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O presidente da Colômbia, Gustavo Petro e o ditador venezuelano Nicolás Maduro, na ponte Atanasio Girardot, na fronteira entre a Colômbia e a Venezuela, em fevereiro, durante o fechamento de um acordo comercial entre os dois países
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro e o ditador venezuelano Nicolás Maduro, na ponte Atanasio Girardot, na fronteira entre a Colômbia e a Venezuela, em fevereiro, durante o fechamento de um acordo comercial entre os dois países| Foto: EFE/Mário Caicedo

Com a chegada de Gustavo Petro à presidência da Colômbia em agosto de 2022, iniciou-se uma nova era nas relações bilaterais entre Colômbia e Venezuela. Uma mudança drástica, já que o antecessor de Petro, Iván Duque, concentrou seus esforços em ignorar o governo de Nicolás Maduro, liderando uma iniciativa de "cerco diplomático" na região e reconhecendo Juan Guaidó como líder do governo da Venezuela perante o mundo.

Pouco depois de Petro se tornar presidente, seus primeiros esforços se concentraram em reatar as relações com a Venezuela, reconhecendo Nicolás Maduro como um interlocutor legítimo e, inclusive, nomeando um dos homens que apoiaram fortemente sua campanha presidencial, Armando Benedetti, como embaixador em Caracas.

Quanto às relações entre os países, vários temas estão em pauta: a segurança na fronteira e o combate às guerrilhas e outros grupos armados ilegais na região; a gestão da empresa de fertilizantes Monómeros Colombo-Venezolanos, importante para as apostas políticas do Petro; e, por fim, as negociações entre a oposição venezuelana e o governo Maduro, nas quais a Colômbia atua como país aliado.

Segurança

Desde o início do século, as relações entre Colômbia e Venezuela foram marcadas por rupturas e aproximações. No governo de Álvaro Uribe, houve um primeiro desentendimento com o governo de Hugo Chávez, devido a divergências sobre a mediação venezuelana para a libertação de alguns seqüestrados pelas Farc. Com a chegada de Juan Manuel Santos, as boas relações entre os dois países foram retomadas; Santos passou a se referir a Chávez como "meu novo melhor amigo". Posteriormente, na presidência de Iván Duque, houve novo revés, com a ruptura de relações e até de liderança, por parte do governo colombiano, para que Juan Guaidó fosse reconhecido como presidente da Venezuela no cenário internacional. Recentemente, Petro retomou as relações com a Venezuela e quer trabalhar com Nicolás Maduro para favorecer a economia de ambos os países.

No que diz respeito à segurança, entre a Colômbia e a Venezuela existe uma fronteira porosa, por onde transitam grupos armados ilegais, como as Farc e o ELN anteriormente, e mais recentemente quadrilhas criminosas formadas por desmobilizados das Autodefesas Unidas da Colômbia , como "Los Rastrojos". No âmbito internacional, alguns governos denunciaram a presença de acampamentos desses grupos em território venezuelano ou o controle que exercem sobre rotas clandestinas de comércio e até mesmo o tráfico de pessoas que entram na Colômbia de forma irregular.

Por outro lado, a Venezuela tem sido aliada dos governos colombianos que têm tentado dialogar com as guerrilhas para pôr fim ao conflito: foi país fiador nas negociações de paz com as Farc em Havana e ainda o é nas que estão em andamento com o ELN. De fato, no início de 2023, houve uma reunião entre o governo colombiano e o ELN na Venezuela para tratar de alguns eventos que causaram o rompimento da trégua e impediram um novo ciclo de diálogos. Também foi recentemente anunciado o compromisso de tentar esforços conjuntos entre os exércitos colombiano e venezuelano para combater facções ou dissidentes do ELN que não aceitam o pacto de cessar-fogo.

Disputas

A empresa colombiana-venezuelana Monómeros foi criada no final dos anos 1960 com a participação de entidades estatais dos dois países, incluindo a Ecopetrol (empresa estatal de hidrocarbonetos da Colômbia) e o Instituto Petroquímico da Venezuela. Seu objetivo está ligado ao mercado de fertilizantes, principalmente após assumir a operação da Cargill na Colômbia. Porém, em 2006, a Colômbia vendeu suas ações para a Venezuela, que acabou ficando com 100% ao comprar a participação de outro investidor holandês.

Em 2019, com a ruptura entre os governos colombiano e venezuelano, o então presidente da Colômbia, Iván Duque, reconheceu Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela, o que lhe deu o controle da Monómeros, empresa registrada na Colômbia. Assim, a oposição venezuelana – os partidos Acción Democrática (de Henrique Capriles) e Voluntad Popular (de Juan Guaidó e Leopoldo López) – conseguiram nomear os membros do conselho de administração da empresa, em vez dos indicados pelo governo Maduro.

