Segundo projeto de lei, judeus teriam permissão para comprar alimentos kosher, mas somente se pudessem provar que são membros ativos de suas comunidades religiosas| Foto: Pixabay

As comparações nazistas se tornaram frequentes em quase qualquer parte do mundo e raramente atraem atenção nos dias de hoje. Mas no país onde nasceu Adolf Hitler, a Áustria, elas costumam causar incômodo sempre que surgem.

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Foi o que ocorreu esta semana, depois que organizações judaicas criticaram o Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), líder do governo no estado da Baixa Áustria, pela proposta de exigir que os judeus se registrassem junto ao governo se quisessem comprar carne ‘kosher’ (alimento preparado de acordo com as leis judaicas). As mesmas regras se aplicariam aos muçulmanos. 

"Isso constitui um ataque à vida judaica e muçulmana", escreveu o Comitê Judaico Americano baseado em Berlim. "Logo pedirão que andem com uma estrela no peito?", perguntou o grupo de defesa dos judeus, referindo-se aos distintivos da Estrela de Davi que os judeus foram forçados a usar durante momentos da era nazista. Com um tom similar, a associação Comunidade Cultural Israelense de Viena classificou a proposta de lei como um "parágrafo ariano". 

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O FPÖ da Áustria protagonizou vários escândalos nazistas nos últimos anos e foi acusado de provocar sentimentos antissemitas, mas desta vez os populistas de direita se consideram as críticas injustas. "Esta proposta de lei data de 2017, quando foi elaborada pelo [partido] Social-Democrata durante seus últimos dias no cargo", disse Alexander Murlasits, porta-voz do FPÖ, ao Washington Post na quinta-feira (19). 

"Tudo o que estamos fazendo agora é seguir as regras. Isso não tem nada a ver com religião - é sobre proteção animal", disse Murlasits. 

No entanto, os críticos do partido não vão comprar essa defesa. Desde que se juntou à coalizão austríaca do governo de direita no ano passado, membros do FPÖ evitam abraçar abertamente a retórica antissemita que o partido foi acusado de empregar no passado. Mas por décadas seus principais membros pagaram por anúncios em uma revista extremista que é abertamente hostil aos judeus, de acordo com um estudo feito por vários institutos de pesquisa e uma organização de direitos humanos.

O parceiro de coalizão do FPÖ, o conservador Partido do Povo Austríaco (ÖVP), tem lutado para superar suas hesitações em se unir a um partido tão polêmico. Durante o debate desta semana sobre a proposta de lei, os representantes do ÖVP se recusaram a apoiar seus aliados de extrema-direita.

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Enquanto isso, os social-democratas que perderam o poder no ano passado estão negando as acusações de que estão por trás da legislação e dizem que a proposta da lei nunca foi aplicada aos consumidores, mas sim aos açougueiros que usam os métodos de abate kosher ou halal. 

Estas técnicas são destinadas a reduzir o sofrimento dos animais, dizem os defensores judeus e muçulmanos. Críticos duvidam que o abate halal e kosher seja de fato menos doloroso do que os procedimentos usados amplamente.

Liberdade religiosa 

Numa carta enviada a uma organização comunitária judaica na Áustria, o ministro do Gabinete do Lower Austria,Gottfried Waldhäusl (FPÖ), indicou que partilhava das preocupações com os direitos dos animais, mas não procurava uma proibição geral da carne kosher e halal. A liberdade religiosa é "algo que nunca deve ser questionado", escreveu ele. 

O projeto prevê que judeus e muçulmanos ainda teriam permissão para comprar alimentos kosher e halal, mas somente se pudessem provar que vivem na Baixa Áustria e que são membros ativos de suas comunidades religiosas. As vendas seriam restritas a uma certa quantidade de carne por semana. Efetivamente, isso significa que os restaurantes não poderiam mais oferecer opções halal ou kosher. 

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Um porta-voz da Comunidade Religiosa Islâmica na Áustria (IGGÖ), organização que defende os interesses religiosos dos muçulmanos austríacos, compartilhou as críticas de associações judaicas nesta semana, dizendo que o projeto estava trazendo de volta "memórias de um dos capítulos mais sombrios da história recente". 

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A proposta, disse o porta-voz, "na verdade era contra nós, já que o FPÖ há muito tempo aumentou as tensões contra os muçulmanos e dividiu o país".