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A Praça Durbar em Katmandu, no Nepal, após o terremoto de abril. Poderia ter sido muito pior se a cidade tivesse arranha-céus | Daniel Berehulak/The New York Times
A Praça Durbar em Katmandu, no Nepal, após o terremoto de abril. Poderia ter sido muito pior se a cidade tivesse arranha-céus| Foto: Daniel Berehulak/The New York Times

Em abril, quando começou a correr a notícia de que um forte terremoto tinha atingido o Nepal nas proximidades da capital, Katmandu, os especialistas se prepararam para um número de vítimas semelhante ao de 2005 —quando um abalo menor sacudiu uma área menos populosa da região da Caxemira deixando 85 mil mortos.

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Nos dias seguintes, as mortes decorrentes do terremoto de magnitude 7,8 chegaram a 9.000.

“Foi um número modesto se considerarmos a densidade populacional da periferia de Katmandu e a vulnerabilidade das construções. Agora dá para entender por que os edifícios foram erguidos assim”, diz Jean-Philippe Avouac, professor de Geologia do Instituto de Tecnologia da Califórnia e da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, além de autor de dois artigos sobre o abalo no Nepal.

O fato é que o número relativamente baixo de vítimas não se deu nem por sorte nem pela falta de firmeza das construções nepalesas.

Na verdade, os 40 segundos do abalo foram bem diferentes do que se esperava, do que se sabia de ocasiões anteriores e da geologia da região. Em vez de oscilações rápidas, de um segundo ou menos, que acaba com as construções mais baixas, o chão tremeu para frente e para trás a cada quatro ou cinco segundos, em um ritmo muito mais perigoso para estruturas mais altas.

Isso explica por que uma torre de observação de 60 metros –que sobreviveu a uma ocorrência mais forte, em 1934—ruiu enquanto outros prédios, mais frágeis, mas mais baixos, continuaram em pé.

A descoberta aumenta a preocupação com o que um evento semelhante pode representar para uma cidade com edifícios altos.

Em um artigo para a “Nature Geoscience”, Avouac descreveu como usou registros sismológicos e imagens de radar para analisar a ruptura no Nepal.

A Índia está se chocando com o resto da Ásia a um ritmo de 5 cm/ano. O problema é que as placas tectônicas estão emperradas e não deslizam com suavidade. “Há pelo menos vinte anos, a falha se mostra completamente travada”, informa ele.

Quando a pressão se torna excessiva, ela cede, ocasionando assim o terremoto. Em 24 de abril, ele começou a noroeste de Katmandu e se espalhou para o leste, a 2,7 km/s, rompendo 140 km da falha.

“O fato é que esse abalo é considerado relativamente pequeno. O estresse continua ocorrendo em outras áreas ao longo da falha, principalmente na região oeste do Nepal, onde está travada desde o terremoto de 8,5 pontos de 1505. É com essa parte que me preocupo.”

Em um segundo artigo, publicado na revista científica “Science”, Avouac e seus colegas mostraram que uma faixa de 19 km de largura e 140 km de comprimento, onde a falha se encaixou, rompeu suavemente, gerando ondas mais longas.

Para Susan E. Hough, sismóloga do Serviço Geológico dos EUA, a nova descoberta é “importante no desenrolar dos fatos”, mas acrescenta que outros fatores também foram determinantes.

O formato do vale onde se encontra Katmandu, parcialmente coberto de sedimentos, tende a ampliar o abalo com um período de um segundo, explica ela. No caso do terremoto de 7,8, o tremor foi tão forte que alterou o comportamento do depósito.

“Para fazer a analogia de seus efeitos, costumamos comparar a uma tigela de gelatina, mas seria melhor pensar numa caixa de areia”, explica. “O abalo mais forte não transmite a energia da mesma forma que o mais suave. Ele basicamente se comporta como se fosse um material diferente.”

O que os cientistas não sabem é se o padrão de longo período é típico apenas ao longo do Himalaia ou se outras falhas geológicas mais tranquilas podem gerá-los. “Em Los Angeles, por exemplo, cinco segundos causariam estragos terríveis”, conclui Hough.

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