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Os americanos raramente são heróis no mundo árabe, mas, conforme se desenrolam as celebrações ininterruptas aqui na capital da Líbia, eu me deparo com pessoas comuns que, após descobrirem minha origem, repetem fervorosamente variações da mesma expressão: "Obrigado, América!"

Enquanto eu caminhava pela Praça Verde (agora rebatizada como Praça dos Mártires) e voltava ao hotel na manhã de ontem, um carro coberto com uma bandeira dos rebeldes líbios parou e me ofereceu uma carona. "Eu só quero que você se sinta bem-vindo aqui", explicou o motorista, Sufian al-Gariani, um vendedor de 21 anos. Ele se iluminou quando ouviu de onde eu vinha e declarou: "Obrigado, americanos. Obrigado, presidente Obama".

O trabalho árduo na Líbia está só começando, e será um desafio hercúleo criar união entre divisões tribais e nutrir a democracia numa nação em que toda a sociedade civil foi esmigalhada. O experimento líbio ainda pode falhar. No entanto, aproveitemos também este momento histórico: essa foi uma rara intervenção militar com motivações humanitárias e que obteve sucesso. Pelo menos até o momento.

O presidente Obama assumiu um enorme risco político, evitou um massacre e ajudou a derrubar um regime odioso. Para mim, a lição não é a de que devamos ir entrando também já na Síria ou no Iêmen – eu não acho que devemos – mas, em raras ocasiões, a força militar pode dar avanço aos direitos humanos. A Líbia até então tem sido um modelo de tal intervenção.

Eu fui dirigindo de Trípoli para a Tunísia, e as estradas ainda não estão seguras em alguns pontos. Rebeldes nervosos – às vezes soldados infantis – operam frequentes pontos de controle, e há longas filas para gasolina.

No entanto, houve um grande progresso nos últimos poucos dias. Mais estradas e lojas estão abrindo, e Trípoli agora tem a sensação de estar razoavelmente segura. A grande ameaça no momento não vem de milícias de Kadafi, mas de rebeldes disparando armas automáticas para cima em comemoração.

O mais chocante é que quase não houve pilhagem, e pouca retaliação aparente contra as famílias de lealistas ao coronel Muamar Kadafi. As pessoas pegaram lançadores de granadas dos arsenais, mas não tocaram as lojas ou residências (com raras exceções, como as dos lares da família Kadafi).

Alguns líbios me disseram desconfiar, a princípio, da intervenção americana, temendo que pudesse transformar a Líbia em algo como o Iraque, devastado pela guerra. E Haithem Ahmed, um aluno de 24 anos com ferimentos de bala no estômago e no braço, discorda que a intervenção tenha sido primariamente humanitária: "Eles não o fizeram por nós", disse. "Eles o fizeram pelo petróleo".

Mas, após retomar o fôlego, ele acrescentou: "Eu amo muito a América. É a terra da liberdade". O entusiasmo para com os Estados Unidos parece ter substituído as dúvidas iniciais. A ele se soma a enorme apreciação de outros apoiadores estrangeiros, como o Catar, a Tunísia, a França e a Grã-Bretanha.

Nós, os americanos, vimos muitas intervenções militares darem errado – ainda temos marcas do Vietnã e do Iraque – e a precaução é valiosa, pois o fim dessa história líbia ainda está por ser escrita. Não podemos evitar todas as atrocidades, e há argumentos legítimos a favor de investirmos mais em casa do que no estrangeiro. Em qualquer caso, nosso uso da força será inevitavelmente inconsistente.

No entanto, para mim, a Líbia é um lembrete de que às vezes é possível utilizar ferramentas militares para dar avanço a causas humanitárias. Este foi um caso excepcional em que tivemos apoio internacional e local. A grande diferença em relação à Síria e ao Iêmen é que os líbios predominantemente favoreceram nossa intervenção militar, o que não é caso dos sírios e dos iemenitas.

A questão da intervenção humanitária é uma das mais complicadas em se tratando de política estrangeira, e ela virá à tona de novo. Na próxima vez, lembremos uma lição da Líbia: é melhor salvar algumas vidas inconsistentemente do que consistentemente não salvar nenhuma.

Tradução: Adriano Scandolara

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