Acadêmico desprezou elite e valorizou índios
São Paulo - Claude Lévi-Strauss é, entre os grandes intelectuais do século 20, talvez um dos nomes mais conhecidos no Brasil, mesmo por pessoas que nunca chegaram a ler um parágrafo que tenha sido escrito pelo "pai do estruturalismo".
Cronologia
Lévi-Strauss se definia como um "viajante, arqueólogo do espaço, procurando em vão reconstituir o exotismo com o auxílio de fragmentos e de destroços".
1908 Claude Lévi-Strauss nasce em Bruxelas, na Bélgica. É filho de pais franceses: Raymond Lévi-Strauss e Emma Lévy.
1909 A família, de origem judaica, muda-se para Paris.
1927 Inscreve-se em direito e faz curso de Filosofia na Sorbonne.
1935 Em fevereiro, embarca para o Brasil. Desembarca em Santos e passa a viver em São Paulo. Assume a cadeira de sociologia na USP.
1938 Desiste da renovação do contrato na Universidade de SP para consagrar-se a uma longa expedição pelo interior do Brasil.
1939 Volta à França e instala, no Museu do Homem, as coleções etnográficas recolhidas nos anos em que esteve no Brasil.
1941 Com o avanço da Segunda Guerra, decide partir para os EUA. Passa a viver em Nova Iorque.
1948 Defende na Sorbonne a tese As Estruturas Elementares do Parentesco , que é publicada em 1949.
1955 Publica Tristes Trópicos. A obra torna-se um clássico da etnologia e dos estudos sobre o país.
1959 É eleito para a cadeira de antropologia social no Collège de France.
1962 Publica O Totemismo Hoje e O Pensamento Selvagem este último dedicado à memória do filósofo francês Maurice Merleau-Ponty (1908-61).
1964-71 Publica os quatro volumes das Mitológicas.
1974 Toma posse na Academia Francesa.
1985 Volta ao Brasil após 46 anos.
1994 Publica Saudades do Brasil, que reúne fotografias do interior do país que fez entre 1935 e 1938.
1996 Publica Saudades de São Paulo, com fotografias de São Paulo feitas entre 1935 e 1937.
2008 Claude Lévi-Strauss completa cem anos.
2009 Morre em Paris.
Fonte: Folhapress
Paris - O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, cujo trabalho influenciou profundamente o pensamento do Ocidente sobre a civilização, morreu na madrugada do último domingo aos 100 anos, informou ontem sua editora Plon. A informação foi dada por colegas da Escola de Estudos Sociais.
Nascido em Bruxelas, em 1908, Lévi-Strauss renovou o estudo dos fenômenos sociais e culturais, principalmente os relacionados aos mitos. Formado em filosofia, alcançou fama com seu livro Tristes Trópicos, de 1955, considerado uma das obras mais importantes do século 20. No livro, o antropólogo relata o período em que viveu no Brasil entre 1935 e 1939 e as expedições que fez ao Paraná, Mato Grosso e Goiás. Nesses estados, conviveu com tribos indígenas dos bororos, nhambiquaras, tupi-cavaíbas e cadiuéus.
No período em que viveu no Brasil, Lévi-Strauss foi professor de sociologia na Universidade de São Paulo (USP), que então iniciava suas atividades. A USP, que lhe concedeu o título de Doutor Honoris Causa, divulgou nota lamentando a morte do antropólogo: "Estudou na Universidade de Paris e demonstrou verdadeira paixão pelo Brasil, conforme registrado em sua obra de sucesso Tristes Trópicos."
Retorno
Lévi-Strauss voltou à França em 1939, mas deixou o país em 1941 durante a guerra e foi para Nova Iorque, onde lecionou entre 1942 e 1945 na New School for Social Research. Voltou à França depois da guerra, onde em 1958 lançou o livro Antropologia Estrutural Em 1973, foi eleito membro da Academia Francesa.
Lévi-Strauss era um proponente do estruturalismo, teoria que busca descobrir os padrões primitivos e escondidos do pensamento, que, se acredita, determinam a realidade externa da cultura humana e das relações. O estruturalismo também era, Lévi-Strauss gostava de dizer, "a busca por harmonias insuspeitas".
Nos últimos anos, Lévi-Strauss vivia recolhido no apartamento onde viveu nos últimos 50 anos, em Paris, e recebia poucos amigos.
A Academia Francesa e a elite cultural se mobilizaram para prestar homenagens a Lévi-Strauss com um programa de filmes, leituras e reflexões sobre sua contribuição ao pensamento moderno. Jean-Mathieu Pasqualini, dirigente da Academia Francesa, disse que uma homenagem ao antropólogo foi programada para hoje.
O acadêmico Jean dOrmesson, que ocupava a cadeira vizinha do etnólogo na Academia, saudou "o maior sábio francês": "Era um homem de uma cultura muito grande, de uma grande benevolência. Ele sabia tudo. Ele tinha uma cultura literária absolutamente extraordinária e se tornou uma espécie de ícone internacional".
Para a maior parte do meio acadêmico brasileiro, a influência de Lévi-Strauss se deu bem depois de sua partida da USP.
O etnólogo alcançou notoriedade entre os antropólogos brasileiros entre os anos 1950 e 1980, principalmente.
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Principais obras
Fonte: Folhapress
Autor estudou a correlação do processo formador de mitos com o pensamento ocidental.
As Estruturas Elementares do Parentesco (1949) Marco fundador da antropologia estrutural. Lévi-Strauss repensa o problema universal da proibição do incesto.
Tristes Trópicos (1955) Autobiografia intelectual relata a vinda de Lévi-Strauss ao Brasil nos anos 1930.
Antropologia Estrutural (1958) Coletânea apresenta paralelos estruturais entre as figuras do xamã e do psicanalista e lança as bases teóricas da mitologia.
Mitológicas (1964-71) A análise de cerca de 800 mitos ameríndios e inspirado nos moldes da música.
A Via das Máscaras (1975) Lévi-Strauss retoma e estuda questões fundamentais da estética e da história da arte.
História de Lince (1991) O autor investiga as fontes filosóficas e éticas do dualismo ameríndio a partir das lendas.
Saudades do Brasil (1994) Álbum fotográfico que remonta às raízes da aventura antropológica de Lévi-Strauss, traz imagens de São Paulo e do Centro-Oeste.
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