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Cresce o conflito envolvendo a exploração de petróleo no lago Edward, que é parte do Parque Nacional do Virunga, habitat de gorilas e leões | Fotos: Uriel Sinai/The New York Times
Cresce o conflito envolvendo a exploração de petróleo no lago Edward, que é parte do Parque Nacional do Virunga, habitat de gorilas e leões| Foto: Fotos: Uriel Sinai/The New York Times

Os distúrbios começaram quando uma empresa britânica apareceu neste espetacular parque nacional para prospectar petróleo. Os moradores que se opuseram ao projeto foram espancados por soldados. Um funcionário do parque foi sequestrado e torturado após tentar impedir a companhia petrolífera, chamada Soco International, de construir uma torre de telefonia celular dentro da reserva. Um diretor do Virunga, um príncipe belga, foi baleado e quase morreu horas depois de entregar um relatório sobre as atividades da empresa de petróleo.

O conflito envolvendo a exploração de petróleo em parques africanos é um dilema comum. Novas tecnologias, como as que permitem prospecções mais profundas, resultaram em recentes descobertas energéticas no leste da África. Com isso, as companhias petrolíferas vêm se instalando ao redor de vários parques nacionais africanos. Entre eles, o Virunga, que abriga uma biodiversidade criticamente ameaçada que inclui os últimos espécimes dos colossais gorilas das montanhas.

Mas o "desenvolvimento econômico" é mais do que um simples jargão da moda por aqui.

As pessoas da República Democrática do Congo, da Tanzânia, do norte do Quênia, de Uganda e de Moçambique —lugares onde houve recentes descobertas de gás e petróleo— estão entre as mais pobres do mundo. Os governos africanos se dizem na obrigação moral de buscar qualquer coisa que possa tirar seus países da extrema pobreza.

Os ambientalistas prometeram que o limite para isso seria o Virunga, o mais antigo parque nacional da África e Patrimônio Mundial da Unesco. A ONG ambientalista WWF arregimentou centenas de milhares de apoiadores em uma campanha global. Então, em junho, anunciou que a empresa petrolífera recuara.

Só um problema: talvez não seja verdade. O presidente da empresa, Rui de Sousa, disse na assembleia anual da Soco que a empresa não tinha se retirado do parque.

O Virunga é considerado um dos pedaços do planeta com maior biodiversidade. Suas savanas de gramíneas amarelas, imponentes vulcões com lava borbulhante, selvas, pântanos e florestas imersas em nuvens constituem um mundo extraordinário para gorilas, elefantes, leões e chimpanzés.

Além disso, o lago Edward, onde supostamente fica o petróleo no Virunga, é parte das nascentes do Nilo. Um vazamento de petróleo ali poderia contaminar a água da qual dezenas de milhões ou mesmo centenas de milhões de pessoas dependem. "Qualquer toxina daqui poderia fluir até o Mediterrâneo", disse Emmanuel de Merode, diretor do Virunga. "Isso poderia chegar até a Espanha."

De Merode rotineiramente confronta rebeldes, caçadores e outros bandidos que se escondem no Virunga, na fronteira com Ruanda e Uganda, epicentro de várias guerras recentes.

Em abril, ele voltava de carro da cidade congolesa de Goma, onde havia acabado de entregar um relatório confidencial a promotores públicos sobre supostas atividades petrolíferas ilegais no Virunga, quando um grupo de homens fardados saiu dos arbustos e apontou seus rifles. "Você já foi baleado?", perguntou De Merode, descrevendo a emboscada. "É como perder o fôlego. Mas não derruba, como nos filmes."

Acredita-se que os pistoleiros fossem soldados do governo agindo por conta própria.

A Casa de Merode é uma família da nobreza belga. Emmanuel de Merode, 44, nasceu príncipe, e suas duas filhas, que vivem no Quênia, são princesas. Ele passa a maior parte do tempo no Congo, em uma tenda montada numa escarpa, e ganha US$ 800 por mês do governo congolês. "Vou continuar fazendo o que venho fazendo", disse ele, "só que um pouco mais". Mas pode ser necessário muito mais. Os ambientalistas sabem como os limites das áreas protegidas podem ser maleáveis.

A Reserva Animal Selous, também Patrimônio Mundial da Unesco, na vizinha Tanzânia, é uma das maiores áreas protegidas que restam na África. Ali também foram descobertas grandes jazidas de urânio.

Em 2012, o governo da Tanzânia convenceu o Comitê do Patrimônio Mundial, da Unesco, a modificar os limites da reserva para que a área com urânio ficasse do lado de fora e pudesse ser explorada por mineradoras. Os observadores nas deliberações disseram que alguns membros da comissão demonstraram preocupações ambientais, mas não queriam passar a imagem de que desejavam manter os africanos na pobreza —ou que valorizavam mais os animais que os humanos.

Muitos preveem que algo semelhante está por vir no Virunga.

"Esta não é apenas a batalha pelo mais antigo parque nacional da África, é também a batalha pela manutenção da Convenção do Patrimônio Mundial", disse Guy Debonnet, que já trabalhou para o Centro do Patrimônio Mundial da Unesco.

Em junho, a Soco firmou uma declaração conjunta com a WWF prometendo só realizar perfurações no Virunga se "a Unesco e o governo da República Democrática do Congo concordarem que tais atividades não são incompatíveis com o status de Patrimônio Mundial". A Soco também disse que não iria prejudicar zonas de transição adjacentes.

Mas executivos da WWF agora admitem que a batalha está longe do final. A Soco ainda não abriu mão dos seus alvarás de operação nem se comprometeu a se retirar do parque. "Eles estão deixando a porta aberta", disse Zach Abraham, da WWF. Ainda assim, afirmou, "há tantas derrotas em todo o planeta que, se não tirarmos um momento para comemorar as conquistas, perdemos uma oportunidade importante".

"É preciso lembrar ao público que essas são lutas que vale a pena travar", disse ele. "O Virunga é um dos lugares mais incrivelmente belos do mundo."

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