disso, o governo argumenta que faz parte da cultura tradicional do Japão, que remonta a séculos. 

"O engajamento na caça às baleias tem apoiado as comunidades locais e, assim, desenvolvido a vida e a cultura do uso de baleias", disse Suga. "O Japão espera que mais países compartilhem a mesma posição para promover o uso sustentável de recursos aquáticos com base em evidências científicas, que serão transmitidas às gerações futuras”.

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