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Exposição de obras de James E. Buttersworth no Mariners’ Museum, Estado de Virgínia, inclui uma tela falsificada; acima, apenas dois quadros são autênticos —você consegue adivinhar quais? | Ao centro, Ken Perenyi; outros, James Edward Buttersworth/The Mariners’ Museum
Exposição de obras de James E. Buttersworth no Mariners’ Museum, Estado de Virgínia, inclui uma tela falsificada; acima, apenas dois quadros são autênticos —você consegue adivinhar quais?| Foto: Ao centro, Ken Perenyi; outros, James Edward Buttersworth/The Mariners’ Museum

O artista do século 19 James E. Buttersworth foi um titã no campo da arte marinha, mas não pode ser descrito como famoso. Apreciado por suas cenas detalhadas e belas de iates de corrida e clippers (um tipo de veleiro muito veloz), ele é desconhecido pelo grande público, razão pela qual seu poder de atrair visitantes é limitado.

Para superar esse obstáculo, o Mariners’ Museum, em Newport News, Virgínia, teve uma ideia inovadora para a mostra que está promovendo da obra do pintor: incluir uma tela falsificada na exposição e desafiar os visitantes a farejar a imitação em meio às 34 obras genuínas de Buttersworth.

Museus e obras falsificadas são inimigos naturais. "O museu não podia dar a impressão de estar gastando dinheiro com o trabalho falsificado e incluindo-o na coleção", disse Lyles Forbes, curador-chefe do museu e organizador da mostra "B Is for Buttersworth, F Is for Forgery: Solve a Maritime Mystery" [B de Buttersworth, F de falsificação: elucide um mistério marinho], aberta em outubro. Forbes contou que nem sabia ao certo como adquirir uma obra falsificada. Ele contou com a ajuda de um homem que concordou em se identificar apenas como "um amigo do museu".

O amigo se encarregou de obter uma tela falsificada de Buttersworth, tarefa que se mostrou relativamente fácil. Em matéria de falsas obras de Buttersworth, quase todos os caminhos levam a um homem: Ken Perenyi.

Perenyi passou anos estudando e imitando o trabalho de Buttersworth, lucrando com a venda de seus trabalhos a marchands e colecionadores que não sabiam tratar-se de falsificações. Perenyi não hesita em admitir o que fez. Ele relatou seus tempos de "pirata", produzindo telas falsas de Buttersworth e Martin Johnson Heades, os dois pintores que ele mais imitou, no livro "Caveat Emptor: The Secret Life of an American Art Forger", lançado dois anos atrás. Hoje ele faz seu trabalho legalmente. Por meio de um intermediário, o amigo do museu adquiriu um falso Buttersworth do estoque de Perenyi, pagando entre 5% e 10% do preço que a tela poderia alcançar se fosse autêntica. Perenyi disse que seus preços variam entre US$ 5.000 e US$ 150 mil.

O museu fez questão de não mencionar Perenyi, que disse só ter tomado conhecimento da exposição quando um repórter o procurou, dizendo que um trabalho dele estava na mostra. Forbes explicou: "Não queríamos legitimar o falsificador de qualquer maneira nem passar a impressão de o estarmos promovendo". Ao entrar na exposição, os visitantes se aproximam de uma imagem digital de "Magic and Gracie off Castle Garden", tela de Buttersworth de 1871 que mostra dois iates, com as velas ao vento, participando de uma regata. Em uma tela de televisão ao lado, "pontos sensíveis" ativados com o toque de um dedo explicam os detalhes do quadro: a assinatura, o tamanho, elementos do segundo plano, o céu e o tempo, o mar e as gaivotas, a composição e os detalhes minuciosos dos barcos.

Ajudados por pistas escondidas nos textos nas paredes, os visitantes tentam identificar a tela falsificada. Aos que a descobriram é pedido que não revelem o segredo. Forbes convidou Colette Loll, da empresa de consultoria Art Fraud Insights, a escrever alguns dos textos. A respeito de Perenyi, Loll comentou: "Ele parece não sentir qualquer remorso por ter diluído, com todas as falsificações que inseriu no mercado de um artista que alega admirar".

Perenyi se mostra disposto a explicar as técnicas necessárias para criar uma falsa tela de Buttersworth: as paisagens de fundo, geralmente de Nova York; o efeito da luz sobre as nuvens e a água, refletindo a influência dos pintores luministas. "O mais difícil de emular é o modo como ele pintava a água", disse o falsificador. "Buttersworth não usava a técnica desenvolvida por artistas britânicos para pintar ondas e água. Ele enrola ou torce o pincel com os dedos enquanto o puxa pela tela, obtendo faixas iluminadas." Perenyi disse que o estudo detalhado da obra de Buttersworth e a prática constante o colocam em pé de igualdade com o mestre.

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