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Lima – Envolvidos numa disputa entre dois candidatos com alto grau de rejeição, os peruanos vão hoje às urnas para escolher o sucessor do presidente Alejandro Toledo. As pesquisas de intenção de voto dão vantagem para o ex-presidente Alan García, do Partido Aprista Peruano, sucessor da histórica Aliança Popular Revolucionária Americana (Apra). O nacionalista Ollanta Humala, da coalizão União pelo Peru, no entanto, mantém a esperança de chegar à presidência, embalado por sua força no interior do país.

Humala foi o candidato mais votado no primeiro turno de 9 de abril, com 30,6% dos votos. García superou a terceira colocada, a conservadora Lourdes Flores, por apenas 0,5% dos votos.

Vença quem vencer, terá uma tarefa árdua pela frente: governar um país cuja economia cresce em média 6% por ano, mas não consegue melhorar significativamente seus indicadores sociais nem reduzir a endêmica miséria. Quase a metade da população está abaixo da linha de pobreza e o desemprego e subemprego atingem mais de 60% dos peruanos.

O desafio se amplia por causa da frágil base legislativa dos dois candidatos. Humala contaria com apenas 46 dos 120 deputados do Congresso; García, com 36. "Para formar sua base parlamentar, o presidente escolhido terá de fazer concessões aos congressistas eleitos pela coalizão de Lourdes (16) e pelo fujimorismo (13)", diz Juan Paredes, analista e editor de Opinião do jornal de Lima El Comercio.

O dado mais desanimador, na opinião dos analistas políticos peruanos, foi que a campanha eleitoral não trouxe nenhuma proposta concreta para a solução dos problemas do país, mas sim uma intensa troca de insultos e acusações. Em lugar da apresentação de projetos de desenvolvimento, o centro dos debates foi ocupado pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, que declarou abertamente seu apoio a Humala e foi acusado de ingerência nos assuntos internos do Peru.

"Ao entrar no jogo de insultos com Toledo e García, Chávez trouxe mais prejuízos do que lucros para a campanha de Humala", declara ao Grupo Estado o professor de ciências políticas da Universidade San Martín, Marcelo Calvo. "Chávez é visto no Peru como alguém que desafia a soberania peruana e pretende usar o país para ampliar sua área de influência na região."

Em meio ao tiroteio verbal, Venezuela e Peru chamaram de volta seus embaixadores em Lima e Caracas. Humala chegou a pedir publicamente a Chávez para frear seus ataques contra Toledo e García, mas nem isso calou o venezuelano. Em meio à série de denúncias da campanha, assessores do Apra afirmaram que Humala recebeu dinheiro da Venezuela para financiar seus gastos eleitorais.

"Neste 4 de junho, não se suicide", diz a capa da revista semanal Caretas, em crítica aos dois candidatos. "Desgraçadamente, os peruanos estão diante de uma escolha entre um candidato que assegura não ser o mesmo de 20 anos atrás e outro que garante não ser o mesmo de dez semanas atrás", ironiza, em entrevista para a Caretas, o ex-embaixador dos EUA em Lima, Dennis Jett. O diplomata se refere ao desastroso governo de García, entre 1985 e 1990 e ao discurso "revolucionário" de Humala, antes de moderar-se para tentar conquistar votos do centro.

A violência também esteve presente na campanha. Um choque entre militantes apristas e nacionalistas em Cusco deixou como saldo três baleados, há dez dias. Os partidários de Humala também acusam os de Alan de terem espancado um de seus companheiros na madrugada de quinta-feira em Ayacucho, no centro-sul. Os incidentes causam arrepios na população peruana, que ainda tem na memória a campanha de terror do grupo maoísta Sendero Luminoso – responsável por mais de 60 mil mortes nos anos 80, segundo uma comissão oficial.

Para as eleições de hoje, mais de 80 mil policiais e soldados foram mobilizados para garantir a segurança em todas as regiões do país. Os dois candidatos se acusaram de planos para tumultuar a eleição no interior. Os rumores de que grupos violentos podem tentar sabotar a votação foram alimentados até mesmo pelo presidente Toledo. No domingo passado, Toledo advertiu para a possível presença de "agitadores pagos" em algumas regiões do país, insinuando a participação de agentes de inteligência da Venezuela no complô de desestabilização.

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