Nascido em Gana, Kofi Annan foi um dos ganhadores do prêmio Nobel da Paz.| Foto: TIMOTHY A. CLARY/AFP

O ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan faleceu neste sábado aos 80 anos. Sua fundação, por meio de um comunicado, anunciou sua morte, apenas indicando que ele teria sofrido uma doença súbita. Nascido em Gana em 1938, o africano foi um dos ganhadores do prêmio Nobel da Paz.

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Chefe da diplomacia das Nações Unidas entre 1997 e 2006, ele foi internado às pressas em um hospital de Berna, na Suíça. Os detalhes sobre seu funeral ainda estão sendo organizados.

Ele era casado com a sueca Nane Annan, sobrinha de Raoul Wallenberg, o diplomata sueco que salvou dezenas de milhares de judeus dos nazistas na Segunda Guerra Mundial. E deixa três filhos, Ama, Kojo e Nina.  

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António Guterres, atual secretário-geral da ONU, emitiu um comunicado expressando sua “profunda tristeza”. “De muitas formas, Annan era a ONU. Ele subiu dentro da organização para liderá-la ao novo milênio, com dignidade e determinação”, escreveu. 

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O português insistiu que Annan foi seu mentor e indicou que, “em tempos turbulentos”, ele nunca deixou de agir. 

Annan também mantinha uma estreita amizade com Sérgio Vieira de Mello, o brasileiro que liderou a ONU por algumas das maiores crises humanitárias e que morreu há 15 anos em Bagdá. 

Carreira

Annan passou praticamente toda a sua carreira como administrador nas Nações Unidas, onde ingressou em 1962. Sua história inclui passagens por postos na África e na Europa em quase todas as áreas da organização, da administração do orçamento à manutenção da paz.

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Em 2001, ele e a ONU receberam conjuntamente o prêmio Nobel da Paz.

"É uma sensação maravilhosa e um grande encorajamento para nós e para a organização, pelo trabalho que fizemos até agora", disse Annan à época, depois de ter sido informado da escolha em sua residência oficial. "É um grande reconhecimento para a equipe." Aquela marcou a primeira vez que a ONU recebeu o Nobel da Paz. Até então, o único secretário-geral a ser premiado havia sido o sueco Dag Hammarskjold, agraciado postumamente em 1961.  

Durante seu mandato, Annan presidiu alguns dos piores fracassos e escândalos no âmbito mundial, um de seus períodos mais turbulentos desde a sua fundação em 1945.  

Annan ainda teve seu mandato marcado pela decisão de denunciar como “ilegal” a guerra de George W. Bush no Iraque. A partir de então, ele passou a ser alvo de ataques por parte da diplomacia americana. Meses depois de sua declaração, Annan viu seu filho acusado de envolvimento em escândalos de corrupção.

O africano ficou abalado com a ofensiva contra ele e sua família e, por meses, chegou a perder sua voz.

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Em seu livro de memórias, Annan reconheceu os custos de assumir o principal cargo diplomático do mundo, brincando de que "SG", para secretário-geral, também significava "bode expiatório" em torno da sede da ONU.  

O ex-embaixador dos EUA nas Nações Unidas, Richard Holbrooke, chamou Annan de "um astro do rock internacional da diplomacia".  

Saída da ONU

Depois de deixar seu alto cargo na ONU, Annan não desistiu. Em 2007, sua fundação, instalada em Genebra, foi criada. Nesse ano, ele ajudou a intermediar a paz no Quênia, onde a violência eleitoral matou mais de mil pessoas.  

Ele também se juntou ao The Elders, um grupo de elite de ex-líderes fundado por Nelson Mandela, que sucedeu Desmond Tutu como seu presidente e tentou resolver a crescente guerra civil na Síria.  

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Como enviado especial à Síria em 2012, Annan ganhou apoio internacional para implantar um plano de seis pontos pela paz. A ONU enviou uma força de observação de 300 membros para monitorar um cessar-fogo, mas a paz nunca se firmou, e Annan não conseguiu superar o impasse entre os poderes do Conselho de Segurança. Ele pediu demissão, frustrado, sete meses depois do início da guerra civil.  

Annan continuou a cruzar o globo. Em 2017, os maiores projetos de sua fundação incluíram a promoção de eleições justas e pacíficas; trabalhar com o governo de Mianmar para melhorar a vida no estado problemático de Rakhine; e lutando contra o extremismo violento, recrutando jovens para ajudar.  

Ele também manteve-se atuante diante de problemas como a crise dos refugiados, além de promover a boa governança, medidas anticorrupção e agricultura sustentável na África. Outra de suas frentes de trabalho inclui esforços na luta contra o tráfico de drogas.  

Annan manteve conexões com muitas organizações internacionais. Ele foi chanceler da Universidade de Gana, membro da Universidade de Columbia, em Nova York, e professor da Escola de Políticas Públicas Lee Kuan Yew, em Cingapura.  

Comunidade internacional

O presidente de Gana, Nana Akufo-Addo, afirmou que Kofi Annan representa um imenso orgulho para o país.  

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"Diplomata consumado e altamente respeitado ex-secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan foi o primeiro da África Subsaariana a ocupar essa exaltada posição. Ele trouxe considerável renome ao nosso país por essa posição e por sua conduta e comportamento na arena global ", disse. "Ele acreditava ardorosamente na capacidade do ganense de traçar seu próprio curso no caminho do progresso e da prosperidade."  

O Kremlin divulgou um comunicado do presidente da Rússia, Vladimir Putin. "Eu sempre admirei sua sabedoria e coragem em momentos críticos. Sua lembrança estará sempre no coração dos russos", afirmou.

Além dele, outros líderes europeus enviaram condolências pela morte de Kofi Annan, elogiando sua liderança forte e graciosa.  

O presidente da França, Emmanuel Macron, disse em um tuíte neste sábado que "nunca esqueceremos seu olhar calmo e resoluto, nem sua força nas batalhas".  

Já a primeira-ministra britânica, Theresa May, também escreveu em seu Twitter que Annan "fez uma enorme contribuição para tornar o mundo que ele deixou um lugar melhor do que o que ele nasceu".  

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O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, afirmou ainda que o "calor" de Annannunca deve ser confundido com fraqueza. A ONU e o mundo perderam um de seus gigantes".

Com informações da Associated Press.