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O populismo está longe de sair de cena nos Estados Unidos
| Foto: Pixabay

Donald Trump saiu de cena, por enquanto. Parece que o populismo foi embora com ele? Na verdade não.

A mais recente revolta é de pessoas negociando ações e postando no Reddit. Eles estão apostando fortemente contra os investidores de Wall Street que fazem vendas a descoberto e com isso forçando os fundos hedge a chamar valores de cobertura ruinosamente caros. Ainda, há o constante ceticismo em relação às orientações de saúde pública e à pandemia, que logo se transformará em ceticismo ou simples desinteresse pelas vacinas que se tornaram o principal requisito para acabar com lockdowns e restrições.

O momento parece de maré alta para o sentimento populista. A pandemia de Covid-19 acendeu a imaginação populista. O súbito colapso de nossos padrões de comportamento estabelecidos e as drásticas - antes impensáveis ​​- imposições sobre empresas e indivíduos derrubaram o senso de normalidade das pessoas. Talvez o mais importante, eles acabaram com nossa sensação de segurança. A própria doença tem sido fonte de medo. Mas mesmo aquelas pessoas que se recusaram a temer a Covid-19 foram sujeitas ao medo e ao pânico moral entre seus amigos sobre máscaras ou distanciamento social, ou às maquinações da liderança de elite na crise.

E as restrições forçaram todos a confiar cada vez mais nas mídias sociais, não apenas para socializar, mas também para aprender como navegar pelos perigos à sua frente - sejam os perigos percebidos de doença e morte, o colapso de seus negócios por causa da indiferença das autoridades de saúde, ou o microchip de Bill Gates.

No entanto, se o vírus for eliminado neste ano, a energia populista poderia diminuir substancialmente e a vida normal poderia retornar em uma corrida eufórica, enquanto todos voltamos correndo para os entretenimentos e rumamos para o pleno emprego mais uma vez. Os balanços do Fed podem estar uma bagunça, mas as ações estão em alta e os balanços das famílias nos indicam que os gastos e a ostentação estão a caminho.

Mas duvido que o populismo desapareça por muito tempo.

Primeiro, porque sempre há uma tendência populista na vida americana. Somos um povo que rotineiramente inventa novas religiões, curas charlatanescas e teorias estranhas. Nossa mídia moderna apenas torna isso mais visível. Mas o que está mais está impulsionando a energia populista hoje são os erros, a arrogância, a corrupção e a intransigência de nossos líderes.

O desmembramento contínuo de instituições tradicionais e a segmentação da imprensa em empresas que se concentram em servir uma base específica de clientes, em vez de servir "ao público", levaram a confiança na mídia a níveis historicamente baixos. Não é uma surpresa quando todos os meios de comunicação são vistos como uma fraude comercial, liderados por um bando de insiders que se auto-protegem. Os jornalistas estão se tornando os novos advogados - desprezados pelo público por servirem a si mesmos antes mesmo de seus clientes.

Na cultura de hoje, os políticos fracassados ​​nunca saem de cena por causa de uma vergonha humilhante. Eles nem mesmo raramente fazem trabalhos de caridade genuinamente por penitência. Em vez disso, eles são promovidos para cargos corporativos de diretoria, onde sua autoridade anterior é prostituída para seu benefício privado.

E em nossa cultura de negócios, as maiores corporações espremem lucros e exercem domínio ao prender funcionários e clientes em um emaranhado de regras de recursos humanos, além de termos de serviço destinados a nos confundir e, em última análise, nos desmoralizar.

As redes sociais são outra fonte de energia populista. E não apenas porque permitem que as pessoas respondam - ou atuem como se estivessem respondendo - às autoridades. As redes sociais facilitam muitos comentários impulsivos e desinibidos entre diferentes segmentos da sociedade, o que aumenta o rancor e a hostilidade mútuos.

Um vizinho chato é apenas um vizinho chato - mas nas redes sociais, ser um vizinho digital chato torna você um símbolo dos "outros caras" que estão estragando tudo. Os últimos quatro anos mostraram muita conciliação entre facções populistas e de elite, ou um aumento do desprezo e cinismo em relação a elas?

Tudo isso é exacerbado pela maneira óbvia como a mídia social pode literalmente desequilibrar as pessoas ao superestimular as partes do cérebro que dependem de sinais de contextos sociais para navegar pelo mundo.

O que reprime o populismo? Normalmente, há duas coisas que conseguem fazer isso. A mais desagradável delas é que os populistas elegem uma classe de liderança de companheiros populistas que destroem a economia, e então todo o projeto explode na cara deles, espalhando ao vento as energias e paixões populistas. A outra, geralmente melhor para o fim do populismo, surge quando a energia populista efetua uma transformação da elite, em parte fazendo substituições com novos membros e em parte induzindo os titulares a reformar seus métodos para sua própria sobrevivência.

Então, se queremos ver o declínio do populismo, precisamos que as pessoas se afastem de seus telefones, que estimulam nossos instintos de "lutar ou fugir", e invistam em relacionamentos do mundo real. Precisamos reparar os mecanismos de mobilidade social que os americanos identificam com a melhor tradição de nossa nação. A possibilidade genuína de ascender ou perecer na América aliviaria as tensões de classe.

E também precisamos que nossos líderes tenham um espírito mais genuinamente voltado ao público, até mesmo humilde, na maneira como exercem sua autoridade. Eles devem demonstrar falta de interesse próprio, bem como disposição para pagar um preço concreto pelos seus erros.

Mas, eu também não vejo nada disso acontecendo.

Portanto, é provável que a energia populista em nossa cultura só vá se espalhar e crescer. Vemos isso na política, na medicina, nos mercados financeiros e na cultura popular em geral - a cultura do "fã" é uma revolta populista contra a crítica profissional. Estamos apenas começando.

©2021 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês

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