Em visita oficial aos Estados Unidos, Gustavo Petro defendeu o levantamento progressivo das sanções contra a Venezuela

Com a mudança de presidente na Colômbia, o controle da Monómeros voltou para Maduro, e foram anunciadas investigações contra Juan Guaidó e a diretoria nomeada quando a empresa estava sob seu mandato, por supostas irregularidades na gestão. Do lado colombiano, algumas autoridades, inclusive o embaixador na Venezuela, afirmaram que o governo pretende recomprar a empresa, principalmente para atender a demanda interna de fertilizantes e como parte importante do discurso do Petro sobre soberania alimentar e estímulo à produção agrícola. Mas é preciso esperar que fique mais claro o panorama das sanções dos Estados Unidos contra o governo Maduro, que penalizam os investimentos na Venezuela, e que haja uma oferta firme pelo valor da empresa. Também resta decidir se o comprador seria o governo colombiano ou uma figura mista público-privada.

Diálogo com a oposição

No dia 25 de abril, foi realizada em Bogotá uma cúpula de países aliados ao processo de diálogo entre o governo venezuelano e os opositores, a fim de reavivar os encontros que ambas as partes vinham tendo no México. As conversas buscam, entre outras coisas, garantir que as próximas eleições presidenciais na Venezuela, em 2024, sejam livres e transparentes. Nem membros do governo venezuelano nem da oposição compareceram a esta reunião, mas sim enviados dos Estados Unidos e de outros países garantidores do processo, como a Noruega. Lá, foi assumido o compromisso de informar tanto a oposição quanto o governo venezuelano sobre os acordos alcançados e continuar o processo de retomada dos diálogos no México.

Chama a atenção que dias antes da cúpula, o presidente colombiano esteve nos Estados Unidos em visita oficial, na qual defendeu o levantamento progressivo das sanções contra a Venezuela caso cumpra garantias eleitorais. Da mesma forma, os Estados Unidos retomaram suas relações com a Venezuela desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, aliviaram algumas sanções e desbloquearam algumas contas, com o compromisso de promover o diálogo.

Um dos acontecimentos que causaram alvoroço na cúpula de Bogotá foi a chegada ao país do oposicionista Juan Guaidó, que se queixou de não ter sido convidado ou levado em consideração. Guaidó foi enviado de avião para Miami, depois que Gustavo Petro disse que a entrada do opositor venezuelano na Colômbia foi realizada de forma irregular - ele não carimbou o passaporte - e que sua viagem àquele país havia sido combinada com o governo dos Estados Unidos.

O que vem a seguir?

A atuação internacional de Gustavo Petro tem se concentrado em mostrá-lo como um líder sul-americano, que busca a união dos países andinos e que, por meio de um discurso de cuidado com o planeta, quer destacar a importância da Amazônia e de outras florestas para a mitigação das mudanças climáticas. Da mesma forma, procurou reativar organizações e alianças supranacionais como a Comunidade Andina (CAN), aproveitando que há novamente uma maioria de países com governos de esquerda na região.

A atuação internacional de Gustavo Petro tem se concentrado em mostrá-lo como um líder da América do Sul, que busca a união dos países andinos

Seus interesses nas relações com a Venezuela buscam resolver dois grandes problemas que a Colômbia tem: a presença de migrantes venezuelanos em seu território e a possível compra da empresa Monómeros. Quanto à primeira, ele tem uma preocupação conjunta com os Estados Unidos, já que o país norte-americano quer impedir que a diáspora venezuelana se junte às caravanas de migrantes da América Central. Quanto à empresa Monómeros, a possível compra ainda está pendente da resolução da situação das sanções dos Estados Unidos contra a Venezuela.

Dessa forma, a diplomacia e a boa vizinhança buscam frutificar os interesses colombianos. O restabelecimento das relações entre os dois países é um grande passo inicial, pois permite ações diferenciadas. Também deve ser entendido que agora o petróleo da Venezuela se torna uma opção para os Estados Unidos devido aos efeitos da guerra promovida pela Rússia, então sanções e bloqueios podem ser relaxados para reabrir essa rota comercial.

Os esforços da Colômbia, dos Estados Unidos e da comunidade internacional, visando a transparência e as garantias das eleições presidenciais venezuelanas de 2024, seguirão. Enquanto isso, estão no meio do caminho a possível reeleição de Joe Biden e um governo de Gustavo Petro, que caminha para a conclusão do primeiro dos quatro anos de seu mandato.

© 2023 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.

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