Confrontos desta segunda-feira (14) na fronteira entre Faixa de Gaza e Israel resultaram na morte de 59 palestinos| Foto: MAHMUD HAMSAFP

No dia que marca os 70 anos em que foram expulsos do território onde acabara de ser criado Israel, os palestinos choram uma nova catástrofe: nesta terça-feira (15) corpos de 61 pessoas serão enterrados após os conflitos entre militares israelenses e palestinos na fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza nesta segunda-feira (14). Entre as vítimas, um bebê de oito meses, que morreu após inalar gás lacrimogênio na principal área do protesto, e sete menores de 18 anos, segundo informou o Ministério da Saúde em Gaza.

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Depois deste que foi o dia mais violento em Gaza desde a guerra contra Israel em 2014, a tensão tende a diminuir - pelo menos nesta terça-feira - já que o comitê organizador dos protestos, que estão sendo chamados de “Marcha do Retorno”, pediu um dia de luto. 

 

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As Nações Unidas disseram que "os responsáveis por violações de direitos humanos ultrajantes devem ser responsabilizados", e a Human Rights Watch descreveu os assassinatos como um "banho de sangue". O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, condenou um "massacre" contínuo do povo palestino. A Turquia e a África do Sul anunciaram que estavam retirando seus embaixadores de Israel. 

A administração Trump, no entanto, culpou o Hamas pela perda de vidas. "A responsabilidade por essas mortes trágicas está diretamente ligada ao Hamas", disse o secretário de imprensa da Casa Branca, Raj Shah, a repórteres. "Israel tem o direito de se defender". 

O pior dia dos últimos anos

Nesta segunda-feira, dezenas de milhares de palestinos se reuniram nos limites do território que divide a Faixa de Gaza e Israel por volta do meio da manhã. Muitos foram protestar pacificamente levando seus filhos e carregando bandeiras. Barracas de comida vendiam lanches e uma música tocava. 

Mas logo no início da movimentação já era possível perceber que os protestos seriam mais violentos do que nas semanas anteriores. Alguns jovens levaram facas e cortadores de cerca. Em um ponto de encontro a leste da Cidade de Gaza, os organizadores munidos de alto falantes disseram aos manifestantes que soldados israelenses estavam fugindo de suas posições, embora eles estivessem as reforçando, numa tentativa de instigá-los a atravessarem os bloqueios da fronteira.

Enquanto alguns disseram que iriam cumprir as chamadas oficiais para manter as manifestações pacíficas, outros falaram sobre seu entusiasmo em invadir Israel e causar estragos.  O Hamas, grupo terrorista que domina o território da Faixa de Gaza, deu o seu apoio às manifestações, estimulando as pessoas em torno de um apelo para protestar contra a perda de casas e aldeias palestinianas quando Israel foi formado em 1948.

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Os franco-atiradores israelenses estavam determinados a não permitir uma brecha sequer para a invasão dos palestinos em seu território. Tiros foram disparados e bombas de gás lacrimogênio foram lançadas na direção dos manifestantes. Ambulâncias palestinas logo começaram a gritar de um lado para o outro da cerca enquanto tiros eram disparados. Nenhum soldado israelense foi ferido, e Israel foi criticado por uso excessivo da força.

A grande maioria dos manifestantes estava desarmada, mas perto de uma área de estacionamento, um homem pegou uma AK-47 e mirou em um drone israelense que estava lançando panfletos. Ele disparou uma rajada de tiros e derrubou o equipamento. Mais tarde, mais tiros foram ouvidos enquanto as facções palestinas discutiam quem ficaria com o drone abatido, segundo disseram pessoas que estavam presentes no local. 

Os militares israelenses disseram que pelo menos 40 mil pessoas protestaram em 13 lugares ao longo da cerca - mais do que o dobro dos locais nas últimas semanas de protestos.  "Motins especialmente violentos" ocorreram perto da cidade de Rafah, no sul de Gaza, onde três pessoas foram mortas depois de tentar plantar um explosivo, segundo os militares.

Quando o número de mortos chegou a 50, os alto-falantes pediram que os manifestantes deixassem a área da fronteira.

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O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, foi chamado para o Cairo na noite de domingo em uma aparente tentativa de persuadir o grupo militante a sufocar as manifestações. Nenhum acordo foi feito, disse o porta-voz do Hamas, Taher al-Nounou, enquanto participava dos protestos. “Nosso povo está mostrando sua solidariedade com Jerusalém hoje e mostrando sua raiva com a administração dos EUA”. 

As manifestações provaram ser uma distração bem-vinda para o Hamas, que encontraram um canal para reorientar a frustração contra o grupo terrorista em Gaza em forma de raiva contra Israel.

 Em uma entrevista coletiva à noite, o alto funcionário do Hamas, Khalil al-Hayaa, disse que os protestos continuariam.

Hospitais

A violência foi um contraste chocante com a cerimônia de abertura da Embaixada dos EUA em Jerusalém, que atraiu a primeira filha Ivanka Trump e seu marido, o assessor de Trump, Jared Kushner.

No hospital de al-Shifaa, na cidade de Gaza, os médicos disseram que estavam sobrecarregados. 

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"Não sei como vamos conseguir", disse Ayman al-Sahbani, chefe do departamento de emergência, enquanto as famílias se empurravam para ver parentes feridos. "Quanto tempo isso pode durar? Quanto tempo?" 

"Chegamos ao ponto crítico agora", disse ele. "Muitas pessoas precisam de operações em breve, mas a sala de operação está cheia”.

Pelo menos 110 moradores de Gaza foram mortos nas últimas seis semanas, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza. 

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