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Os alunos se ajoelham em um círculo no jardim de infância cristão perto das praias do Mar do Sul da China, e uma menina de 6 anos de idade com tranças lê um capítulo da Bíblia infantil: "Sepuluh hukum dari Alllah" — Os dez mandamentos de Deus.

Tecnicamente, ela infringiu a lei.

De acordo com uma série de regras e decisões do governo feitas por conselhos islâmicos da Malásia, o uso da palavra Alá no idioma malaio — Deus — é reservado para os muçulmanos. Bíblias em malaio são proibidas em todos os lugares, exceto dentro de igrejas. Regulamentos estaduais proíbem o uso de uma lista de palavras, inclusive Alá, em qualquer contexto não muçulmano.

"Honestamente, acho que não faz sentido", disse Belinda Buntot, a professora do jardim de infância em Bornéu. "Claro que usamos Alá. Não podemos ensinar as crianças sem isso".

O Islã é a religião oficial da Malásia, e os muçulmanos são regidos pela sharia, apesar de cristãos, hindus e budistas formarem minorias consideráveis. O governo procura cultivar a imagem de estado islâmico moderno e moderado, onde 60 por cento da população é muçulmana e as minorias vivem em harmonia.

Mas os cristãos, que compõem 10 por cento da população, dizem que a proibição do uso da palavra Alá é um dos muitos sinais de uma política cada vez mais intolerante.

Recentemente, autoridades religiosas proibiram muçulmanos de participar da celebração do Dia das Bruxas e repreendeu-os por criarem cães, que autoridades do estado islâmico veem como impuros.

Zainah Anwar, fundadora do Irmãs no Islã, um grupo de direitos femininos, descreve um "mergulho em um ramo puritano, extremista e intolerante do Islã".

"O islamismo moderado da Malásia é apresentado apenas para consumo ocidental," ela escreveu no jornal The Star.

O Departamento de Desenvolvimento Islâmico argumenta que a palavra Alá não é um nome genérico para Deus, mas mostra "a religião da pessoa que a usa".

"Essa é a razão pela qual seu uso deve ser monitorado e preservado pelo governo para garantir que ninguém se confunda com o nome do Exaltado" diz o Departamento em seu site.

A regra foi confirmada pelos tribunais superiores do país, mas saber se ela é cumprida é mais difícil.

Estudiosos islâmicos dizem que a proibição do uso da palavra Alá por não muçulmanos é algo exclusivo da Malásia.

"Você não encontra essa ideia em nenhum discurso islâmico anterior", disse Yahya Cholil Staquf, clérigo da Nahdlatul Ulama, a maior organização islâmica na Indonésia.

As minorias precisam de clareza sobre a liberdade de religião no país, disse o reverendo Jerry Dusing, presidente de uma grande denominação cristã evangélica, a Sidang Injil Borneu.

"Nenhuma lei pode proibir alguém da prática razoável de sua fé. Por qual motivo eles proíbem o uso de palavras?", ele disse.

A Igreja Católica se envolveu no julgamento de um caso da proibição da palavra Alá depois que o governo malaio ordenou que sua newsletter, The Herald, suspendesse o uso do termo.

Quando um juiz decidiu em favor da igreja em 2009, 10 igrejas foram vandalizadas, uma delas foi incendiada. Um Tribunal de Apelações anulou a decisão no ano passado.

"Concordamos que a palavra Alá não é parte integrante da fé e da prática cristã", disse o juiz Mohamed Apandi Ali.

Uma apelação foi rejeitada, mas os líderes da igreja estão tentando conseguir uma revisão da decisão.

Muçulmanos liberais, que, como muitos cristãos dizem estar preocupados com o que veem como o poder crescente de forças conservadoras, percebem outros motivos que não os teológicos por trás da proibição.

Na política baseado em etnia da Malásia, há o interesse de políticos da coalizão governamental em divulgar ameaças ao Islã, disse Wan Saiful Wan Jan, diretor-executivo do Instituto para Democracia e Assuntos Econômicos, organização de pesquisa em Kuala Lumpur.

A Organização Nacional dos Malaios Unidos, UMNO na sigla em inglês, é o partido dominante da coalizão no poder há 57 anos, mas o grupo quase foi derrubado por uma coalizão multiétnica de partidos no ano passado.

"Quanto mais os muçulmanos se sentem ameaçados, mais a UMNO consegue manter sua hegemonia política", disse Wan Saiful.

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